Nos últimos meses, notícias de grandes empresas demitindo centenas de pessoas trouxeram de volta uma velha discussão: como medir produtividade de forma justa? A justificativa mais comum recai sobre números de entregas, metas batidas e relatórios. Mas será que as planilhas conseguem, sozinhas, contar a história completa?
Essa visão limitada traz um risco muito grande de a empresa cair em uma lógica e soluções simplistas. Se o número está baixo, a pessoa não é produtiva, e fim. Só que a produtividade raramente é um problema individual e isolado. Ela está diretamente ligada à clareza dos objetivos, à consistência da comunicação e ao engajamento que a organização consegue gerar. Se esses três pilares falham, não adianta fazer trocas, porque a situação vai se repetir.
Pense no impacto de uma meta mal explicada. Uma equipe pode gastar semanas trabalhando em algo que não corresponde às prioridades estratégicas, apenas porque a comunicação foi falha. O resultado é esforço e tempo desperdiçados. E, ainda assim, a planilha só mostrará que “a meta não foi entregue”. Sem contexto, a leitura do dado é injusta.
Engajamento segue a mesma lógica. Uma empresa que não conecta o propósito das tarefas ao propósito maior do negócio perde a chance de transformar esforço em motivação real. Quando as pessoas entendem por que estão fazendo o que fazem, os números ganham um significado diferente. Quando não entendem, mesmo uma entrega concluída pode vir acompanhada de desânimo e falta de energia para o próximo desafio.
E também precisamos falar da liderança. Dados de produtividade sem uma análise de como a equipe é direcionada criam uma narrativa enviesada. É fácil apontar para o time como responsável, mas será que houve feedback estruturado? A carga de tarefas foi distribuída de forma justa? Todo mundo recebeu os recursos necessários para performar?
É claro que isso não significa que números não importam. Pelo contrário, dados são fundamentais, mas só quando integrados e interpretados com inteligência. Ou seja, é preciso cruzar métricas de entrega com indicadores de comunicação, clareza de objetivos e engajamento. Esses também são dados, eles só iluminam outra face da produtividade.
Decisões baseadas apenas em números parciais podem custar caro em talentos perdidos, reputação arranhada e cultura organizacional fragilizada. Precisamos pensar nisso se quisermos gestões mais justas e equipes realmente produtivas, independentemente do modelo de trabalho.