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Arknights Endfield é belo e ambicioso, mas vale a pena? Confira preview

by Fesouza
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Muitas vezes, não nos damos conta do quão diferente é o padrão de consumo de games em boa parte do Oriente, e o quanto isso acaba moldando o próprio mercado de desenvolvimento. No ocidente, nossos olhos costumam brilhar diante da promessa de futuras grandes campanhas single player, como GTA VI e The Witcher 4, mas do outro lado do mundo, o cenário segue um ritmo diferente.

No oriente, especialmente na China, esses títulos citados acima certamente terão destaque nos portais de notícias quando forem lançados, mas dividirão espaço com outros jogos que muitos de nós nem ouvimos falar. Produções que pertencem a um gênero muito específico: o Gacha.

E se eu tivesse que apostar em um título com esse tipo de força, sem dúvidas seria Arknights: Endfield. A convite da Hypergryph, o Voxel viajou até Los Angeles para testar com exclusividade o segundo beta fechado do jogo.

Em um evento focado no game, tivemos a chance não só de conferir o gameplay, mas ter uma longa conversa com os desenvolvedores e até acompanhar uma apresentação musical da banda Sunset, que acompanha a franquia desde o primeiro título (sim, podemos chamá-la de franquia agora).

E depois dessa experiência completa, vamos contar a você como esse game é uma grande e sólida promessa para esse gênero ano que vem. Confira, a seguir, o que esperar do jogo com base na nossa preview.

De onde surgiu Arknights?

A Hypergryph, produtora da franquia, foi fundada em 2017, mas já nasceu com um know-how sólido. Isso porque Hai Mao, um dos fundadores, se uniu a ex-integrantes da MICA Team (estúdio conhecido por Girls’ Frontline) para criar uma empresa focada em alta qualidade artística e narrativas mais profundas.

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Desde o início, a Hypergryph recrutou profissionais com forte formação artística, muitos deles vindos da Academia de Arte da China. Essa base reforça a filosofia que o estúdio carrega desde sua criação: “arte, tecnologia e boa prática de negócios”, os três pilares criativos da empresa.

Em apenas dois anos, o estúdio lançou seu primeiro projeto: Arknights (2019), um tower defense tático free-to-play para iOS e Android.

Apesar do gameplay simples, Arknights conquistou o público com sua lore profunda, identidade artística marcante e trilha sonora impecável, a ponto de a comunidade brincar que a Hypergryph “é uma empresa de arte e música que resolveu fazer um jogo mobile”. O sucesso levou à adaptação em anime, Arknights: Reimei Zensou (2022), disponível na Crunchyroll e bem avaliado pelo público.

Três anos depois, o estúdio decidiu dar um salto ainda maior: anunciaram um Gacha de ação em terceira pessoa, com qualidade técnica impecável e lançamento global. Assim nasceu Arknights: Endfield, carregando a responsabilidade de honrar e expandir o universo de uma franquia que já reúne milhões de fãs.

“Jogo bom começa na neve”

Já ouviu a frase “jogo bom começa na neve”? Se for verdade, então Arknights: Endfield começa com o pé direito.

Logo após escolhermos o gênero do personagem, o jogo já nos coloca em uma ampla área coberta de neve, onde ali somos apresentados aos tutoriais básicos de combate e uma luta épica contra um inimigo de algumas dezenas de metros de altura.

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É aquele clássico confronto sem chances de vitória, usado para “nerfar” o protagonista e dar início aos eventos principais. Nesse caso, o embate resulta em uma grave perda de memória, e por consequência, deixando muitos mistérios do passado sem acesso por conta dessa amnésia.

Dez anos depois, o personagem desperta, e é aí que o mundo de Endfield realmente se abre para nós. Tudo é novo: tanto para o jogador quanto para o protagonista, que já conhecemos pelo título de Endministrator.

Tudo é novo: tanto para o jogador quanto para o protagonista.

O nome não é apenas simbólico: ele era o comandante da corporação Endfield Industries, responsável por estabelecer fábricas, explorar ruínas misteriosas e reconstruir a civilização humana enquanto desvendava os segredos de um novo mundo. Pelo menos, era assim antes de todos os acontecimentos.

A história se desenrola a partir desse ponto, em uma imensa nave espacial orbitando Talos II, uma lua habitável. Lá, todos ainda nos veem como seu líder e depositam em nós expectativas quase sobre-humanas: reconstruir o projeto original, liderar a exploração de Talos II e enfrentar as ameaças que habitam sua superfície.

O problema é que, agora, mal lembramos de quem fomos, ou de tudo o que fizemos para chegarmos até aquele ponto.

Indiscutivelmente lindo

Confesso que, com o tempo, junto da minha modesta barba, também tem crescido o meu desinteresse pela glorificação dos gráficos em jogos recentes. Mas aqui não teve jeito, é impossível falar de Arknights: Endfield sem mencionar o impacto visual que ele me causou logo nos primeiros minutos de gameplay. A primeira reação foi inevitável: “Como um jogo com visuais de anime consegue ser tão bonito?”

Diferente da maioria dos games “de anime” que vemos no mercado, onde as texturas são chapadas, sombras duras e quase não há oclusão de ambiente ou mapas normais que deem profundidade. Endfield segue o caminho oposto. Mesmo sem buscar realismo extremo, o jogo trabalha com maturidade o uso de texturas detalhadas e iluminação global equilibrada, tanto na ambientação quanto nos personagens.

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O resultado é uma dualidade visual fascinante: roupas e acessórios incrivelmente detalhados contrastam com as linhas limpas e simples dos modelos 3D, mas tudo se harmoniza com perfeição. Esse equilíbrio é fruto de uma ótima direção de arte, algo que merece ser destacado.

A estética aposta em tons sóbrios e um retrô-futurismo oriental que remete a obras como Neon Genesis Evangelion, Ghost in the Shell e afins, mas com linhas muito mais limpas e elegantes, marca registrada da franquia desde 2019. É quase como se Taopunk e Solarpunk tivessem tido um filho.

Essa mistura visual é especialmente perceptível em Wuling, a cidade principal desse beta fechado, onde natureza, concreto, arquitetura oriental e fluxos de água se integram de forma quase orgânica.

Ao menos, visualmente, Arknights: Endfield pode muito bem ser a porta de entrada perfeita para quem sempre achou os títulos da Hoyoverse “coloridos demais”.

Mobile x PC x PS5

Vale ressaltar que a versão que jogamos rodava em uma máquina de ponta: um Intel Core Ultra 9 285K, 32 GB de RAM e uma RTX 5080, exibindo o jogo em 4K nativo em um monitor OLED de 27’’ da Alienware.

Definitivamente não será a experiência que boa parte dos jogadores terão, e com certeza, também representa um resultado bem diferente se comparado ao nível gráfico que teremos ao jogar no mobile.

Mas qual será o tamanho dessa diferença? Só o tempo nos dirá, já que a única versão tivemos acesso durante nossos testes foi a de PC, a versão mobile não foi um tópico muito abordado na apresentação, e em todas as vezes que perguntamos sobre essa versão para a equipe de suporte que nos acompanhava durante a gameplay, as respostas também não eram muito objetivas.

Mas o que podemos afirmar é que a versão mobile terá algumas diferenças significativas se comparado às versões de PC e PS5. A primeira delas é claramente a modularidade dos ícones, menus e botões táteis de ação dispostos na tela, mas também permitirá o uso de controle externo, oferecendo uma experiência próxima à do PS5, ao menos em jogabilidade.

A versão mobile terá algumas diferenças significativas se comparado às versões de PC e PS5.

Graficamente, as diferenças serão mais notáveis. A equipe mencionou que o pack de modelos 3D e texturas será reduzido em relação às versões de PC e console. Em média, personagens que possuem entre 80 e 100 mil polígonos no PC/PS5 terão cerca de 50 mil no mobile. Já as áreas do mapa, que chegam a 5 milhões de polígonos nas versões de alto desempenho, devem variar entre 2 e 3 milhões no portátil — ainda muito acima da média se comparado a outros jogos do gênero.

 

Não é difícil, mas pode ser complicado

Para quem já está acostumado com outros jogos do gênero, Arknights: Endfield não apresenta grandes dificuldades de adaptação ao combate. O sistema é composto por times de quatro personagens, aqui chamados de operadores, cada um com sua própria habilidade, carga elemental e classificação que varia de uma a seis estrelas.

Montar a equipe é tão estratégico quanto em qualquer outro Gacha, mas nada realmente inédito. O destaque, porém, está no timing das batalhas, nos efeitos visuais e na apresentação dos combos e especiais de cada personagem. Mesmo sem reinventar a roda, a experiência de gameplay e a responsividade dos controles são excelentes — ainda que, nas primeiras cinco horas de gameplay, faltem inimigos realmente desafiadores que coloquem essas habilidades à prova.

Mas em Arknights: Endfield, assim como em boa parte dos Gachas do gênero, existem diversas mecânicas organizadas em diferentes menus. Mecânicas essas que muitas vezes interagem entre si, mas que podem estar dispostas de uma maneira tão desconexa, que entender a correlação entre elas acaba sendo um breve desafio por si só.

Seria um deslize da equipe de UI/UX? Não tenho tal ousadia para afirmar algo do tipo. Mas também não seria surpresa se fosse algo proposital.

Afinal, no fim do dia, ainda estamos falando de um Gacha. E isso significa muitos menus, micro-mecânicas e sistemas de aprimoramento. Roupas, armas, personagens e cosméticos são desbloqueados com recursos que não são tão fáceis de conseguir durante a gameplay. 

Essa estrutura cria uma curva de aprendizado quase intimidadora para quem não pretende investir horas diárias no jogo. Por outro lado, sempre há o “atalho” do cartão de crédito para acelerar o progresso — algo já esperado. Como os próprios desenvolvedores destacaram durante a apresentação: “para a Hypergryph, Gacha não é um gênero — é um modelo de negócios.”

Mesmo com um combate simples e recompensador, algumas dessas mecânicas podem soar exageradamente complexas. Navegar por tantos menus é uma tarefa mais prática com teclado e mouse, o que já era esperado para o gênero. No controle, a experiência ainda é funcional, mas naturalmente menos fluida, embora dê pra perceber o esforço da Hypergryph em otimizá-la ao máximo.

E tudo isso ganha ainda mais importância quando lembramos do grande diferencial de Endfield em relação a outros jogos do gênero: a mecânica de fábricas.

Não é só combate, mas também tática industrial

Aqui entramos no grande diferencial de Arknights: Endfield: o Complexo Industrial Automatizado (AIC), em outras palavras: o sistema de fábricas automatizadas.

Em resumo, pense assim: em um mundo altamente tecnológico, minerar recursos, fabricar itens e até defender sua base não precisa ser um trabalho manual. Em Endfield, isso é levado ao pé da letra.

Antes de tudo, é preciso construir uma base sólida. Ela deve incluir áreas de serviço e uma boa estrutura energética para alimentar todos os equipamentos responsáveis por executar essas tarefas automaticamente.

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A organização dessas fábricas é inteiramente livre. Você decide o propósito de cada uma: uma base de mineração, uma refinaria próxima ou até uma linha de transporte entre elas. Pode fazer tudo manualmente — se quiser —, mas nada impede que você crie mecanismos automatizados para otimizar o processo e deixar tudo funcionando sozinho.

E o objetivo dessas fábricas? Vai muito além da produção de materiais. Elas podem gerar upgrades, recursos financeiros, itens de pesquisa científica, materiais de fortificação de base e até ferramentas automáticas de defesa, capazes de identificar e atacar inimigos que entrem no perímetro.

O grande trunfo desse sistema está na liberdade criativa. Existem muitos caminhos possíveis para atingir o mesmo resultado, e com o tempo o jogador aprende, por experimentação, a otimizar suas criações, fazendo mais com menos.

Segundo a própria equipe de desenvolvimento, há grande expectativa em ver até onde a criatividade dos jogadores pode ir com essa mecânica.

De 50 a 60 horas de gameplay, só nesse Beta

Nas quase cinco horas de gameplay que tivemos durante o evento, tive a nítida sensação de que mal arranhei a superfície do que o jogo realmente tem a oferecer, e isso vale tanto para a história quanto para as mecânicas.

Não é de se espantar: segundo o que foi revelado, essa Beta fechada conta com cerca de 50 a 60 horas de conteúdo apenas para concluir a campanha principal.

O jogo já traz 24 personagens jogáveis, sendo nove exclusivos desta segunda fase de testes, além da mecânica de construção livre de fábricas, que amplia as possibilidades e estimula a criatividade do jogador.

Com tanta coisa para explorar, é bem provável que o tempo total de jogo vá muito além dessas 60 horas iniciais.

Beta fechada que você também pode jogar

A segunda Beta fechada de Arknights: Endfield já está com inscrições abertas no site oficial da Gryphline, mas o acesso será limitado. Todos os dados dos participantes serão apagados assim que os servidores forem encerrados ao fim do período de testes — cuja data de término ainda será divulgada pela equipe de desenvolvimento.

Durante o Beta, será possível sincronizar o progresso entre PC e dispositivos móveis utilizando a mesma conta, permitindo continuar a jogatina em diferentes plataformas sem perder o andamento.

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O teste contará com localização em inglês, japonês, coreano, mandarim, espanhol e russo. Infelizmente, a versão em português ainda não estará disponível nesta fase, ela está prevista apenas para o lançamento oficial do jogo.

Um futuro claro, mas ainda merece polimento

Com Arknights: Endfield, a Hypergryph mostra maturidade técnica e artística para competir no topo do gênero, não à toa a expectativa da já estabelecida base de fãs de Arknights está muito ansiosa para Endfield. É um jogo que parece entender o que o público quer, e o que ainda não sabe que quer.

O título também é denso na apresentação das mecânicas e em como você navega por elas, o que pode espantar até mesmo quem já está acostumado com o gênero. No entanto, uma vez que tudo isso fica habitual na jogatina, a experiência, até então, é bem sólida e prazerosa.

Todos os elementos de gacha, e o quanto isso será benéfico ou não ao jogo só poderão ser observados a longo prazo. Porém, se o primeiro Arknights foi um cartão de visita a comunidade, servindo como laboratório para Hypergryph, Arknights: Endfield pode ser a promessa de um estúdio que sabe exatamente onde quer chegar.

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