Dados pessoais e informações financeiras de cerca de 500 mil brasileiros estão acessíveis para cibercriminosos. Grupos no Telegram já compartilham os dados capturados, provenientes de uma empresa brasileira chamada STDoctor, atual ISA Tech, sediada no Recife (PE).
O TecMundo recebeu a denúncia sobre o caso no dia 15 de setembro. Desde então, tentamos repetidamente o contato com a empresa responsável para uma correção da falha e um posicionamento ao público. Não houve resposta ao veículo. Pelo descaso desprendido, o TecMundo não irá revelar detalhes da vulnerabilidade — mas o alerta se torna necessário, principalmente para clientes e usuários do sistema, que já sofrem com os dados circulando em grupos cibercriminosos.
A STDoctor, ou ISA Tech, é um sistema de gestão para clínicas e consultórios médicos. Segundo a própria empresa, “é o ecossistema completo de gestão que simplifica processos, protege dados e devolve tempo para o que realmente importa: cuidar de vidas”. Além da versão web, ela possui aplicativos para Android e iOS.
A empresa também afirma que já realizou mais de 330 mil atendimentos, com 6 mil acessos médicos e possuiria 135 mil clientes cadastrados. Se houver qualquer sinalização de preocupação, correção ou posicionamento por parte da empresa, a reportagem será atualizada.

“Cuidando de vidas”
A denúncia foi realizada pelo pesquisador de segurança Guilherme Nocera ao TecMundo, que também buscou alertar a empresa para correção, antes de avisar a imprensa, e foi ignorado.
Em grupos cibercriminosos no Telegram, uma API exposta da STDoctor (ISA Tech) é compartilhada. Por ela, é possível acessar todos os painéis de gerenciamento do sistema.
Além de dados pessoais e financeiros, é possível acompanhar até os chats entre médicos e funcionários
Dessa maneira, qualquer pessoa pode recolher os seguintes registros de clientes e usuários: nome completo, data de nascimento, email, telefone, CPF, endereço residencial, nome da mãe, profissão, número de convênio, informações de saúde (alergias, exames, receitas, prescrições, solicitações, atendimentos e consultas), laudos médicos e fotos de exames.
Meios de pagamento, taxas de cartão, datas de transação e valores associados também estão presentes no vazamento. Por último, ainda é possível checar os chats que acontecem dentro sistema, entre médicos e funcionários do sistema de gestão.

O que circula no submundo
As informações citadas acima envolvem milhares de brasileiros. Vamos detalhar, abaixo, os números de clientes e profissionais envolvidos em cada tipo de exposição:
- Informações financeiras expostas: 13 mil registros;
- Perfis de pacientes: mais de 500 mil registros com dados pessoais (alguns casos possuem fotos);
- Localização: registros de cadastros em mais de 5 mil cidades diferentes.
Detalhes sobre a vulnerabilidade não serão revelados pelo TecMundo ao público.
A exposição de dados pessoais e financeiros de cidadãos gera ação perante a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Companhias têm o dever de comunicar vazamentos e exposições de dados — e, se penalizadas, podem sofrer sanções que incluem multas de 2% sobre o faturamento limitadas a até R$ 50 milhões.

E agora: o que fazer?
O TecMundo recomenda que todos os clientes, usuários, funcionários e médicos que utilizam (ou utilizaram) a plataforma sigam alguns passos necessários para uma vida digital mais tranquila.
- Atenção ao CPF: utilize o Registrato, do Banco Central, para acompanhar movimentações no seu CPF;
- Atenção aos golpes direcionados: vazamentos do tipo são ouro para cibercriminosos especializados em spear phishing. É importante que você redobre a atenção para mensagens urgentes recebidas de serviços que você utilize. Confie na sensação de estranhamento em mensagens recebidas;
- Utilize antivírus: mantenha um bom antivírus instalado no seu celular e computador (Avast, Kaspersky, ESET, MalwareBytes etc);
- Proteja-se: tenha segundo fator de autenticação em todas as suas contas (se possível, com app terceiro, sem SMS);
- Mantenha seus apps e sistema operacional com a última atualização disponível, principalmente navegadores como Chrome, Edge, Firefox etc;
- Utilize novas senhas longas (mais de 12 caracteres) e complexas;
- Altere suas senhas a cada seis meses e não repita entre serviços.

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