3I/ATLAS passou “próximo” à Terra – e agora?

Na madrugada desta sexta-feira (19), o cometa 3I/ATLAS fez sua maior aproximação da Terra, chegando a 270 milhões de km do planeta às 3h da manhã, pelo horário de Brasília. Depois dessa passagem, o objeto começa a se afastar da região dominada pela gravidade do Sol e, aos poucos, deixa o Sistema Solar, seguindo viagem pela Via Láctea.

O interesse científico nesse “forasteiro” é grande porque ele é apenas o terceiro objeto já identificado vindo de fora do Sistema Solar. Antes, somente o asteroide 1I/’Oumuamua, em 2017, e o cometa 2I/Borisov, em 2019, haviam sido confirmados como interestelares.

Esses corpos funcionam como cápsulas do tempo. Eles carregam material formado em torno de outras estrelas, permitindo comparar ambientes muito diferentes do nosso. Ao analisá-los, os cientistas podem entender melhor como surgem cometas, asteroides e até planetas em outras regiões da galáxia.

O 3I/ATLAS fotografado com o telescópio inteligente computadorizado Seestar S50 em terras do Departamento de Gestão de Terras dos Estados Unidos, ao sul de Brenda, no Arizona, na noite de aproximação máxima do cometa com a Terra. Crédito: Elwood McKay via Spaceweather.com

Cometa interestelar é mais velho que o Sistema Solar

O 3I/ATLAS foi detectado em 1º de julho de 2025 pelo pelo Deep Random Survey, um grupo de astrônomos amadores no Chile. Depois, cientistas encontraram registros anteriores, mostrando que ele já havia sido captado em 14 de junho pelo Sistema de Último Alerta para Impacto de Asteroides com a Terra (ATLAS, na sigla em inglês), da NASA, que monitora objetos que possam representar risco de colisão com o nosso planeta.

Desde as primeiras análises, a trajetória do objeto já indicava que ele não pertencia ao Sistema Solar, confirmando sua origem interestelar logo no dia seguinte.

O cometa 3I/ATLAS atravessa estrelas e galáxias nesta imagem capturada pelo Espectrógrafo Multi-Objeto Gemini (GMOS) no Gemini Norte , em Maunakea, Havaí. Crédito: Processamento de imagens: J. Miller e M. Rodriguez (Observatório Internacional Gemini/NSF NOIRLab), TA Rector (Universidade do Alasca em Anchorage/NSF NOIRLab), M. Zamani (NSF NOIRLab)

Os cálculos mostraram algo ainda mais curioso. Uma equipe de pesquisadores descobriu que o caminho percorrido pelo cometa sugere que ele vem de uma região muito antiga da Via Láctea. Segundo o estudo, o objeto provavelmente veio do chamado “disco espesso” da galáxia. Essa estrutura é formada por estrelas mais antigas do que aquelas do “disco fino”, onde o Sol está localizado. Isso indica que o 3I/ATLAS pode ter até 7 bilhões de anos.

Para efeito de comparação, cometas nativos, como o Halley, surgiram junto com o Sistema Solar. Eles têm, no máximo, 4,5 bilhões de anos. Já visitantes interestelares podem ser muito mais antigos, o que torna o 3I/ATLAS um forte candidato ao cometa mais velho já observado.

Passagem próxima do Sol intensifica brilho do objeto

Durante sua passagem pelo Sistema Solar, ele também chamou atenção pelo brilho inesperado. Ao se aproximar do Sol, no periélio, em 29 de outubro, ficou mais luminoso do que os modelos previam.

Normalmente, cometas brilham mais perto do Sol porque o calor faz o gelo virar vapor. Esse processo libera gás e poeira, formando a coma e a cauda. No caso do 3I/ATLAS, porém, o aumento de brilho foi rápido demais e ainda não tem explicação clara.

O fenômeno foi observado por vários instrumentos espaciais, como a espaçonave STEREO, da NASA, o Observatório Solar e Heliosférico (SOHO), uma parceria entre a NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA), e o satélite Satélite Geoestacionário Operacional Ambiental-19 (GOES-19), operado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA). 

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3I/ATLAS deve levar “peteleco” de Júpiter

Quem pensa que, agora que o 3I/ATLAS já passou pela Terra, acabaram as emoções, está muito enganado. Simulações mostram que, em 16 de março do ano que vem, ele passará muito perto do limite da área de influência gravitacional de Júpiter, conhecida como raio de Hill. Esse encontro pode alterar levemente o trajeto final do cometa. No entanto, a trajetória exata depende também de fatores não gravitacionais, como jatos de gás liberados pelo cometa e pressão da radiação solar.

Ao testar diferentes intensidades de desgaseificação, os cientistas concluíram que acelerações muito pequenas não mudariam a rota. Já forças um pouco mais intensas teriam potencial para modificar o caminho futuro do objeto. Por isso, novas observações serão essenciais nos próximos meses.

Animação simula trajetória do cometa interestelar 3I/ATLAS pelo Sistema Solar. Crédito: TheSkyLive.com

Em um artigo disponível no servidor de pré-impressão arXiv, onde aguarda revisão de pares para publicação, os autores também revelam o melhor período para observar o cometa de perto. Com base na posição da sonda Juno, da NASA, que orbita Júpiter, eles concluíram que a janela ideal deve ocorrer entre 9 e 22 de março, quando a espaçonave estará mais próxima da linha que liga o cometa ao planeta.

Como vemos, embora esteja deixando o Sistema Solar, o 3I/ATLAS ainda renderá muitos estudos. Os dados coletados continuarão sendo analisados e devem ajudar a montar um quadro mais amplo sobre a história e a diversidade da Via Láctea.

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