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Review: A.I.L.A transforma medos da IA em pesadelo maior que a realidade

by Fesouza
8 minutes read

Com o crescente uso de tantas pessoas de diferentes serviços e plataformas de inteligência artificial nos últimos tempos, era de se esperar que esse tema se tornasse um tópico bem interessante em jogos de terror. É exatamente isso que vemos em A.I.L.A, o novo game criado e desenvolvido pelos brasileiros do Pulsatrix Studios, muito conhecidos pelo excelente Fobia – St Dinfna Hotel

Recentemente, tivemos a oportunidade de nos aprofundar nas experiências surreais de A.I.L.A e te contamos nossas impressões no review completo logo a seguir. Confira a análise completa a seguir, realizada com a versão de PC do jogo.

Um  pesadelo com Inteligência Artificial

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A.I.L.A definitivamente não perde tempo em construir uma clima bem tenebroso em seus primeiros minutos, mostrando nosso personagem aprisionado de ponta cabeça em um calabouço escuro e, posteriormente, perseguido por um maníaco carregando apenas um machado. Mesmo após nossa fuga, somos surpreendidos por uma explosão nuclear inevitável, mas a real surpresa é que tudo não passava de um game sendo jogado pelo nosso protagonista, conhecido como Samuel.

Em pouco tempo, estabelece-se que Samuel trabalha na área de games e vive em um futuro próximo e um tanto sinistro. A tecnologia de inteligência artificial se tornou tão avançada e comum o suficiente a ponto de substituir jornalistas e até políticos, como também há uma recuperação de um bombardeio nuclear. 

É com esse pano de fundo que recebemos um pacote especial: um kit de desenvolvimento de A.I.L.A, uma nova experiência no mundo dos games que mistura a IA com realidade virtual. O objetivo? testar a novidade antes de seu lançamento oficial.

A promessa é que a inteligência artificial nomeada A.I.L.A possa criar e moldar jogos a partir do feedback direto do jogador, o que é possível não só com perguntas, mas também ao captar suas emoções e reações durante o gameplay. 

Dessa forma, o jogo se divide nessas duas partes, ou seja, as seções em que controlamos nosso protagonista em seu “mundo real” e as seções em que ele participa das experiências que a IA cria para ele. É claro que A.I.L.A não ia facilitar criando jogos calminhos de aventura, já que ela prefere nos transportar diretamente para experiências exclusivamente de horror.

No começo, ela até pega leve e oferece um cenário mais clichê, do tipo que já vimos inúmeras vezes jogos de terror nos últimos anos. Não há muito o que fazer além de resolver certos puzzles, e existe até o tradicional “efeito Bloober Team”, que se tornou tão popular em games do gênero após Layers of Fear, onde você tem que se virar e tentar abrir uma porta para algo acontecer atrás do seu personagem, por exemplo.

Depois desta introdução mais amena, dá até para contar à A.I.L.A que a experiência foi meio fraquinha, o que a faz querer caprichar nas próximas. O problema é que logo após o segundo cenário, percebemos que A.I.L.A também se integrou no funcionamento de nosso apertamento, que conta com um sistema inteligente para praticamente tudo. A partir daí, fica claro que nossa amiguinha artificial não se contentará em oferecer apenas jogos moldados em nossos gostos e reações.

As experiências de A.I.L.A

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Mesmo já tendo uma noção prévia do conceito geral do jogo, não tenho como deixar de mencionar o quanto A.I.L.A me surpreendeu positivamente. Essa divisão do gameplay, os diferentes mundos de jogos apresentados pela IA e as partes que envolviam a A.I.L.A no “mundo real” renderam uma experiência bem diferente e única. 

Além disso, mesmo conforme ia avançando e descobrindo mais sobre a trama, parecia difícil prever quais eram as intenções finais e qual seria o desfecho de tudo o que estava acontecendo. Quem costuma jogar muitos games de terror sabe que acaba sendo bem raro.

É claro que fica difícil de comentar tanto sobre as experiências proporcionadas por A.I.L.A sem estragar o que o game tem a oferecer. Eu realmente acho que esse é o tipo de jogo que você deve vivenciar por si próprio para aproveitá-lo ao máximo, então vou revelar o mínimo possível. Conforme eu falei, os jogos criados pela IA começam de forma mais clichê, mas A.I.L.A vai pegando as reações, respostas e até interesses reais do nosso personagem para criar os próximos cenários.

Dessa forma, os jogos feitos por ela se tornam mais longos, mais elaborados, com uma trama de fundo, com inimigos, armas, combate, puzzles mais trabalhados, etc. Isso passa demais a sensação de manipulação, ainda mais quando ela usa elementos mais pessoais de Samuel, o que se torna bem relevante.

O interessante é ver que nessas experiências há muitas convenções tradicionais de outros jogos de terror, além de temas que geralmente são abordados com frequência ou costumam ser fontes de medo das pessoas. De certa forma, vi boa parte disso como uma grande celebração aos jogos, histórias e até filmes de terror, algo que claramente foi intencional, considerando que há easter eggs e referência extremamente claras de franquias muito conhecidas.

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Isso nem sempre funciona tanto a favor do game em si, já que alguns elementos parecem meio jogados nesses cenários para marcar presença em vez de passarem a sensação de algo essencial, por exemplo. Ainda assim, não dá para dizer que A.I.L.A não sabe construir uma atmosfera de terror, já que me peguei tomando sustos e me sentindo bem tensa em diversos momentos. 

Isso também é raro para quem joga muitos games do gênero e já se acostumou com sustos, então tenho que admitir que esse título me pegou bem desprevenida diversas vezes, algo que simplesmente adorei.

É claro que todo o tema centrado ao redor do uso de inteligências artificiais também é um ponto muito interessante nesse jogo. Isso é abordado não apenas com a A.I.L.A te oferecendo experiências ou se intrometendo no sistema inteligente da sua casa, mas também através de notícias que você pode assistir entre os jogos fornecidos por ela. É algo no qual eu definitivamente recomendo ficar de olho quando tiver a chance de jogar por si próprio.

Os detalhes técnicos

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Deixando o gameplay um pouco de lado, também precisamos comentar mais sobre a performance, visual e outras questões técnicas. Desenvolvido na Unreal Engine 5, posso dizer que o game rodou muito bem em um PC com setup bem mediano, sem apresentar engasgos no geral. Eu encontrei poucos bugs e o jogo teve apenas um crash durante meus testes com ele, o que felizmente não foi um problema pelo constante salvamento automático. 

Vale dizer que joguei uma versão antecipada e que os desenvolvedores costumam disponibilizar patches para lidar com esses problemas já no dia de lançamento. Ou seja, a tendência é que a experiência fique redondinha no lançamento.

Fora isso, o jogo apresenta um visual e iluminação muito bonitos, mas é possível notar que se trata de um jogo independente feito com um orçamento mais restritivo, o que não é um ponto negativo. Os cenários também são bem interessantes no geral, mas houve momentos em que alguns ambientes e inimigos passaram uma sensação de algo mais genérico.

Considerando o conceito do jogo, em que essas experiências seriam criadas por uma IA, eu acho que até faz bastante sentido, mas ainda assim seria interessante ter um design mais memorável para os inimigos pelo menos. Por fim, como esperado de um jogo desenvolvido por brasileiros, A.I.L.A pode ser aproveitado inteiramente em nosso idioma, tanto nos textos como no áudio.

Vale a pena?

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Como grande fã de jogos de terror, especialmente aqueles criados por desenvolvedores independentes, posso dizer facilmente que A.I.L.A não só vale muito a pena, como pode te surpreender bastante. Esse jogo sabe criar uma atmosfera tensa, te pegar desprevenido e realmente te deixar sem saber o que nos aguarda em seguida, elementos essenciais para uma experiência de terror legítima.

Há um carinho muito claro por parte dos desenvolvedores não só na criação desse jogo, mas também pelo gênero de terror em si.

Há um carinho muito claro por parte dos desenvolvedores não só na criação desse jogo, mas também pelo gênero de terror em si. O título está rodeado de homenagens e referências que o deixam ainda mais rico, mesmo que algumas delas fiquem sobrando em certos momentos. 

Para quem é apaixonado pelo terror, A.I.L.A é uma das gratas surpresas de 2025 e um dos jogos que você não pode deixar passar batido.

Nota do Voxel: 85

Uma cópia de A.I.L.A para computador foi cedida pela desenvolvedora para a realização da review. Além do PC, o jogo também chega para PS5 e Xbox Series S/X.

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