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A ciência pode explicar a intuição? Veja o que já sabemos

by Fesouza
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Você está prestes a entrar numa rua por onde passa todos os dias, de súbito surge uma voz dentro da sua cabeça dizendo para mudar a rota. Mas logo o pensamento racional ignora essa voz e você segue pela rua, dentro de instantes você se depara com um assaltante. A intuição esse aviso que muitas vezes ignoramos.

Considerada como uma forma de processamento de informação subconsciente superveloz, a intuição cria previsões com base em experiências e conhecimentos vividos no passado. Esse processamento gera um dado que avisa o indivíduo, seja por meio de um insight, sensação ou sentimento repentino. 

É interessante observar que, como o pensamento racional é bastante valorizado na tomada de decisões, a intuição surge muitas vezes como uma ideia fora da curva, meio nonsense: por que não passar pela rua conhecida? Mas tão logo o pensamento preditivo se confirma, constatamos que existe um outro tipo de inteligência atuando em nosso cérebro. 

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Como a ciência explica esse fenômeno?

Mulher olhando para cima; há um desenho representando um cérebro na região da cabeça dela
A ciência vê a intuição como uma forma de pensamento que pode ajudar na resolução de problemas em diversas esferas da vida. (Imagem: Pavlova Yuliia/Shutterstock)

Muitas vezes, a intuição é vista como algo puramente místico e subjetivo. No entanto, vários estudos em psicologia e neurociência a veem como algo bem concreto, e apontam a intuição como um dos principais estilos de pensamento. 

O pensamento intuitivo é conceituado como automático, rápido e subconsciente, e segundo análises da neurociência, se concentra na área do córtex, camada externa e superficial do cérebro. Em contrapartida, o pensamento analítico é consciente, lógico e lento e germina no sistema límbico e no tronco encefálico. 

Estudo publicado no Journal of Behavioral Decision Making considera esses dois estilos de pensamento como opostos complementares, trabalhando em parceria para obter os melhores resultados nas tomadas de decisão do dia a dia, ou seja, podem acontecer ao mesmo tempo, funcionando como os dois lados de uma mesma moeda. 

Entretanto, com a propagação do mito do progresso cognitivo – que supervaloriza o racionalismo e rechaça as emoções e a intuição como uma forma de sabedoria – é comum que o pensamento analítico acabe se sobrepondo ao intuitivo.

Mas, segundo outro estudo da Universidade da Virginia, essa hierarquização pode ser prejudicial. A pesquisa apontou que, diante de um impasse, em que há necessidade de realizar uma ação importante, pensar demais pode prejudicar consideravelmente o processo de tomada de decisão. É aquele famoso caso: no fundo, no fundo, você já sabia o que tinha que ser feito. 

Benefícios da meditação
Reservar momentos diários de meditação e silêncio são técnicas eficazes para treinar a intuição. (Imagem: Inside Creative House / Shutterstock)

Nesse sentido, a Universidade de São Paulo também quis investigar a eficácia da razão e intuição na resolução de problemas, desta vez no ambiente de negócios. Para isso, o pesquisador Marlon Alves, em seu doutorado, projetou um jogo virtual com diversos desafios e 160 gerentes deveriam resolvê-los sob o comando de suas equipes.

De início, tiveram desafios intelectuais que deveriam ser resolvidos por meio da lógica e pensamento analítico. Em seguida, novas regras foram impostas sem aviso prévio e agora as resoluções criadas anteriormente já não eram mais úteis, então os gerentes tiveram que escolher atuar entre a intuição e a reflexão.

A orientadora do estudo, Simone Galina, ressalta que, após as mudanças repentinas impostas pelo jogo, as equipes que usaram a intuição na tomada de decisões apresentaram melhor resultado nas quatro dimensões analisadas: flexibilidade, velocidade, rotinização e coordenação.

A partir disso, alguns podem pensar: então, a intuição não falha nunca? Não é bem assim. Da mesma forma que alguém pode pensar repetidas vezes sobre uma situação e mesmo assim agir de uma maneira equivocada, a intuição também pode falhar. 

Imagine, por exemplo, que você está em uma festa cheia de comidas gordurosas. Mesmo que você não viva mais nos primórdios, tempo em que era fundamental se saciar ao máximo, pois você não saberia quando seria a próxima caça, existe um instinto sábio que pode te levar a querer comer ao máximo, estocar energia, mesmo que hoje esse padrão não seja mais necessário.

Como treinar a intuição?

Escrever um diário ajudará você ter intimidade com seus sentimentos e pensamentos
Escrever um diário te ajudará a ter intimidade com seus sentimentos e pensamentos. (Imagem: Cast Of Thousands/Shutterstock)

Assim como a criatividade, a intuição também pode ser treinável, pois caso fique em desuso é como um software de computador, pode desatualizar. 

Meditar é uma excelente forma de se conectar com a intuição, uma vez que o excesso de estímulos e pensamentos incessantes no campo consciente sobrecarrega o cérebro e não nos deixa acessar essa estrutura de pensamento preditivo.

Os sonhos também são excelentes sinalizadores. Inclusive, no livro “O Oráculo da Noite: A história e ciência do sonho”, o neurocientista Sidarta Ribeiro aponta como em culturas antigas os sonhos eram reverenciados como oráculos – muitas vezes fazendo previsões certeiras ou dando indícios sobre importantes acontecimentos futuros. Por isso, registrar em um caderno o que acontece nesse espaço onírico pode ser de extrema valia. 

As emoções e sensações também são bússolas. Observar um arrepio ou cansaço inesperado que surge em um encontro com alguém, ou como você se sente em determinado local ou situação, também são formas de conexão com esse estilo de pensamento. 

Sair da rotina e se expor a novos desafios, mesmo que a novidade cause naturalmente algum receio ou medo – também é uma maneira de acessar a intuição e perceber como o corpo e a mente respondem a esses novos estímulos.  

Por fim, embora o pensamento analítico seja fundamental, é importante sair do automatismo da racionalidade, e, pelo menos em alguns momentos, dar voz à intuição seguindo alguns palpites que surgem aparentemente “do nada”. 

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