A China pode não liderar em chips de IA, mas tem um trunfo poderoso frente aos Estados Unidos: eletricidade mais barata e uma rede elétrica gigantesca. Esse diferencial está impulsionando sua capacidade de treinar modelos de IA com custo competitivo.
Enquanto os Estados Unidos são pioneiros em modelos de IA e detêm chips avançados, seus data centers enfrentam preocupações com a oferta de energia. Na China, a energia de baixo custo está atraindo investimentos e transformando regiões inteiras, afirma matéria no The Wall Street Journal.

Energia barata é uma vantagem estratégica em IA
A China construiu a maior rede elétrica da história e, em 2024, gerou mais que o dobro da eletricidade dos EUA. Centros de dados em algumas regiões chinesas chegam a pagar menos da metade do custo pago nos Estados Unidos.
Na China, a eletricidade é nossa vantagem competitiva.
Liu Liehong, chefe da Administração Nacional de Dados da China, ao WSJ.
Esse cenário também ajuda a explicar como o país consegue operar centros de computação em escala tão grande. Entre os principais elementos que sustentam essa vantagem energética estão:
- Capacidade energética instalada muito superior, permitindo maior folga para sustentar data centers emergentes.
- Custo de eletricidade mais baixo, reduzindo o preço do treinamento e da operação de modelos avançados.
- Distribuição mais ampla de fontes renováveis, como parques eólicos e solares integrados às regiões computacionais.
- Infraestrutura de transmissão de ultra-alta tensão, que leva energia das regiões remotas aos polos tecnológicos.
- Investimentos estatais contínuos, garantindo expansão previsível da oferta nos próximos anos.

Analistas do Morgan Stanley estimam que a China investirá cerca de US$ 560 bilhões (R$ 3 trilhões) em projetos de rede elétrica até 2030, um aumento de 45% em relação ao período anterior. O Goldman Sachs prevê que, até 2030, o país terá cerca de 400 gigawatts de capacidade ociosa — o equivalente a três vezes a demanda mundial de centros de dados naquele ano.
Essa vantagem se tornou uma preocupação para empresas estadunidenses de tecnologia. O CEO da Microsoft, Satya Nadella, afirmou temer não haver energia suficiente para alimentar todos os chips que a companhia está adquirindo. Segundo o Morgan Stanley, os EUA podem enfrentar, nos próximos três anos, um déficit de 44 gigawatts — o mesmo que a capacidade do estado de Nova York no verão.

Energia barata impulsiona a IA chinesa
O custo reduzido da eletricidade tem ajudado empresas de IA na China, como a DeepSeek, a desenvolver modelos de alta qualidade. Isso também ameniza o impacto do uso de chips domésticos, que ainda não têm desempenho equivalente aos modelos americanos. Ao agrupar milhares desses chips, o país pode se aproximar de um desempenho superior, embora com maior consumo de energia.
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Essa dinâmica tem transformado cidades como Ulanqab, na Mongólia Interior, que se tornaram polos energéticos e tecnológicos com o programa “Dados do Leste, Computação do Oeste”. A região viu seu PIB crescer 50% em cinco anos e atrair US$ 35 bilhões (R$ 189 bilhões) em investimentos, com Apple, Alibaba e Huawei operando data centers locais.
Desde os anos 1970, a China vem ampliando sua infraestrutura energética com usinas termelétricas, hidrelétricas, solares e eólicas, além da maior rede de linhas de ultra-alta tensão do mundo. Hoje, possui cerca de 3,75 terawatts de capacidade instalada — mais que o dobro dos EUA.
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