A morte de estrelas do tamanho do Sol não vem acompanhada de violentas explosões cataclísmicas, mas nem por isso é um evento menos grandioso. Ao morrer, elas deixam no espaço uma última obra de arte: uma nebulosa planetária. Uma espécie de gran finale do espetáculo estelar, no qual o astro, em seu derradeiro ato, sopra suas camadas externas para o espaço, criando véus de gás e poeira que brilham como joias suspensas no vazio sideral. Belas, delicadas e efêmeras. Mas afinal, o que são exatamente essas maravilhas do céu profundo que tanto fascinam cientistas e entusiastas da astronomia?
As nebulosas planetárias são bolhas luminosas formadas pelas camadas externas de estrelas comuns, como o nosso Sol, expelidas no fim de suas vidas. No centro de uma nebulosa planetária reside uma anã branca, o núcleo remanescente da estrela original, que não produz mais energia, apenas emite seu calor residual e radiação capaz de ionizar o gás ao redor, fazendo com que ele brilhe como uma lâmpada cósmica.

Nebulosas planetárias são nebulosas, mas não têm nada a ver com planetas! O nome surgiu no século XVIII, quando nossos telescópios ainda eram limitados e esses objetos apareciam como pequenos discos esverdeados, se assemelhando aos planetas do nosso Sistema Solar. Hoje sabemos que essas nebulosas são bem maiores e estão muito mais distantes que os planetas da nossa vizinhança, mas o apelido pegou, e ficou até hoje.
Na história da astronomia, essas belezas foram primeiramente registradas por Charles Messier e William Herschel, dois incansáveis caçadores de objetos celestes. Foi Herschel quem cunhou o termo nebulosa planetária, acreditando que havia alguma conexão entre elas e os planetas. Mal sabia ele que estava observando os últimos suspiros de estrelas envelhecidas. Somente no século XX, com o avanço da astrofísica, entendemos que se tratava da etapa final da vida de astros de massa intermediária, entre uma e oito vezes a massa do Sol.

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E o processo de formação dessas nebulosas é fascinante. Durante sua juventude, a chamada sequência principal, uma estrela funde átomos de hidrogênio em seu núcleo produzindo hélio. A energia de expansão gerada nesse processo equilibra a energia de compressão da gravidade, e com isso a estrela permanece estável. Quando o hidrogênio se esgota no núcleo, a gravidade contrai a estrela até a pressão ser o suficiente para iniciar a fusão do hélio. Esse processo produz elementos mais pesados, como o carbono, nitrogênio e oxigênio; e gera mais energia, o que faz a estrela se expandir. Ciclos de compressão e expansão podem se repetir algumas vezes dependendo da massa da estrela, mas quando a energia gerada em seu núcleo não puder mais ser compensada pela gravidade, ela se infla indefinidamente, perdendo suas camadas externas para o espaço.
O que sobra é o núcleo, que encolhe e aquece até se tornar uma anã branca. Sua radiação intensa faz o gás ejetado brilhar em tons de vermelho, verde, azul e violeta — cores que dependem dos elementos químicos presentes na nebulosa. O oxigênio, por exemplo, se revela em verde-azulado, enquanto o hidrogênio pinta o espaço de vermelho vivo. Essa paleta cósmica não é apenas um espetáculo para os olhos: ela guarda pistas preciosas sobre o passado da estrela que ali viveu, esculpindo no espaço formas que lembram obras de arte impressionistas. Mas esse show de luz e cor é breve: uma nebulosa planetária dura apenas algumas centenas de milhares de anos — um piscar de olhos na escala do Universo — antes de se dissolver lentamente no vazio do cosmos.
Algumas das que se exibem em nosso tempo tornam verdadeiras celebridades celestes. Entre elas, a Nebulosa do Anel, na constelação da Lira, é uma das mais famosas e pode ser observada até por telescópios amadores. A Nebulosa do Haltere, mostra uma forma curiosa que lembra justamente o equipamento de academia. A Nebulosa do Olho de Gato, revela uma estrutura intrincada e simétrica, quase hipnótica. A Nebulosa da Hélice, na constelação de Aquário, chamada poeticamente de Olho de Deus, parece uma íris celeste nos observando do espaço. E ainda há as nebulosas Borboleta, Esquimó e tantas outras, cada uma com sua beleza única que atrai as lentes de telescópios de todo o mudo.

Nenhuma delas é visível a olho nu porque estão todas muito longe de nós. A mais próxima, a Nebulosa da Hélice, está a mais de 650 anos-luz de distância. Mas no futuro, teremos uma nebulosa planetária bem mais próxima. Daqui há cerca de 5 bilhões de anos, o nosso Sol também lançará suas camadas externas ao espaço. Do majestoso astro que ilumina nosso dia, sobrará apenas uma anã branca, compacta e quente, cercada por um casulo de gás brilhante: a nebulosa planetária do Sol.
Provavelmente eu não estarei vivo para contemplar esse momento. Mas se houver alguém por aqui, ficará, certamente, encantado com o fascinante espetáculo que marcará o fim da vida da nossa estrela-mãe. E deve ficar um pouco queimado também…
Mas como esse futuro ainda está muito, muito distante, nos resta apreciar, a uma distância segura, as nebulosas planetárias que neste momento adornam nossa galáxia. Elas são como flores cósmicas: belas, frágeis e passageiras, e quando morrem, semeiam o espaço com a matéria-prima que dará origem a novas estrelas e planetas.

E aí está a beleza do nosso Universo: nesta imensa arena cósmica, até mesmo a morte de uma estrela pode se transformar em um magnífico espetáculo – breve, mas inesquecível! Um quadro dinâmico de forma e cor que, por alguns milhares de anos, inspira gerações de sonhadores a olhar para o céu.
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