Montar um PC gamer pode ser uma jornada empolgante, mas também desafiadora. Com tantos vídeos, fóruns e reviews disponíveis, é fácil se perder em meio a conselhos contraditórios.
Pior ainda: muitos desses conselhos são baseados em mitos ultrapassados ou interpretações equivocadas sobre como o hardware realmente funciona. Resultado? Gastos desnecessários, componentes mal aproveitados e sistemas desequilibrados.
Apesar do acesso à informação ter aumentado, muitos desses mitos ainda são disseminados, especialmente entre quem está montando o primeiro PC. Desde a escolha do processador até a quantidade de ventiladores no gabinete, há uma série de crenças que podem prejudicar o desempenho ou encarecer o setup sem necessidade.
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10 mitos sobre o hardware de PCs gamers que muitos ainda acreditam
A seguir, desmistificamos 10 das ideias mais comuns e equivocadas sobre hardware gamer. Entender esses pontos pode te ajudar a fazer escolhas mais inteligentes, economizar dinheiro e montar um PC realmente eficiente.
1. Mais núcleos sempre significa mais desempenho
É comum pensar que, quanto mais núcleos um processador tem, melhor ele será em qualquer tarefa – inclusive em jogos. Porém, o desempenho em jogos depende mais da qualidade dos núcleos (velocidade, instruções por ciclo e arquitetura) do que da quantidade. Muitos games atuais utilizam entre 4 e 8 núcleos de forma eficiente, e acima disso o ganho real costuma ser marginal.
Isso acontece porque os jogos nem sempre são programados para utilizar todos os núcleos disponíveis. Eles dependem de threads específicas e cargas que geralmente são mais sensíveis à frequência e latência do processador. Assim, um chip com menos núcleos, mas com clock mais alto e maior eficiência por núcleo, pode se sair melhor que um modelo com o dobro de núcleos, porém com clocks mais baixos.
Em outras palavras: mais núcleos são vantajosos para multitarefa, renderização, edição de vídeo e outras aplicações profissionais. Para jogos, o ideal é buscar um equilíbrio entre núcleos, clock e arquitetura moderna, como as linhas Ryzen 5 ou Intel Core i5 mais atuais.
2. Você precisa da GPU mais cara para jogar bem
A placa de vídeo é, sem dúvida, o componente mais importante para jogos. No entanto, isso não significa que você precisa da GPU mais cara e potente para ter uma boa experiência. Modelos intermediários, como uma RTX 3060 ou RX 6700 XT, oferecem ótimo desempenho em 1080p e até 1440p em muitos jogos, com gráficos no alto ou ultra.
Gastar com uma placa de vídeo topo de linha pode ser um desperdício se o restante do sistema não acompanhar – especialmente o processador e a memória RAM. Um processador fraco pode limitar o desempenho da GPU, criando o chamado “gargalo” (“bottleneck“), no qual a placa não consegue funcionar em sua capacidade máxima.
Além disso, é importante considerar o monitor. Se você joga em 1080p a 60Hz, não precisa de uma GPU que entrega 240 FPS em 4K. Em vez de mirar na melhor placa do mercado, vale mais investir em um conjunto equilibrado, que ofereça bom desempenho e permita upgrades futuros.
3. Fonte de alimentação não importa
A fonte de alimentação (PSU) é muitas vezes deixada em segundo plano, especialmente por quem prioriza componentes “mais visíveis” como CPU, GPU e gabinete. No entanto, ela é crucial para a estabilidade e segurança do sistema. Escolher uma fonte genérica, sem certificação, é um dos erros mais graves que alguém pode cometer ao montar um PC.
Uma fonte de má qualidade pode apresentar flutuações de voltagem, ruídos elétricos e até falhas críticas, como picos de energia que danificam outros componentes. Além disso, fontes ruins tendem a superaquecer, têm menor eficiência e vida útil reduzida. Já uma boa fonte, com certificação 80 PLUS (Bronze, Gold ou superior), garante eficiência energética e entrega estável de energia.
Por isso, investir em uma PSU de qualidade é investir na longevidade do seu PC. É um componente que, se bem escolhido, pode durar várias gerações de upgrade. Nunca subestime a importância de uma fonte confiável – ela é a base invisível que mantém todo o sistema funcionando.
4. Quanto mais RAM, melhor
Memória RAM é essencial para o bom funcionamento de qualquer PC, e jogos modernos definitivamente se beneficiam de uma quantidade adequada de RAM. No entanto, mais nem sempre é melhor. Para a maioria dos jogos atuais, 16 GB são suficientes. Acima disso, o ganho real em FPS costuma ser inexistente, a não ser que você faça streaming, edite vídeos ou use programas pesados em paralelo.
Além da quantidade, outros fatores da RAM também influenciam: frequência (velocidade) e latência. Memórias de 3200 MHz ou mais, com baixa latência, oferecem melhor desempenho em jogos que se beneficiam de acesso rápido à memória. Ou seja, às vezes é mais vantajoso ter 16 GB rápidos e bem configurados do que 32 GB lentos e mal aproveitados.
Colocar RAM em excesso só para “sobrar” não traz benefícios e pode até sair caro. O ideal é analisar seu perfil de uso. Se você joga, edita vídeos e abre muitas abas ao mesmo tempo, talvez 32 GB façam sentido. Caso contrário, 16 GB de boa qualidade vão atender perfeitamente.
5. “Water cooler” é sempre melhor que “air cooler”
O cooler líquido, ou water cooler, se tornou símbolo de “setup premium” e muitos acreditam que ele é automaticamente superior a um cooler a ar. Isso é um mito. A realidade é que coolers a ar de qualidade, como os da Noctua ou Be Quiet!, oferecem desempenho térmico excelente e com menos risco de falha.
Water coolers possuem bombas, mangueiras e radiadores que, embora eficientes, também introduzem mais pontos de falha. Além disso, modelos mais baratos não têm desempenho superior aos melhores air coolers, e costumam exigir manutenção após alguns anos. Isso sem contar o custo mais alto e a instalação um pouco mais complexa.
Se você busca silêncio, performance e segurança, há soluções a ar que atendem muito bem, especialmente para quem não faz overclock pesado. Water coolers ainda têm seu espaço, principalmente em gabinetes compactos ou builds voltadas para estética, mas não são necessariamente a melhor opção para todos.
6. Placas-mãe não influenciam no desempenho
Muita gente acredita que a placa-mãe é só “uma base” para conectar os componentes e que qualquer modelo serve. Embora a placa-mãe não aumente diretamente os FPS nos jogos, ela impacta na estabilidade, recursos e no potencial de upgrades do sistema. Uma placa de entrada pode funcionar bem para uso básico, mas pode limitar memórias mais rápidas, overclock ou até mesmo o número de dispositivos conectados.
Placas-mãe de melhor qualidade oferecem mais fases de energia (importante para overclock), melhor dissipação térmica, suporte a SSDs M.2 NVMe de alta velocidade e, em modelos mais recentes, recursos como Wi-Fi 6 e Bluetooth integrados. Além disso, modelos superiores tendem a durar mais e ter compatibilidade com processadores de futuras gerações, dependendo do soquete e chipset.
Ou seja, escolher uma boa placa-mãe não vai “aumentar o desempenho” de forma direta, mas vai garantir um funcionamento estável e seguro, além de permitir aproveitar ao máximo o potencial do processador, memória e armazenamento. Ignorar isso pode significar limitações frustrantes no futuro.
7. Jogos não exigem SSD
Antigamente, os jogos eram pensados para HDs, mas isso mudou. Hoje, muitos jogos utilizam carregamento contínuo de dados (streaming de texturas, mapas, etc.), e os SSDs se tornaram um grande diferencial para reduzir tempos de carregamento e melhorar a fluidez.
Em títulos com mundos abertos, como “Cyberpunk 2077” ou “Hogwarts Legacy”, o uso de SSD evita travamentos e “pop-ins” gráficos visíveis.
Embora o SSD não aumente os FPS diretamente, ele melhora a experiência geral de uso. O sistema operacional carrega mais rápido, as atualizações de jogos instalam em menos tempo, e mesmo a abertura de aplicativos e arquivos se torna muito mais ágil. Isso tudo soma em uma experiência muito mais responsiva no dia a dia.
Atualmente, SSDs NVMe com alta velocidade de leitura e escrita estão mais acessíveis do que nunca. Ignorar o SSD é ficar preso ao passado. Um simples upgrade de um HD para SSD pode transformar um sistema lento em algo ágil e moderno, mesmo sem trocar mais nada.
8. PC gamer precisa ter iluminação RGB
RGB virou sinônimo de “gamer”, mas isso é puramente estético. A iluminação colorida não oferece nenhum ganho de desempenho, refrigeração ou funcionalidade. Ainda assim, muitos acreditam que um PC só é gamer de verdade se estiver piscando em todas as cores. A verdade é que isso depende apenas do gosto pessoal.
Alguns componentes com RGB podem custar mais caro do que versões sem iluminação, mesmo tendo desempenho idêntico. Para quem está montando um setup com orçamento limitado, é muito mais inteligente priorizar performance e qualidade dos componentes do que aparência. O visual pode ser incrementado depois, com fitas LED ou periféricos iluminados, caso isso seja importante para você.
Por outro lado, se você gosta do estilo RGB e tem espaço no orçamento, tudo bem investir. O problema é quando o foco visual vem antes do desempenho. Um PC silencioso, bem ventilado e equilibrado vai te proporcionar uma experiência muito melhor do que uma máquina cheia de luzes mas mal configurada.
9. Todo overclock melhora o desempenho
O overclock é a prática de aumentar a frequência de operação de CPU, GPU ou memória, buscando mais desempenho. Embora possa ser vantajoso em alguns casos, nem todo overclock vale a pena. Muitos chips atuais já vêm otimizados de fábrica, e o ganho com overclock manual pode ser pequeno, em troca de maior consumo de energia e temperatura.
Além disso, fazer overclock exige conhecimento técnico. Uma configuração mal feita pode causar instabilidade, telas azuis, travamentos e até danificar o hardware com o tempo. Mesmo com boas peças, é preciso ter uma placa-mãe e uma fonte robustas, além de um bom sistema de refrigeração, para garantir segurança ao fazer ajustes finos.
Para a maioria dos gamers, um bom processador funcionando dentro das especificações de fábrica já entrega excelente desempenho. O overclock pode ser útil em cenários competitivos ou específicos, mas não é algo obrigatório – e muito menos “milagroso”. Se feito sem cuidado, os riscos superam os benefícios.
10. Mais ventiladores significa melhor refrigeração
Ventiladores (ou fans) são essenciais para manter a temperatura do sistema sob controle, mas quantidade não é sinônimo de eficiência. Um gabinete com 6 ou mais fans pode parecer impressionante, mas se o fluxo de ar não estiver bem planejado – com entrada e saída equilibradas –, o resfriamento pode ser ineficiente ou até prejudicado.
O ideal é garantir que haja entrada de ar frio (geralmente na frente ou embaixo do gabinete) e saída de ar quente (na traseira e/ou parte superior). Dois ou três bons ventiladores, bem posicionados, muitas vezes bastam para manter a temperatura estável, especialmente em builds mais simples ou com componentes que não esquentam muito.
Além disso, excesso de ventiladores aumenta o consumo de energia e o nível de ruído, além de elevar o custo do setup. A qualidade dos fans, o design do gabinete e a disposição interna dos cabos também influenciam na eficiência térmica. Ou seja, o segredo está no equilíbrio, não na quantidade.
Desvendar esses mitos sobre hardware de PCs gamers é essencial para quem quer montar ou atualizar seu setup com inteligência. Em um mercado cheio de opções, propaganda e opiniões divergentes, entender o que realmente influencia o desempenho e o que é apenas exagero ou tradição mal explicada pode fazer toda a diferença.
Conclusão
A verdade é que montar um bom PC gamer não precisa ser caro nem complicado – basta focar em equilíbrio, compatibilidade e boas escolhas com base em necessidades reais, e não em modismos ou ideias ultrapassadas. Investir no que realmente importa, sem cair em armadilhas comuns, garante uma máquina mais eficiente, durável e adaptável a upgrades futuros.
Se você está planejando montar seu PC, revise essas informações, pesquise bastante e, principalmente, não tenha medo de questionar aquilo que todo mundo “sempre disse que era o certo”. Afinal, conhecimento é a peça mais valiosa de qualquer setup.
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