Astrônomos identificaram um fenômeno raro envolvendo um buraco negro supermassivo que, após devorar uma estrela, está utilizando os destroços para abocanhar outro objeto cósmico – como se fosse a sobremesa após o jantar.
Descrita em um artigo publicado nesta quarta-feira (9) na revista Nature, a descoberta foi feita com a análise de dados do Observatório de Raios-X Chandra, da NASA, e de outros telescópios.
Ilustrações artísticas do evento mostram um disco de material que se formou após a destruição de uma estrela por forças gravitacionais intensas. Esse disco, ao se expandir, acabou se encontrando com outro objeto em órbita ao redor do buraco negro – que poderia ser outra estrela ou um buraco negro menor. Quando esses dois corpos colidem, ocorrem explosões de raios-X, que foram captadas pelo Chandra.
A imagem digital mostra um disco de material estelar em torno de um buraco negro. Em sua borda externa, uma estrela vizinha está colidindo e voando através do disco. Créditos: Raio-X: NASA / CXC / Queen’s Univ. Belfast / M. Nicholl et al.; Óptico / IR: PanSTARRS, NSF / Pesquisa Legada / SDSS; Ilustração: Soheb Mandhai / A Fênix Astro; Processamento de imagem: NASA / CXC / SAO / N. Wolk
Expansão de buraco negro provoca colisões periódicas com objetos em órbita
Em 2019, astrônomos identificaram uma explosão luminosa, que foi batizada de AT2019qiz e classificada como um “evento de ruptura de maré” (TDE), um fenômeno em que uma estrela é destruída por um buraco negro ao se aproximar demais.
Paralelamente, eles também observavam rajadas breves e repetitivas de raios-X em torno de buracos negros supermassivos, conhecidas como “erupções quase periódicas” (QPEs).
Segundo a pesquisa, há uma conexão entre os TDEs e as QPEs. Os autores do estudo acreditam que as erupções quase periódicas surgem quando um objeto colide com o disco formado após um TDE. Embora outras explicações sejam possíveis, os cientistas defendem que essa pode ser a origem de algumas QPEs.
No ano passado, com o auxílio do Chandra e do Telescópio Espacial Hubble, a equipe observou os destroços remanescentes do evento AT2019qiz. Foi percebido um sinal fraco no início e no fim das observações, mas um sinal intenso no meio, sugerindo uma atividade incomum.
Uma imagem da galáxia hospedeira do evento de perturbação de maré AT2019qiz, obtida pelo telescópio Pan-STARRS. O TDE está na mira, bem no centro da galáxia. A barra de escala tem cerca de 17.000 anos-luz. A estrela azul é provavelmente coincidente em primeiro plano na Via Láctea. Crédito: Nicholl et al.
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Além disso, o telescópio NICER (sigla em inglês para Explorador da Composição do Interior de Estrelas de Nêutrons), da NASA, mostrou explosões repetidas de raios-X a cada 48 horas, algo confirmado por dados de arquivo do Observatório Swift e do telescópio AstroSat, da Índia.
As observações permitiram determinar que o disco ao redor do buraco negro havia crescido a ponto de causar colisões periódicas com objetos em órbita, resultando nas erupções de raios-X.
Os autores estão empolgados para identificar novas oportunidades de explorar esses fenômenos em busca de mais QPEs, com implicações para futuras missões de detecção de ondas gravitacionais.
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