Nesta quarta-feira (29), o cometa 3I/ATLAS atinge o periélio – ponto de sua órbita mais próximo do Sol. Durante o trajeto, o visitante interestelar foi visto liberando um jato de gelo e poeira em direção à estrela, resultado do aquecimento à medida que se aproxima do centro do Sistema Solar.
Astrônomos no Observatório do Teide, em Tenerife, nas Ilhas Canárias, Espanha, registraram o fenômeno a partir da combinação de dezenas de imagens. Eles divulgaram a descoberta em 15 de outubro, no Astronomer’s Telegram (um serviço de comunicação rápida para astrônomos, editado por Robert Rutledge, professor associado da Universidade McGill, de Montreal, Canadá).

Mais do que um espetáculo astronômico, o episódio traz dados valiosos sobre a interação entre o Sol e cometas vindos de outras estrelas. Essas informações ajudam os cientistas a compreender melhor a origem e a evolução de materiais que circulam entre sistemas planetários.
Em resumo:
- O 3I/ATLAS é o terceiro objeto interestelar já detectado no Sistema Solar e está em rota de aproximação do Sol;
- Imagens de alta resolução revelam um jato de material expelido na direção da estrela, comportamento comum em cometas;
- O registro foi feito com uma composição de múltiplas exposições;
- O jato deve ser composto por dióxido de carbono e poeira fina, empurrados pelo vento solar para a cauda do cometa;
- Alguns dias após o encontro com o Sol, o objeto poderá ser visto com pequenos telescópios antes de desaparecer novamente no espaço profundo.
Como os jatos de cometas se formam
Quando um cometa se aproxima do Sol, sua superfície não aquece de modo uniforme. As regiões voltadas para a luz solar absorvem mais calor e o gelo que está abaixo da crosta pode sublimar – passar diretamente do estado sólido para o gasoso.
Se existirem fissuras ou áreas mais frágeis, esses gases encontram saídas preferenciais e irrompem como jatos, carregando grãos de poeira. É justamente esse processo que as novas imagens do 3I/ATLAS mostram em detalhe.
Miquel Serra-Ricart, astrofísico e diretor científico da instituição Light Bridges, que coadministra o Observatório do Teide, foi quem divulgou os registros mais recentes do cometa.

Ao site Live Science, o especialista ressaltou que o comportamento não foge ao esperado para objetos desse tipo. Segundo ele, a cauda do 3I/ATLAS aponta para longe do Sol, como costuma acontecer quando o vento solar empurra a poeira liberada. “A cauda do cometa também está apontando para longe do Sol, o que é típico desses objetos gelados”.
As imagens que capturaram o jato foram produzidas em 2 de agosto com o Telescópio Twin de Dois Metros do Teide, combinando 159 exposições de 50 segundos. O conjunto revela o núcleo gelado e rochoso do cometa, envolto por sua coma – a “atmosfera” difusa que o circunda – e o feixe de material emergindo em direção ao Sol.
Embora ainda não revisadas por pares, as análises indicam que o jato do 3I/ATLAS pode alcançar milhares de quilômetros de extensão e é dominado por dióxido de carbono e poeira, algo consistente com observações recentes de outros cometas feitas por instrumentos de ponta. À medida que o núcleo gira, esse material tende a se espalhar, parte se misturando à coma e parte sendo varrida para a cauda pela pressão do Sol.
Em 2020, o cometa C/2020 F3 (NEOWISE) exibiu dinâmica semelhante em imagens do Telescópio Espacial Hubble, da NASA – um paralelo útil para interpretar agora o visitante interestelar.

Leia mais:
- Visitante interestelar é capturado mesmo escondido no brilho do Sol
- Alinhamento raro pode ajudar sonda da NASA a coletar amostras de visitante interestelar
- Visitante interestelar com metais inusitados é diferente de qualquer outro cometa
O que esperar do visitante interestelar
O 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto interestelar conhecido a cruzar nosso Sistema Solar, depois do 1I/‘Oumuamua, em 2017, e do 2I/Borisov, em 2019. Após atingir sua maior aproximação ao Sol esta semana, ele estará a uma distância que, embora grande, pode permitir sua observação com pequenos telescópios antes que se afaste rumo à escuridão.
Essa janela é curta, durando entre meados de novembro e fim de março de 2026 (quando ele passa da órbita de Júpiter e deixa de ser observável, enquanto se despede do Sistema Solar).
Jatos como o registrado permitem investigar a estrutura e a dinâmica de cometas formados fora do nosso Sistema Solar. Por isso, o evento tem grande valor científico: ao analisar a química que impulsiona esses jatos e a forma como o vento solar altera a coma e a cauda, os pesquisadores obtêm pistas sobre a origem das substâncias voláteis no espaço, a evolução dos núcleos cometários e as condições de calor que ativam essas “descargas cometárias”.
Na prática, esses dados ainda ajudam a refinar modelos de atividade cometária e a melhorar previsões de brilho e visibilidade em futuras passagens, favorecendo tanto a pesquisa quanto a observação do público.
O post Visitante interestelar lança jato de gelo e poeira em direção ao Sol apareceu primeiro em Olhar Digital.
