Assistentes de inteligência artificial generativa, como o ChatGPT, têm alterado o panorama da busca online, afetando diretamente o tráfego dos sites de notícias tradicionais e, consequentemente, suas receitas publicitárias essenciais à sobrevivência. Essa tendência preocupa especialistas do setor, que preveem um cenário desafiador nos próximos anos para veículos de jornalismo. As informações e entrevistas contidas nesta matéria são da AFP.
Segundo Matt Karolian, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento do Boston Globe Media, prestigiado grupo editorial americano, os próximos três a quatro anos serão marcados por dificuldades extremas para jornais e portais, independentemente de seu porte. “Os veículos devem se preparar”, pois “correm o risco de desaparecer”, alerta Karolian.
A pesquisa do Pew Research Center corrobora essa visão, mostrando que internautas têm se contentado com os resumos gerados por IA no topo dos resultados do Google, reduzindo à metade a frequência de cliques para acessar artigos completos.

GEO e a era da otimização para IA: adaptação ou conflito?
Surgiu o GEO (Generative Engine Optimization), nova estratégia que substitui o SEO tradicional, com foco na criação de conteúdos estruturados e rotulados para facilitar o entendimento das IAs generativas, além de presença ativa nas redes sociais e fóruns para manter a relevância.
Entretanto, para os veículos jornalísticos, surge a dúvida crucial: permitir o acesso indiscriminado das IAs aos seus conteúdos — com risco de perder ainda mais visitantes e receitas — ou restringir esse acesso e comprometer a presença nas respostas das assistentes, tornando menor sua visibilidade?

Principais desafios e estratégias para veículos de imprensa na era da IA generativa
- Diminuição do tráfego oriundo dos buscadores tradicionais, impactando receitas publicitárias.
- Crescimento da preferência dos usuários por resumos gerados por IA, reduzindo cliques para sites originais.
- Adoção do GEO para otimizar conteúdos visando compreensão por assistentes de IA.
- Decisão sobre liberar ou bloquear conteúdos para IAs, com riscos estratégicos em ambos os casos.
- Negociações e acordos para remuneração pelo uso de conteúdo, como entre NY Times e Amazon ou AP e Google.
- Processos judiciais em andamento contra gigantes de IA para garantir direitos autorais.
- Necessidade da imprensa real para alimentar plataformas que dependem de jornalismo de qualidade.
O diretor da startup OtterlyAI, Thomas Peham, destaca que, atualmente, veículos de comunicação respondem por 29% dos links citados pelo ChatGPT, atrás de sites corporativos (36%). O relatório do Instituto Reuters revela que cerca de 15% dos jovens até 24 anos já utilizam IA generativa como fonte principal de informação, uma tendência que deve se intensificar.

Matt Karolian ressalta que, apesar de a IA abrir novos pontos de contato, como assinaturas geradas via ChatGPT, esse número ainda é modesto frente às plataformas tradicionais. “Em algum momento, alguém terá que fazer o trabalho real do jornalismo”, pontua, lembrando que “sem jornalismo, essas plataformas não terão nada para resumir”.
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Com a pressão crescente, Google trabalha em acordos para incluir conteúdos jornalísticos em sua IA, sinalizando que plataformas e mídia precisarão se entender para garantir sustentabilidade futura.
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