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“Homem de Gelo” tinha genética diferente dos vizinhos, diz estudo

by Fesouza
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Pesquisadores analisaram o DNA de 15 habitantes dos Alpes italianos da Idade do Cobre para compará-los com a famosa múmia Ötzi, o “Homem de Gelo”, que viveu nesse mesmo período. O estudo sugere que ele era diferente de seus vizinhos e sua linhagem materna pode ter sido extinta, o que o torna ainda mais enigmático na história genética humana.

Encontrada em 1991, perto do monte Similaun, na fronteira da Áustria com a Itália, uma múmia superconservada conhecida como Ötzi – nomeada popularmente como o “Homem de Gelo” – tem sido alvo de estudos há três décadas. Cientistas já estimaram a aparência, especularam a causa de morte e revelaram como foram feitas as 61 tatuagens no corpo desse famoso defunto congelado.

No novo estudo, publicado na revista Nature Communications, a equipe de pesquisadores analisou o genoma de 47 indivíduos datados entre o Mesolítico (6380-6107 a.C.) e a Idade do Bronze Médio (1601-1295 a.C.) para entender como a estrutura genética dos grupos humanos nos Alpes variou com o tempo.

A partir de uma pesquisa de 2023, em que cientistas descobriram que Ötzi tinha ascendência de fazendeiros da Anatólia, a equipe atual investigou se os vizinhos dele, 15 habitantes alpinos da mesma época em que o Homem de Gelo viveu, também carregavam essa genética.

“Homem de Gelo” tinha genética diferente dos vizinhos, diz estudo
Uma das múmias humanas de geleiras mais famosas do mundo: Ötzi, o “Homem de Gelo” (Imagem: South Tyrol Museum of Archaeology/Eurac/Marco Samadelli-Gregor Staschitz)

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Linhagem materna de Ötzi pode ter sido extinta, dizem pesquisadores

  • O estudo revelou que, sim, a maioria dos humanos moradores dos Alpes tinham ancestralidade de fazendeiros da Anatólia, cerca de 80% a 90%;
  • Esses grupos apresentaram também uma estrutura genética e ancestralidade similar;
  • Os pesquisadores traçaram o caminho genético para descobrir informações sobre os pais e mães desses indivíduos;
  • A análise do cromossomo Y, herdado de pai para filho, revelou que todos os homens analisados compartilhavam uma ancestralidade similar encontrada nas regiões da Alemanha e da França pré-históricas;
  • A linhagem materna desses sujeitos, ao contrário da paternal, se mostrou mais diversa. Segundo a pesquisa, isso sugere que as mulheres podem ter se casado com um grupo unido de homens.
Há um monumento em homenagem ao Ötzi na montanha Similaun, onde turistas encontraram seus restos mortais.
Há um monumento em homenagem ao Ötzi na montanha Similaun, onde turistas encontraram seus restos mortais. (Imagem: Tigerente / Wikimedia Commons)

Diferente de seus vizinhos, Ötzi apresentou uma linhagem paterna mais dispersa e uma linhagem materna diferente de todas. Desde sua descoberta, há mais de 30 anos, pesquisadores não conseguiram encontrar nenhuma genética materna similar a do Homem de Gelo, seja em indivíduos ancestrais ou modernos.

Os pesquisadores sugerem que, como a linhagem da mãe nunca foi encontrada, ela pode ter sido extinta. Mas, há também a possibilidade de uma má interpretação dos dados, alertaram os cientistas.

“Talvez o Homem do Gelo, em comparação com outros indivíduos do mesmo período, venha de um grupo diferente de agricultores, mas isso só poderá ser descoberto se tivermos mais dados sobre indivíduos neolíticos da Anatólia e do norte da Itália”, disse Valentina Coia — pesquisadora do Instituto de Estudos de Múmias em Bolzano (Itália), onde Ötzi está guardado para pesquisas — em uma entrevista ao site Live Science.

Estudo revelou novos detalhes para o debate sobre a aparência do Homem de Gelo

Em um estudo de 2012, pesquisadores demonstraram que Ötzi era um homem de olhos escuros e cabelo preto. Ao examinarem seu genoma, o grupo encontrou também detalhes intrigantes: ele tinha problemas no joelho e era intolerante a lactose.

Essa aparência foi contestada na pesquisa de 2023, que defendia, a partir de outra análise de DNA, que o Homem de Gelo tinha pele escura, olhos castanhos e era calvo. O estudo também sugeriu que ele tinha uma dieta rica em carne, evidenciada pela presença de restos de animais em seu estômago.

“Homem de Gelo” tinha genética diferente dos vizinhos, diz estudo
De um lado, a reconstrução mais conhecida de Ötzi, exposta no Museu de Arqueologia do Tirol do Sul, na Itália. Do outro, a nova projeção do “Homem de Gelo”, com base no estudo de 2023 sobre a múmia de 5,3 mil anos (Imamge: Zigres – Shutterstock / Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva)

Agora, o novo estudo revelou que os outros habitantes dos Alpes na mesma época também tinham olhos castanhos e cabelos entre castanho escuro e preto, o que sugere uma semelhança com o Homem de Gelo. A análise genética mostrou que esses grupos alpinos eram também intolerantes à lactose.

Antes desta pesquisa, apenas dois moradores dos Alpes na Idade do Cobre tiveram seu genoma sequenciado por pesquisadores. Os 15 novos DNAs estudados, vindos dos vizinhos de Ötzi, aprimoram a compreensão da comunidade cientifica acerca da vida dos habitantes alpinos de cinco mil anos atrás, revelando novos capítulos da história genética humana.

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