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Review: Lumines Arise é pura sinestesia, mas obriga você a buscar a diversão

by Fesouza
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Em 2004, o designer Tetsuya Mizuguchi tentou desafiar o domínio de Tetris sobre o gênero de puzzles com Lumines. Misturando blocos que sumiam sob as condições certas com músicas empolgantes, o game conquistou o coração de muitos donos do PSP, antes de chegar a outras plataformas com um sucesso mais modesto.

Mais de 20 anos depois, o designer volta à série com Lumines Arise, um título que mantém a essência do original — mas eleva a um novo nível seus elementos sinestésicos. O resultado é um título que não se mostra tão transformador quanto Tetris Effect, mas ainda assim deve encantar quem busca por experiências que desafiam o cérebro e exigem um bom reflexo.

Lumines Arise vai mexer com seus sentidos

Assim como no jogo que iniciou a série, Lumines Arise é um jogo com regras bastante familiares para quem jogou Tetris. Dentro de um espaço limitado, o jogador precisa lidar com blocos quadrados que vão caindo em ordem aparentemente aleatória — ao formar uniões de quatro blocos semelhantes, eles somem e aumentam sua pontuação.

O grande desafio é fazer isso levando em consideração que as duas cores disponíveis não se misturam — e a única forma de pontuar realmente bem é não se ater às combinações mais básicas. Como os blocos disponíveis possuem combinações de cores variadas, é preciso se acostumar com eles e conseguir pensar rápido para se adaptar às condições dinâmicas das partidas.

Conforme você avança em Lumines Arise, a velocidade do game aumenta, adicionando um novo grau de desafio. Nas partidas mais avançadas, o nível de precisão e pensamento rápido é tão intenso que é difícil não sair delas fisicamente esgotado — mas muito satisfeito caso você tenha cumprido seu objetivo.

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Lumines Arise é visualmente impressionante. Imagem: Divulgação/Enhance

Onde o jogo se distingue de seus antecessores é na aposta dobrada em efeitos visuais e músicas que realmente vão fazer você ficar atento às partidas. Esse é daquele tipo de games que são mais bem aproveitados com fones de ouvido e a agenda vazia: a combinação de sons, visuais que mudam em ritmo constante e desafios faz do game bastante viciante e imersivo.

Game desafia que você vá atrás da diversão

Lumines Arise é aquele tipo de game que, se você se contentar somente em fazer as tarefas básicas que ele oferece, pode acabar saindo descontente. Isso porque o modo principal do game, o Jornada, na verdade serve somente como uma porta de entrada para opções mais interessantes.

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O game tem poucos modos de jogo. Imagem: Divulgação/Enhance

Ele é constituído por uma série de desafios com dificuldade crescente, que introduz o público às diferentes músicas e planos de fundo do game. Após você vencer um estágio, o game transforma seus visuais de maneiras dinâmicas e acelera um pouco a ação — alguns deles são mais poluídos e com efeitos mais complexos, o que adiciona um grau adicional de dificuldade.

No entanto, apesar de esses desafios — que podem ser vencidos nas dificuldades fácil, média e difícil — serem divertidos, eles são muito breves, e não há muitos motivos para lutar pela pontuação máxima. Assim, a melhor maneira de encará-los é como uma base que vai ajudar a destravar o lado mais complexo de Lumines Arise.

Para facilitar um pouco seus desafios, o título possui o recurso conhecido como Burst, que se acumula conforme fazemos combinações certas de blocos. Ele pode ser usado para paralisar o tempo momentaneamente, ajudando tanto a escapar de situações complicadas quanto para gerar combinações impressionantes — quanto mais próximo dos 100% o recurso estiver ao ser acionado, mais vantajoso ele se prova.

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Lumines Arise exige muita concentração e bons reflexos. Imagem: Divulgação/Enhance

Ao completar todas as Jornadas, você destrava o Modo Infinito do jogo, onde não há restrições para o número de linhas e combinações que podem ser feitas. Nesse sentido, ele se aproxima mais da experiência clássica da série, e chegar aos níveis mais altos representa um desafio para verdadeiros especialistas.

Terminar o modo Jornada também enriquece o sistema de Playlists, através do qual você pode montar diferentes sequências de músicas e efeitos visuais para o game. Assim, os jogadores não ficam restritos somente aos desafios do modo principal e podem criar sequências de desafios mais condizentes com seus gostos musicais e disponibilidade de tempo.

O título também dispõe de um modo de Missões que, apesar de divertido, é um tanto limitado. Ele envolve desde fases em que é preciso criar combinações de blocos para fazer um ovo rachar, até fases em que as combinações de blocos vão aumentando de tamanho a cada rodada. Infelizmente, embora essas opções sejam interessantes, elas surgem em número tão restrito que fica a sensação de que faltou algo ao título.

Lumines Arise é sobre o prazer da mecânica

Lumines Arise também possui um modo multiplayer interessante, especialmente para quem busca por uma maior competição. No entanto, ele não é tão atraente quanto as opções single player, especialmente porque foi marcado por uma evidente falta de jogadores disponíveis durante nossos testes.

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O multiplayer do game é interessante, mas estava vazio em nossos testes. Imagem: Divulgação/Enhance

Para completar, o título ainda possui o Lumii-Pon, que funciona como a área no qual destravamos novos itens cosméticos.  O sistema libera visuais, ícones de usuário e títulos de forma aleatória, usando os créditos que acumulamos ao nos aventurar pelos demais modos do game.

Tudo isso faz com que o título, na prática, seja uma experiência relativamente simples. Assim, o que o sustenta — e vai fazer com que muitos voltem a ele diversas vezes — é justamente sua parte mecânica, que é excelente. No entanto, quem simplesmente busca por conquistas e troféus como motivo para jogar um game pode se sentir decepcionado.

No fim das contas, Lumines Arise é um jogo bastante “old school”, onde a maior recompensa por jogar e ficar melhor em suas mecânicas é o prazer pessoal. Caso você não se veja conquistado por seus sistemas simples de entender, mas complexos de dominar, não há uma “cenoura na ponta da vara” que sirva de estímulo para passar horas nas Jornadas ou no modo infinito tentando aprimorar suas pontuações por pura satisfação pessoal.

Lumines Arise vale a pena?

Primeiro game inédito da série desde 2012, Lumines Arise mantém tudo que fez dela um sucesso e é uma experiência sinestésica na qual música, visuais e gameplay se combinam para deixar o jogador imerso no que acontece na tela. Ao mesmo tempo, a simplicidade do que é oferecido pode deixar a sensação de que falta algo na experiência — especialmente no que diz respeito à variedade de desafios.

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Lumines Arise é bom, mas não revoluciona a série. Imagem: Divulgação/Enhance

No entanto, o maior problema do jogo é sua aparente falta de atenção a detalhes. A localização, por exemplo, nem sempre acerta os artigos e muitas vezes aparece de maneira incompleta. Ao navegar pelo tutorial, por exemplo, nos deparemos com telas inteiras em inglês ou em japonês, ignorando completamente o português brasileiro selecionado.

Isso não influencia no gameplay, mas demonstra uma falta de cuidado que não pode ser ignorada, especialmente quando o título representa a volta de uma série dormente há tanto tempo. O resultado final é uma experiência com gameplay sólido e realmente capaz de viciar quem gosta de bons quebra-cabeças. No entanto, faltam inovações de gameplay e apresentação que justificariam poder considerar o jogo uma verdadeira evolução na fórmula que a série estreou há mais de 20 anos.

Nota: 80

Prós (pontos positivos):

  • Gameplay simples de aprender e difícil de dominar;
  • Ótima trilha sonora;
  • Desempenho excelente que não exige muito do PC;
  • Visualmente impressionante.

Contras (pontos negativos)

  • Poucos modos de jogo;
  • Descuido completo com a adaptação brasileira;
  • Colecionáveis oferecidos de forma aleatória são pouco interessantes.

Uma cópia de Lumines Arise foi cedida pela Enhance para a realização desta análise, realizada no PC. Em sua estreia, o game está disponível para Windows e PlayStation 5, com compatibilidade com dispositivos de realidade virtual.

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