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Buracos negros primordiais podem atravessar o corpo humano?

by Fesouza
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Um estudo publicado no periódico científico International Journal of Modern Physics D investigou o que aconteceria se um minúsculo buraco negro atravessasse o corpo humano. Os pesquisadores calcularam qual seria o tamanho mínimo capaz de causar ferimentos graves ou até a morte. O objetivo não é assustar, mas ajudar na compreensão da matéria escura, que forma cerca de 27% do Universo.

Antes de mais nada, é preciso diferenciar os tipos de buracos negros. Os estelares, mais comuns na atualidade, se formam quando estrelas gigantes morrem e colapsam sob sua própria gravidade. Eles só surgem a partir de estrelas com pelo menos 20 vezes a massa do Sol, o que obviamente impede que atravessem um corpo humano. Cair em um desses buracos negros seria fatal, já que a gravidade esmagadora do monstro cósmico destrói e devora tudo o que se aproxima.

Nos primeiros instantes após o Big Bang, porém, a situação era diferente. Bolsões de matéria extremamente densos poderiam gerar buracos negros primordiais, com massas que iam desde menos que a de um clipe de papel até várias vezes a do Sol. À medida que o Universo cresceu e esfriou, essas condições desapareceram, mas, se surgiram, alguns desses buracos negros ainda podem existir hoje.

Estima-se que buracos negros menores que um átomo poderiam atravessar a Terra sem causar danos. Outros maiores, do tamanho de asteroides, poderiam passar mais raramente, talvez uma vez a cada mil anos. Nenhum foi detectado até hoje, mas cientistas já tentam identificar sinais por meio de ondas gravitacionais, como no caso do buraco negro primordial S251112cm.

Buracos negros primordiais podem atravessar o corpo humano?
O que aconteceria se um minúsculo buraco negro primordial atravessasse seu corpo? Crédito: Imagem gerada por IA/Gemini

Efeitos que um buraco negro primordial poderia causar em humanos

O estudo se inspirou em pesquisas anteriores sobre a matéria escura macroscópica, ou MACRO, que inclui objetos de tamanhos variados, de grãos minúsculos a asteroides. Esses objetos poderiam causar danos consideráveis ao corpo humano, e a ausência desses impactos ajuda a limitar suas possíveis massas e tamanhos.

Robert J. Scherrer, físico da Universidade Vanderbilt e autor do novo artigo, aplicou esse raciocínio aos buracos negros primordiais. Em um comunicado, ele explica que observações recentes de ondas gravitacionais e novas imagens desses titãs cósmicos reacenderam o interesse pelo tema. O cientista também se inspirou em histórias de ficção científica e quis calcular de forma realista os efeitos de um objeto desse tipo atravessando o corpo humano.

Buracos negros primordiais podem atravessar o corpo humano?
A matéria escura é um mistério para os pesquisadores. Crédito: WhataWin / Shutterstock

O artigo analisa dois efeitos que um buraco negro primordial poderia causar em humanos. Primeiro, a passagem geraria uma onda de choque supersônica, destruindo tecidos pelo caminho. Segundo, as forças de maré – diferenças extremas de gravidade – poderiam romper células do corpo.

Scherrer calculou a energia mínima necessária para causar danos comparáveis aos de uma bala. Ele concluiu que a massa mínima do buraco negro teria que ser cerca de 140 bilhões de toneladas, equivalente a um asteroide muito maior do que os pequenos que passam próximos da Terra, com dezenas ou centenas de metros de diâmetro.

Quando a gravidade atua de forma desigual em diferentes partes de um corpo, surgem as forças de maré. Na Terra, a Lua provoca marés nos oceanos e até pequenas deformações no solo. Se a diferença gravitacional for muito intensa, um corpo pode se romper ou se desestruturar.

No corpo humano, as marés de um buraco negro primordial teriam efeitos interessantes. À medida que ele passa, exerceria forças intensas, tensionando células próximas. As células mais vulneráveis seriam as do cérebro, que poderiam se romper se a força fosse alta o suficiente.

Os cálculos indicaram, porém, que destruir células cerebrais exigiria buracos negros maiores que os inicialmente previstos: entre 7 × 10¹⁸ g (7 trilhões de toneladas) e 7 × 10¹⁹ g (70 trilhões de toneladas). Nesse cenário, a onda de choque seria ainda mais letal do que as marés, causando ferimentos graves ou morte instantânea.

Buracos negros primordiais podem atravessar o corpo humano?
Representação artística dos buracos negros primordiais. Crédito: Centro de Voo Espacial Goddard da NASA

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Situação é praticamente improvável

Apesar da gravidade do cenário, essas estimativas ajudam a definir limites para buracos negros primordiais como candidatos à matéria escura. A massa mínima capaz de ferir humanos coincide com o limite inferior do que seria considerado matéria escura em forma de buracos negros. A ausência de tais eventos ajuda os cientistas a refinar modelos de matéria escura.

Mesmo supondo que toda a matéria escura seja composta por buracos negros primordiais, os cálculos mostram que a probabilidade de um ataque humano seria de apenas 10⁻¹⁸ por ano. Ou seja, praticamente impossível de ocorrer.

Scherrer resume: buracos negros primordiais grandes, do tamanho de asteroides, poderiam matar se atravessassem você. Por outro lado, os menores passariam despercebidos. Mas, considerando a densidade extremamente baixa desses objetos no Universo, encontrar um humano seria praticamente improvável.

O estudo combina física teórica, astrofísica e matemática avançada, mas a mensagem para o público leigo é clara: mesmo que buracos negros primordiais existam, não há risco real de colisão. A pesquisa serve mais para limitar as características desses objetos e entender a matéria escura do que para preocupar a população.

No final, a pesquisa mostra como a ciência pode explorar cenários extremos para responder perguntas sobre o Universo. Ela une cálculos precisos, teorias sobre a origem do cosmos e até inspirações de ficção científica para tornar o estudo mais envolvente. Mesmo sendo improvável, imaginar um buraco negro atravessando o corpo humano ajuda a entender forças e fenômenos que regem o Universo.

Em resumo, buracos negros primordiais podem existir, mas o risco de contato é tão baixo que o maior efeito é científico, não prático. Estudos como este ajudam a refinar nossa compreensão do cosmos e da matéria escura, abrindo caminhos para novas descobertas, sem colocar ninguém em perigo.

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