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Review: Digimon Story Time Stranger me deixou com Síndrome de Estocolmo

by Fesouza
12 minutes read

Os fãs da Angélica podem preparar seus digivices, pois um novo chamado ao Digimundo aconteceu nesta sexta-feira, 3 de outubro. A Bandai Namco lança oficialmente Digimon Story Time Stranger, um novo game feito para entregar uma experiência que seja, ao mesmo tempo, nostálgica para os veteranos e acessível para novos jogadores. 

Disponível para PC e consoles, o jogo conta com uma narrativa profunda, sistemas de evolução robustos e mais de 400 monstrinhos digitais para colecionar. Para quem estava com saudade de títulos como Digimon Story Cyber Sleuth, é um prato cheio. 

Como fã de longa data da franquia, fiquei muito feliz ao ver a animação da comunidade com um novo título da série. Ainda assim, após testar o game aqui no Voxel, acabei me sentido numa “Síndrome de Estocolmo gamer”: o jogo te prende com uma história engajante e gameplay divertido, mas te deixa em um relacionamento tóxico com alguns problemas que chamam a atenção.

Eu explico melhor na review abaixo, realizada com uma cópia do game cedida pela Bandai Namco para PS5. 

História que explora bem a franquia

A narrativa do game, que é o seu ponto forte, traz exatamente a vibe que pode agradar os fãs de longa data de Digimon. A trama começa com a organização secreta ADAMAS, que está investigando uma catástrofe misteriosa ocorrida no Japão — que possui ligação com os monstrinhos digitais.

Enquanto o jogo começa lento, a coisa muda de figura quando somos jogados oito anos no passado. E não bastasse o plot temporal, logo depois, ainda somos arremessados para dentro da lore do mundo de Digimon.

O game nos leva para o Digimundo entender o que está acontecendo, nos colocando em um ambiente repleto de monstrinhos digitais que marcaram a infância de muita gente. Não só isso: o game também se destaca por trazer figuras lendárias dentro da história, com algumas sessões narrativas lembrando muito a vibe de episódios clássicos do anime.

O jogo também capricha ao capturar a essência “trágica” envolvida no universo dos monstrinhos digitais. Pessoalmente, sempre curti a franquia justamente por ela ter mais tons de melancolia que Pokémon, e isso está amplamente presente aqui. 

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A Bandai Namco também não economizou em conteúdo narrativo, com a história engrenando mesmo após umas seis a sete horas de gameplay. O problema é que esse conteúdo riquíssimo fica escondido atrás de uma introdução lenta e de combates iniciais repetitivos. Para quem não é fã da série, a primeira impressão pode ser decepcionante.

Gameplay em turnos é divertido

Na parte da jogabilidade, Digimon Story Time Stranger conta com um sistema de turnos divertido e variado. Ele utiliza a clássica lógica de “pedra, papel e tesoura” entre os atributos Vírus, Vacina e Dados, além de vantagens e resistências elementais. Essa sinergia pode multiplicar em até 300% o dano causado contra inimigos, exigindo atenção constante do jogador.

Você entra em batalha com três Digimons ativos, mas conta com reservas e quase sempre recebe convidados na equipe, formando uma party grande e diversificada. É possível rotacionar Digimons sem gastar turno, usar itens de forma estratégica e até recorrer às “Artes-X”, habilidades especiais do agente que podem virar o jogo.

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Além dos ataques básicos, cada Digimon pode usar habilidades especiais, super técnicas e até skills personalizadas, que você equipa e troca fora de combate. O conjunto torna o gameplay bem estratégico e, em vários momentos, dá a sensação de estar dentro do anime, com animações caprichadas nos golpes clássicos.

Para acelerar o ritmo, também há recursos como auto-battle e ajuste de velocidade (até 5x). O jogo também conta com múltiplas opções de dificuldades e até permite facilitar as batalhas se você perder por várias vezes, garantindo uma experiência acessível para quem não tem muita experiência com turnos. 

Todo esse combo deixa a experiência bem variada e cheia de possibilidades. De quebra, ainda temos eventuais interações com botões surpresa e até de história em algumas batalhas, tornando as brigas mais engajantes. Para quem curte o estilo e ama Digimons, é um padrão que pode divertir bastante. 

Digimons roubam a cena

Enquanto história e gameplay divertem, o grande destaque do jogo, no entanto, são os próprios Digimons. Com mais de 400 criaturas digitais, Time Stranger é praticamente um parque de diversões para fãs. 

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A nostalgia bate forte ao explorar o Digimundo, que está mais vivo do que nunca, com direito a cenários semi-abertos repletos de monstrinhos e referências. O game também ganhou suporte para montarias, permitindo que você suba ou seja carregado por Digimons parceiros. 

Além disso, os Digimons andam ao seu lado no mapa e podem realizar ataques no ambiente ou em outros monstros, sem necessidade de entrar em combate de turnos. Essa mecânica agiliza a exploração, evitando batalhas rápidas e desnecessárias no decorrer do gameplay.

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A forma de recrutamento também é interessante: em vez de capturar Digimons, você os cria a partir de dados coletados em batalhas. Quanto mais vezes você enfrenta uma criatura, maior será sua taxa de “Scan”, chegando até 200% — o que gera Digimons mais fortes. 

Essa estratégia permite que você tenha diferentes tipos de Digimons rapidamente, além de conseguir monstrinhos da mesma espécie. Enquanto em outros jogos ter criaturas repetidas pode ser inútil, aqui é um diferencial: você pode treiná-los de maneiras diferentes para seguir diferentes linhas evolutivas.

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Falando em treinamento, o game também não economiza nessa parte da experiência. Os monstrinhos ganham XP mesmo estando guardados, o que ajuda a evoluir até mesmo criaturas mais fracas. Além disso, o jogo também conta com o “Teatro Limiar”, um espaço que traz a fazenda de digimons, permitindo treinar atributos específicos dos monstrinhos para fazer evoluções específicas.

Outra mecânica interessante é que você pode conversar com os Digimons, e isso afeta sua personalidade. Enquanto os diálogos com os monstrinhos costumam ser risíveis, o jogo conta com árvores de habilidade para diferentes tipos de personalidades, o que afeta no estilo de luta de cada monstrinho digital. 

E se você se arrepender de alguma coisa, basta voltar atrás: o game também conta com um sistema para retornar os monstrinhos para formas anteriores, permitindo conhecer as versões fofinhas dos bebês digimons. Essa combinação de coleta, treino e vínculo reforça a ideia central do jogo: o elo entre humano e Digimon é tão importante quanto qualquer combate.

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Em toda a minha experiência com o jogo, o gerenciamento dos digimons foi, de longe, a parte mais divertida. É muito legal sintetizar o digimon do zero, treiná-lo e tentar descobrir, com base nas silhuetas da interface, qual será a evolução que virá a seguir. É a sensação de ser um digiescolhido ganhando vida, mas com um preço a se pagar. 

Os problemas graves na jornada

Enquanto a história, o combate e os monstrinhos me deixaram presos em Digimon Story Time Stranger, me senti com Síndrome de Estocolmo durante o gameplay por causa de outros aspectos do game. Infelizmente, existem problemas durante a jornada que podem afastar gamers mais casuais, ou simplesmente chatearem jogadores mais exigentes.

Os problemas começam, inclusive, no início do jogo. Todas as principais qualidades da história, combate e dos Digimons ficam ofuscados nas primeiras horas por uma narrativa introdutória que é lenta, e vem acompanhada de um combate limitado e repetitivo. 

 

Além disso, os cenários também deixam a desejar em algumas partes do gameplay, dando um gosto de oportunidade perdida. Enquanto o jogo tem múltiplas possibilidades com o Digimundo inteiro ao seu dispor, eventualmente o jogador é obrigado a explorar cenários repetitivos e sem graça, como esgotos, escombros e ambientes industriais.

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A falta de inspiração também se reflete na trilha sonora, que por vezes pode se tornar irritante. Em alguns cenários, o loop musical é tão curto que você fica ouvindo as mesmas batidas várias vezes — em um dos trechos, parece até que uma furadeira foi usada na concepção da faixa musical.

O mesmo também acontece nas movimentações e animações. Assim como em outros JRPGs, o jogo traz algumas limitações visuais e até de deslocamento na exploração, o que pode tornar a experiência maçante com o tempo — algo incomodo para um game com dezenas de horas de duração.

Por fim, temos também o problema da acessibilidade: os menus do game são extremamente carregados, trazendo cores fortes e pouco contraste. Mesmo tendo poucos problemas de visão e jogando em uma TV 4K no PS5, eu ainda tive dificuldade para usar certos comandos e precisei cadenciar minhas sessões de jogatina para não ter dores de cabeça.

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Mesmo com toda a diversão que tive, o jogo me deixou com a sensação de que não atingiu todo o seu potencial, perdendo a chance de ser um lançamento histórico —quem sabe isso mude em uma eventual sequência. 

Vale a pena?

Digimon Story Time Stranger me deixou numa situação de Síndrome de Estocolmo. Enquanto o gameplay em turnos e a nostalgia me prenderam, alguns problemas estruturais me fizeram sentir que estava em um relacionamento tóxico com o jogo.

As lentes da nostalgia presentes no game são muito atraentes, conquistando logo de cara quem sentia saudade desse mundo. Ainda assim, é importante reconhecer erros, aprender e evoluir para algo melhor e mais forte, como todo bom Digimon.

Repetições de cenários, trilha sonora mal aproveitada, menus carregados e uma introdução cansativa podem afastar até mesmo os digiescolhidos mais fiéis — e olha que falo como alguém que cresceu com a franquia.  Para um jogo que pretende ser uma grande porta de entrada para novos gamers da franquia, são problemas que claramente devem ser evitados no futuro.

Felizmente, grande parte desses erros que me incomodaram estão presentes na demonstração grátis do jogo, que está disponível no PC, PS5 e Xbox Series S/X. Com isso em mente, vale a pena baixar o conteúdo e ver se você está disposto a fazer algumas concessões durante o gameplay para entrar neste mundo digital mágico.

Para jogadores mais antigos da franquia, esses problemas podem até não incomodar, pois já são figurinhas repetidas em certos JRPGs. Ainda assim, é evidente que o gênero evoluiu muito nos últimos anos e não dá para ignorar situações de qualidade de vida tão gritantes em um jogo de até R$ 350, principalmente em um mundo com títulos como Clair Obscur e Metaphor ReFantazio.

Considerando o tamanho da Bandai Namco e da franquia Digimon, eu ficaria muito feliz em ver a empresa aproveitando o potencial máximo da franquia e contornando esses equívocos estruturais em futuras sequências. Afinal, quando Digimon Story Time Stranger acerta, ele acerta pra valer. 

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O gameplay em turnos é bem engajante, colecionar os Digimons é muito divertido e a história, com legendas em português brasileiro, explora muito bem o mundo das criaturas digitais. Se você ignorar algumas falhas, ou já estiver acostumado com elas, com certeza vai encontrar diversão nesta aventura digital.

Nota: 75

Pontos positivos (prós):

  • História que aproveita bem os Digimons e o Digimundo;
  • Exploração com Digimons, incluindo montaria e golpes fora de batalha;
  • Combate em turnos engajante e estratégico;
  • Sistema de evolução cheio de possibilidades;
  • Mais de 400 Digimons para conhecer;
  • Legendado em português brasileiro.

Pontos negativos

  • Problemas de ritmo no começo do game;
  • Cenários pouco inspirados em certas partes do jogo;
  • Trilha sonora limitada em certos locais, com loops curtos e irritantes em alguns trechos;
  • Menus carregados e poluídos, com baixa acessibilidade visual.

Digimon Story Time Stranger está disponível no PC, PS5 e Xbox Series S/X. Uma cópia do game para PS5 foi cedida pela Bandai Namco para a realização desta review. 

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