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Protocolo de Retorno: o que a ciência analisa nos astronautas ao voltar para a Terra?

by Fesouza
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Após passarem longos períodos na microgravidade da Estação Espacial Internacional (ISS), o corpo humano é muito mais afetado do que se imagina. Em meados de 2025, noticiamos o tão aguardado retorno à Terra dos astronautas “presos” no espaço, Suni Williams e Butch Wilmore, que chegaram a passar nove meses em órbita. Imediatamente ao chegar em solo, foram submetidos a um rigoroso Protocolo de Retorno ao chegar à Terra. Mas, afinal, o que é esse “Protocolo de Retorno“?

Este protocolo, administrado por especialistas em Força, Condicionamento e Reabilitação de Astronautas (ASCR) da NASA, é uma bateria intensiva de exames e reabilitação física e psicológica.

O objetivo principal é garantir que os exploradores espaciais se readaptem com segurança à gravidade do nosso planeta, minimizando os déficits adquiridos no espaço, como perda de massa óssea e muscular, alterações cardiovasculares e desequilíbrios sensoriais. O estudo detalhado dessas mudanças é crucial para o planejamento de futuras missões de longa duração, como as viagens a Marte.

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Quais exames avaliam a saúde dos astronautas após o retorno à Terra?

A readaptação do corpo à gravidade é um processo que envolve um acompanhamento médico contínuo, com foco em áreas que mais sofrem no ambiente espacial. O programa de recondicionamento é personalizado e pode durar cerca de 45 dias, com sessões diárias, para garantir uma recuperação completa.

astronauta ISS
O espaço exige muito do corpo humano. Por isso, astronautas após retorno à Terra devem passar pelo chamado Protocolo de Retorno da NASA (Imagem: NASA/Divulgação)
  • O coração precisa se reajustar para bombear sangue de forma eficiente contra a gravidade terrestre.
  • Músculos e ossos, enfraquecidos pela falta de peso, precisam recuperar força e densidade.
  • O equilíbrio e a coordenação são testados devido às alterações no sistema neurovestibular.
  • Alterações na visão, imunidade e até no DNA são monitoradas de perto pela ciência.
  • O suporte psicológico é essencial para lidar com a transição de um ambiente isolado para a vida normal.

Como a ciência estuda os efeitos do espaço no corpo humano

A vida em microgravidade é, de longe, o ambiente mais extremo que o corpo humano já encontrou, e o organismo reage a ela de formas profundas. Sem a necessidade de combater a gravidade, o corpo inicia uma série de adaptações que, embora essenciais para a sobrevivência em órbita, se tornam um desafio ao voltar para casa.

No espaço, por exemplo, o sangue e outros fluidos corporais se movem para a parte superior, dando aos astronautas um “rosto inchado” e “pernas de galinha”, além de exercer pressão sobre os olhos, o que pode causar problemas de visão temporários ou persistentes. Outro efeito notável é a perda de densidade óssea, que pode chegar a 1,5% ao mês – o equivalente ao que uma mulher na pós-menopausa perde em um ano na Terra sem tratamento.

“Existe alguma variabilidade individual sobre a rapidez com que eles se recuperam, mas é bastante impressionante ver como eles viram a página e realmente se adaptam rapidamente,” disse o Dr. Joe Dervay à CNN, um dos cirurgiões de voo da NASA. Ele ressalta que, muitas vezes, poucos dias após o retorno, é difícil perceber o que os astronautas acabaram de vivenciar.

A astronauta da NASA Sunita Williams, engenheira de voo da Expedição 32, equipada com um cinto elástico, se exercita na Esteira de Resistência Externa com Suporte de Carga Operacional Combinada (COLBERT) no nó Tranquility da Estação Espacial Internacional.
A astronauta da NASA Sunita Williams, engenheira de voo da Expedição 32 se exercita na Estação Espacial Internacional. (Imagem: NASA)

No nível celular, o impacto é ainda mais sutil, mas igualmente relevante. Estudos, como o que acompanhou os gêmeos astronautas Scott e Mark Kelly, mostram que a expressão de genes ligados aos sistemas imunológico e de reparo do DNA podem sofrer alterações.

A Dra. Rebecca Allen, codiretora do Instituto de Tecnologia e Indústria Espacial da Universidade de Tecnologia Swinburne, na Austrália, destaca que a pesquisa é ampla: “Nosso músculo mais importante, o coração, bombeia sangue de forma diferente no espaço porque os fluidos não fluem, é claro, sem gravidade. Nossa função do sistema imunológico, nosso microbioma intestinal, até mesmo nosso DNA muda”.

À medida que as missões se tornam mais longas, o conhecimento adquirido nesse “check-up do cosmos” permite que os cientistas criem contramedidas mais eficazes, como regimes de exercícios mais direcionados e dietas específicas.

O sucesso em mitigar a perda óssea e muscular, as alterações cardiovasculares e os déficits cognitivos no retorno à gravidade é o que garantirá a viabilidade de missões de exploração mais distantes e longas, como a aguardada viagem tripulada a Marte.

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