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Por que os parques eólicos são alvos de teorias da conspiração e deepfake?

by Fesouza
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De baleias “enlouquecidas” a doenças inexistentes, os parques eólicos se tornaram alvo de uma onda global de teorias da conspiração. A resistência a essa fonte limpa de energia vai além de mitos isolados: reflete tensões sociais, econômicas e culturais diante da transição para um futuro menos dependente dos combustíveis fósseis.

Nos últimos anos, os parques eólicos têm aparecido não apenas como protagonistas da transição energética, mas também como alvos de discursos carregados de desinformação. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por exemplo, chegou a classificá-los como um “golpe” responsável por enlouquecer baleias e causar mortes. Embora sem qualquer respaldo científico, essas afirmações encontram eco em um público desconfiado das políticas climáticas.

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A história se repete

Esse tipo de reação não é novidade. Na história, sempre que uma tecnologia surge para transformar hábitos e estruturas de poder, surgem também boatos e receios. No século 19, havia quem acreditasse que o telefone transmitia doenças. Hoje, o mesmo tipo de medo recai em um público mais frágil à aceitação dessas teorias sobre as turbinas de vento, que simbolizam tanto inovação quanto ruptura com o modelo baseado em petróleo, carvão e gás natural.

Ilustração de painéis solares e turbinas geradoras de energia eólica
Países nórdicos lideram transição energética; Brasil tem potencial para assumir topo do ranking. Crédito: Piyaset – Shutterstock

Em artigo escrito para o site The Conversation, Marc Hudson, pesquisador da Universidade de Sussex, argumentou que a oposição aos parques eólicos não se explica apenas por idade, nível educacional ou posição política. O fator mais determinante é a predisposição a acreditar em teorias da conspiração. Em países como Alemanha, EUA e Austrália, estudos mostram que mesmo diante de dados claros, muitas pessoas continuam rejeitando a energia do vento por enxergá-la como parte de uma agenda governamental ou até como ameaça à saúde.

O trabalho acadêmico sobre a questão do ativismo anti-parques eólicos está revelando um padrão: o pensamento conspiratório é um indicador mais forte de oposição do que idade, gênero, educação ou inclinação política.

Na Alemanha, o acadêmico Kevin Winter e colegas descobriram que a crença em conspirações teve muito mais influência na oposição ao vento do que qualquer fator demográfico. Preocupantemente, apresentar fatos aos oponentes não foi particularmente eficaz.

Marc Hudson, em artigo publicado no site The Conversation

Os mitos dos parques eólicos

Entre as lendas está a chamada “síndrome da turbina eólica”, considerada inexistente por especialistas médicos. Ainda assim, por anos, circulou em comunidades locais, alimentando protestos contra novos projetos de energia limpa. Esse tipo de narrativa se soma a alegações de que turbinas provocariam apagões, poluiriam o solo ou interfeririam na fauna, todas sem fundamento científico.

turbina eólica
O que torna os parques eólicos terreno fértil para boatos é sua visibilidade. Imagem: engel.ac/Shutterstock

O que torna os parques eólicos terreno fértil para boatos é sua visibilidade. Diferentemente de minas, plataformas de petróleo ou usinas nucleares, geralmente afastadas dos centros urbanos, as turbinas são erguidas em locais amplos, muitas vezes próximos a comunidades. A presença constante no horizonte transforma esses equipamentos em alvos fáceis para projeções de medo e desconfiança.

Por que os parques eólicos são alvos de teorias da conspiração e deepfake?
Pesquisadores identificam que a oposição aos parques eólicos não se explica apenas por idade, nível educacional ou posição política. (Imagem: bombermoon/Shutterstock)

Há também uma dimensão identitária nesse fenômeno. Em determinados grupos, especialmente em ambientes online, o debate sobre mudanças climáticas é associado a fragilidade ou ideologias “anti-masculinas”. Para alguns, como Trump e seus apoiadores, a defesa dos combustíveis fósseis é vista como uma forma de reafirmação de poder e continuidade de um modelo de prosperidade ligado ao passado. Quando, na verdade, se sabe que existe muito interesse relacionado ao petróleo por trás disso tudo.

Esse embate expõe uma questão mais profunda: aceitar os parques eólicos e outras energias renováveis significa encarar que o progresso proporcionado pelos combustíveis fósseis também trouxe consequências ambientais graves. Para muitos, essa reflexão é incômoda, pois desafia a sensação de controle e invulnerabilidade construída ao longo do século passado.

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