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Crianças que praticam esportes serão adultos ativos?

by Fesouza
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A transição da infância e adolescência para a idade adulta tem mudanças no estilo de vida: estudo, trabalho, obrigações e responsabilidades alteram comportamentos como sono, controle do estresse, relacionamentos, alimentação e atividade física.      

Apesar de geralmente a atividade física praticada nos anos iniciais de vida predizer a participação na vida adulta, um novo estudo que contemplou pesquisas realizadas em 16 países, incluindo o Brasil, mostrou que essa relação nem sempre é estável.      

Pesquisadores reuniram estudos de acompanhamento que mediram a prática de atividade física e esportes na infância ou adolescência e sua associação posteriormente na fase adulta.     

Embora a formação de hábitos implique que alguns comportamentos possam se tornar automáticos à medida que a repetição na execução aumenta, e que hábitos adquiridos na infância e adolescência perduram para a vida adulta, a baixa continuidade, na prática de atividade física e esporte da infância/adolescência para a fase adulta sugere que outros fatores entram na equação do comportamento ativo. Isso aconteceu para meninos e meninas, bem como para homens e mulheres.

Segundo os autores, parece que a inatividade física (não conseguir realizar atividade física) é mais estável do que a atividade física. O avanço do mundo moderno nos traz mais confortos e menos movimento. 

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Se durante a infância e adolescência a pratica de atividades física é comum, na fase adulta ela pode se tornar mais desafiadora. (Fonte: Getty Images) 

Os resultados são consistentes com a literatura que indica um declínio nos níveis de atividade física ao longo da vida, principalmente durante a adolescência. É preciso cuidado com a ilusão das redes sociais que nos mostram pessoas se exercitando, pois elas são minoria.

As barreiras para atividade física em cada fase da vida

Reconhecer as barreiras para atividade física pode ser um primeiro passo. Entenda quais são as principais em cada fase da vida.

Talvez hoje as crianças tenham seus movimentos minimizados pelas opções de lazer na palma da mão, com celulares e tablets na sua frente, sendo dependentes de seus cuidadores para conseguirem praticar esportes.

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Construir uma relação saudável entre a prática de uma atividade física e a tecnologia é importante para manter os jovens ativos e assim evitar o sedentarismo precoce. (Fonte: Getty Images) 

Na adolescência, novas opções sedentárias surgem, como jogos online e redes sociais, competindo de maneira desleal com os esportes, além da influência dos pares – os jovens fazem o que veem os outros fazendo. Entenda mais sobre o fenômeno wellness na geração Z aqui.     

Na fase adulta, a diminuição do tempo livre, a fadiga e o estresse do trabalho, podem ser barreiras importantes. Em uma pesquisa na Finlândia que acompanhou pessoas por 5 anos, alguns acontecimentos marcantes estiveram associados a redução na atividade física e aumento do sedentarismo: iniciar um relacionamento e ter filhos.

Pessoas idosas tem como principais barreiras as condições de saúde, o isolamento social, o medo e a dependência de outros para praticar atividades físicas, bem como crenças culturais como a da aposentadoria. Daniel Lieberman – estudioso de Harvard contrapõe o último fator com a hipótese dos avós ativos. 

Nela, está a ideia de que à medida que envelhecemos, graças à evolução humana, podemos e devemos permanecer ativos, pois foi a atividade física que ajudou os caçadores-coletores a viverem tempo suficiente para se tornarem avós. Se aposentar e parar não era uma possibilidade. A atividade física para forrageamento para fornecer comida excedente para seus filhos e netos fez com que vivessem mais.

Em todas as fases da vida algo não muda em relação à atividade física: a importância das boas experiências. Se sentir bem praticando é o ingrediente fundamental.

Perspectivas

Fica evidente que existe uma urgência em mudarmos a forma da atividade física, exercícios e esportes na vida do ser humano. O papel desses comportamentos em nossa vida adulta está mais para uma obrigação.    

Não conseguimos fazer uma boa ligação entre como o movimento é feito na infância – genuinamente por interesse, curiosidade e diversão, com como ele é feito quando somos adultos. 

 Nessa fase, o exercício é mais uma tarefa na lista de obrigações a serem feitas. Porém, dessa forma não está sendo feita. Uma das razões é de que estamos com as motivações erradas para fazê-lo. Crianças que praticam esportes serão adultos ativos? Nem sempre.  

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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos.

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