Mesmo com a amnésia infantil, os bebês são capazes de guardar informações por curto período, mas memórias pessoais são esquecidas
Durante a primeira infância, começamos a ter os primeiros aprendizados, como reconhecer rostos, cores e objetos, andar, falar e a criar vínculos emocionais. Essa fase é uma época de ensinamentos básicos que levaremos para toda vida, mas curiosamente não nos lembramos deste período e a resposta está na amnésia infantil.
A amnésia infantil é um fenômeno estudado há muitos anos pelos pesquisadores e se caracteriza pela ausência de memória sobre os primeiros acontecimentos da vida de uma pessoa até 2 ou 3 anos de idade.
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O que é amnésia infantil?

Apesar de a maioria das pessoas não conseguirem ter memórias da primeira infância por causa da amnésia infantil, estudos sugerem que os bebês conseguem formar alguns tipos de memória. Nas primeiras semanas de vida, um bebê consegue distinguir o rosto da mãe do rosto de um estranho, por exemplo, uma explicação plausível do porquê alguns choram quando são colocados no colo de um estranho.
Nesse estágio, não há uma consolidação das memórias autobiográficas que é quando você se lembra do primeiro brinquedo, de um aniversário ou de quando quebrou o braço. Essas memórias dependem de uma autoconsciência do que é o eu, e os bebês ainda não chegaram nessa fase.
A memória semântica, por sua vez, é o conhecimento geral do mundo, como o significado das palavras, conceituações, fatos e a aprendizagem de ações que não estão ligadas a uma experiência pessoal. Nesse sentido, estudos liderados pela psicóloga Carolyn Rovee-Collier mostraram que os bebês podem formar essas memórias semânticas desde cedo.
Como os pequenos não podem contar do que se lembram, a estratégia foi analisar mudanças corporais e comportamentais dos bebês durante o experimento que queria investigar a fase de vida de 2 a 6 meses de idade.
Para isso, os bebês foram colocados em um berço com um móbile posicionado acima deles. Foi avaliada a propensão natural de o bebê chutar o móbile, movendo as pernas. Em seguida, foi amarrado um barbante em uma das pernas e a outra na ponta no móbile – de modo que sempre que o bebê se movia o móbile balançava junto.

Rapidamente, os bebês perceberam que estavam no controle. Eles gostam de ver o móbile balançar, então passaram a chutar mais vezes do que quando não estavam amarrados com o barbante. A memória semântica nesse caso foi utilizada, pois aprenderam que chutar o móbile faz ele se mover.
Os bebês de 6 a 18 meses também foram estudados, mas com uma metodologia diferente. Sentados no colo dos pais, os bebês foram posicionados na frente de uma alavanca que eventualmente faria um trem se mover. A princípio, a alavanca não funciona, e os pesquisadores avaliaram quanto o bebê pressiona o objeto naturalmente.
Em seguida, eles acionaram a alavanca, e a cada movimento o trem também se movia ao longo dos trilhos. E o resultado foi muito semelhante ao obtido com os bebês menores, eles pressionaram mais a alavanca quando perceberam que essa ação fazia o trem se mover.
Após esses experimentos, Rovee-Collier e sua equipe descobriram que se os bebês de 6 meses forem treinados por um minuto, eles conseguem se lembrar do aprendizado um dia depois. E os bebês de 2 meses podem se lembrar do móbile por até duas semanas se forem feitas três sessões de reconhecimento com duração de 6 minutos.
Por que as memórias não são guardadas?

Se estudos demonstram que adquirimos memória durante a primeira infância, por que somos atingidos pela amnésia infantil e não conseguimos nos lembrar delas? Dentro da ciência, não há um consenso sobre as causas da amnésia infantil, mas existem algumas possibilidades que são consideradas.
A principal delas é o fato de que o hipocampo, uma parte do cérebro responsável pelo processamento dos tipos de memória, como a visoespacial (lembrar a posição do seu corpo em relação a objetos próximos), memória verbal e declarativa, não está totalmente desenvolvido no período da infância.
“Embora algumas crianças pequenas possam se lembrar de um pequeno número de eventos importantes que vivenciam antes dos 24 meses, as crianças retêm mais memórias com mais detalhes após essa idade”, aponta outro estudo publicado na revista científica Science Direct.
Outra possibilidade é o fato de que bebês até dois anos de idade não têm senso de identidade sobre si mesmos, além disso ainda não desenvolveram a capacidade da linguagem verbal, portanto, não conseguem formar narrativas sobre suas próprias vidas.
Seja como for, a amnésia infantil é um fenômeno fascinante do desenvolvimento humano e que ainda deixa uma pergunta aberta aos futuros pesquisadores: nossas primeiras experiências estão apagadas para sempre ou existe uma maneira de recuperá-las?
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