Afinal, a IA é uma bolha?

Tenho pensado muito sobre essa pergunta — “será que a IA é uma bolha?” — mas, convenhamos, pensar sozinho não adianta muito quando se está cercado de gente mais inteligente. (Autoconhecimento é uma virtude). Então, em vez de bancar o oráculo do Vale do Silício, fiz o que qualquer nerd de tech faria: mergulhei em podcasts e relatórios sem fim.

 

Comecei pelo Public Markets Update do Coatue, de Philippe Lafont, depois fui ao BG2 Pod com Bill Gurley e Brad Gerstner, passei pelo episódio de Derek Thompson no Plain English — “This Is How the AI Bubble Could Burst” —, ouvi Howard Marks na CNBC pregando otimismo racional e finalizei com a visão mais cautelosa da Apollo, que alerta para o risco de excesso de exposição à IA.

 

Depois disso tudo, acho que ganhei o direito de ter uma opinião — ou, pelo menos, de organizar as dos outros.

 

Por que alguns acham que é uma bolha

 

1. O tamanho do investimento vs. o lucro real.

O capex em IA é gigantesco, mas boa parte da receita ainda é especulativa ou circular. Derek Thompson aponta esse descompasso como o primeiro ato de toda bolha. Bill Gurley e Brad Gerstner chamam isso de “vendor-financed demand” — quando o próprio fornecedor financia a demanda.

A Microsoft, por exemplo, investiu na OpenAI parte em créditos da Azure; a OpenAI usa esses créditos e a Microsoft reconhece como receita. A Nvidia fez algo parecido ao garantir compras do excesso de oferta da CoreWeave. Esses fluxos circulares geram dúvida sobre o quanto da demanda é de fato orgânica.

 

2. Concentração e fragilidade.

Grande parte do desempenho vem das Mag 7, o que torna o mercado dependente de poucas gigantes — um déjà-vu dos anos 2000. Some a isso um capex pesado em infraestrutura e valuations altos, e os sinais de alerta ficam claros.

 

3. Valuations e expectativas.

O S&P 500 está perto do topo do múltiplo P/L histórico, com o setor tech negociando cerca de 22x lucro (vs. ~18x em outros setores). Pagar caro esperando a “próxima revolução industrial” exige fé. Se a tese tropeçar, o prêmio desaparece rápido.

 

Por que acredito que não é uma bolha (ainda)

 

Apesar dos riscos, há bons motivos para achar que estamos diante de um ciclo transformacional, não de uma bolha.

 

1. Adoção e utilidade reais.

A IA tem tração concreta: consumidores (ChatGPT próximo de 1 bilhão de usuários), empresas e toda a cadeia de software, chips, energia e redes se ajustando. Assim como o cloud levou anos para maturar, o retorno pode ser lento, mas real.

 

2. Financiamento sólido.

Diferente de bolhas passadas, o investimento vem de empresas com muito caixa e pouco endividamento. Isso reduz o risco sistêmico e dá fôlego para esperar os retornos.

 

3. Valuations altos, mas racionais.

O Coatue destaca que o prêmio atual do setor TMT é modesto — cerca de 20% acima da média histórica. Howard Marks concorda: preços elevados, mas ainda longe da euforia irracional.

 

4. Diversidade de oportunidades.

A revolução da IA não se limita a poucos nomes: vai de semicondutores a data-ops, de energia a software corporativo. É uma construção de ecossistema, não uma aposta única.

 

Onde mora o risco:

Se os unit economics da inferência não fecharem, se parte da demanda for “fantasma” ou se vier um choque macro (tarifas, regulação, aperto de liquidez), o mercado pode corrigir rápido.

 

Mas, na minha visão, a IA não é uma bolha — ainda.

A tecnologia tem valor real, o capital é sólido, valuations altos, mas defensáveis, e o mercado é amplo. Ainda assim, é um território de risco, que exige disciplina: olhar para unit economics, qualidade da demanda e o timing da curva J.

 

Em resumo: a questão não é se a IA vai transformar a economia — e sim quando e quem vai capturar esse valor.

Para mim, isso não é uma bolha. É uma mudança geracional.

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