Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego (UC San Diego), nos EUA, usaram inteligência artificial (IA) para resolver uma dúvida científica que persistia há mais de duas décadas sobre a doença de Crohn, uma condição inflamatória crônica que afeta o intestino.
O estudo, publicado no Journal of Clinical Investigation, revelou o papel fundamental do gene NOD2 no equilíbrio entre os dois tipos de células de defesa do corpo, oferecendo novas perspectivas para futuros tratamentos.
Como o intestino mantém o equilíbrio
O intestino humano abriga dois tipos de macrófagos, células especializadas do sistema imunológico que desempenham funções opostas, mas complementares.
- Macrófagos inflamatórios: combatem infecções causadas por microrganismos.
- Macrófagos não inflamatórios: reparam tecidos danificados e ajudam na regeneração da mucosa intestinal.

Em pessoas com doença de Crohn, há um desequilíbrio entre esses dois grupos, resultando em inflamação crônica, dor e lesões na parede intestinal. A causa dessa desregulação estava associada ao gene NOD2, identificado em 2001, mas seu papel exato ainda era um mistério até agora.
IA revela a ligação entre NOD2 e equilíbrio intestinal
Usando aprendizado de máquina, os cientistas analisaram milhares de padrões de expressão genética em amostras do intestino grosso de pacientes com doença inflamatória intestinal e de pessoas saudáveis. O modelo identificou uma assinatura composta por 53 genes que distingue com precisão os macrófagos inflamatórios dos regenerativos.
Entre esses genes, um chamou a atenção: o que produz a proteína girdin. A equipe descobriu que, nos macrófagos não inflamatórios, o NOD2 se conecta à girdin, suprimindo inflamações excessivas e permitindo a reparação do tecido intestinal.

No entanto, mutações comuns no gene NOD2 (frequentemente associadas à doença de Crohn) removem a parte responsável por essa ligação, provocando o colapso do equilíbrio intestinal e inflamações persistentes.
Os experimentos em camundongos confirmaram o impacto da descoberta: animais sem a proteína girdin apresentaram desequilíbrio da microbiota intestinal, inflamação do intestino delgado e, em casos graves, sepse – uma resposta exagerada do sistema imunológico que pode levar à falência de órgãos.
Avanço científico no estudo do intestino
Segundo o pesquisador Pradipta Ghosh, da UC San Diego, o NOD2 funciona como um “sistema de vigilância” do intestino, detectando microrganismos invasores e mantendo a imunidade em equilíbrio. Quando a conexão com a girdin é perdida, o sistema falha e a inflamação se torna descontrolada.
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A combinação de IA, biologia molecular e modelos animais permitiu resolver um dos debates mais antigos sobre o intestino e a doença de Crohn, além de abrir caminho para terapias que busquem restaurar a interação entre NOD2 e girdin, protegendo o sistema digestivo contra inflamações severas.

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