A origem da internet remonta aos anos 1960, como parte de um projeto do governo dos Estados Unidos em meio ao cenário da Guerra Fria. O objetivo era criar uma rede de comunicação descentralizada para fins militares e de pesquisa.
Foi apenas em 1991 que a rede mundial de computadores (WWW) foi lançada oficialmente por Tim Berners-Lee e Robert Cailliau. A esperança é que ela facilitasse a comunicação, levasse conhecimento a todos e fortalecesse a democracia e a conexão. Mas a realidade tem sido diferente.

O fenômeno da “polarização afetiva” na internet
- Em artigo publicado no portal The Conversation, George Buchanan e Dana McKay, da RMIT University, na Austrália, afirmam que a internet parece estar nos separando em grupos dissidentes cada vez menores e raivosos.
- A culpa, segundo eles, normalmente é atribuída à ideia de que os algoritmos tendem a nos mostrar conteúdo com o qual provavelmente concordaremos.
- No entanto, alguns estudos mostram que as pessoas costumam se envolver com conteúdo com o qual discordam.
- Acontece que, quando um indivíduos se envolve com uma postagem “desagradável” nas mídias sociais, isso gera receita para a plataforma.
- Em uma escala social, entretanto, isso gera o que é chamado de “polarização afetiva”.
- Esse fenômeno faz com em que gostemos de pessoas que pensam de forma semelhante a nós e que tenhamos até mesmo raiva de pontos de vista diferentes.
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Regulamentação pode ser a única saída
Os pesquisadores explicam que, no ambiente virtual, podemos ser influenciados pelas opiniões de pessoas com quem concordamos ou discordamos, mesmo em tópicos em relação aos quais antes éramos neutros. Por exemplo, se há um influenciador que você admira e ele expressa uma opinião sobre uma nova lei na qual você não pensou muito, é mais provável que você adote o ponto de vista dele sobre ela.
Quando isso acontece em grande escala, gradualmente nos separa em tribos ideológicas que discordam em várias questões: um fenômeno conhecido como “classificação partidária”. Um dos efeitos disso é a proliferação de conteúdos enganosos ou simplesmente falsos.
É aqui que entra a economia da internet. Postagens divisivas e carregadas de emoção têm maior probabilidade de obter engajamento (como curtidas, compartilhamentos e comentários), especialmente de pessoas que concordam ou discordam fortemente e de provocadores. As plataformas mostrarão essas postagens para mais pessoas e o ciclo de engajamento continuará. As empresas de mídia social aproveitam nossa tendência de conteúdo divisivo para gerar engajamento, pois isso leva a mais dinheiro de publicidade para elas. De acordo com um relatório de 2021 do Washington Post, o algoritmo de classificação do Facebook já tratou as reações de emoji (incluindo raiva) como cinco vezes mais valiosas do que “curtidas”.
Artigo publicado no The Conversation

A polarização alimentada pela Internet também resultou em custos reais para o governo, tanto em saúde mental quanto em gastos policiais. Considere os eventos recentes na Austrália, onde o ódio e a desinformação online desempenharam um papel nas marchas neonazistas e o cancelamento de eventos realizados pela comunidade LGBTQIA+, devido a ameaças.
Para aqueles de nós que permanecem nas plataformas de mídia social, podemos trabalhar individualmente para mudar o status quo. Pesquisas mostram que uma maior tolerância para diferentes pontos de vista entre os usuários online pode retardar a polarização. Também podemos dar às empresas de mídia social menos sinais para trabalhar, não compartilhando novamente ou promovendo conteúdo que provavelmente deixará os outros irados.
Artigo publicado no The Conversation

Um dos obstáculos disso é a própria estrutura do negócio. Os autores do trabalho argumentam que será preciso reformular a economia da atividade online para aumentar o potencial de conversas equilibradas e respeitosas e diminuir a recompensa por produzir conteúdos “polêmicos”. Neste sentido, talvez apenas a regulamentação das plataformas atinja o resultado desejado.
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