A Alemanha está acelerando sua transformação no setor de defesa com foco em inteligência artificial (IA), startups militares e tecnologias não convencionais. Após décadas de cautela, impulsionada por um histórico pacifista no pós-guerra, o país adota uma nova postura diante do cenário internacional, especialmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Com um plano ambicioso para quase triplicar o orçamento anual de defesa até 2029, o governo alemão quer posicionar o país como liderança europeia na indústria militar, e a inovação tecnológica está no centro dessa estratégia. Robôs com IA, mini-submarinos autônomos e até baratas espiãs cibernéticas equipadas com sensores fazem parte dessa nova abordagem, como mostra uma reportagem da Reuters.

Startups militares ganham espaço na Alemanha
A Helsing, considerada a startup de defesa mais valiosa da Europa, é símbolo dessa guinada. Criada há quatro anos, a empresa fabrica drones militares e sistemas de IA para o campo de batalha. Em sua última rodada de captação, mais que dobrou sua avaliação, chegando a US$ 12 bilhões.
“Queremos ajudar a devolver à Europa sua espinha dorsal”, afirmou Gundbert Scherf, cofundador da empresa. Ele compara o momento atual com o Projeto Manhattan, responsável pelo desenvolvimento da bomba atômica nos EUA durante a Segunda Guerra.
O governo do chanceler Friedrich Merz vê startups como aliadas estratégicas e está reduzindo entraves burocráticos para facilitar sua entrada em licitações militares. Um novo projeto de lei prevê pagamentos antecipados a empresas iniciantes e a possibilidade de restringir concorrências a fornecedores da União Europeia.
IA e baratas espiãs no campo de batalha
As inovações não se limitam ao digital. A empresa Swarm Biotactics está desenvolvendo baratas cibernéticas controladas remotamente, capazes de coletar dados em tempo real em ambientes hostis. Equipadas com estímulos elétricos e sensores, as baratas podem operar sozinhas ou em enxames coordenados.

“São bio-robôs com estimulação neural e comunicação segura”, explica o CEO Stefan Wilhelm. A ideia é usá-las para reconhecimento e vigilância, em situações onde soldados não podem entrar.
Drones e IA também são áreas prioritárias para o Ministério da Defesa. Segundo Annette Lehnigk-Emden, diretora da agência de compras das Forças Armadas, essas tecnologias são tão revolucionárias quanto o tanque ou o avião em guerras anteriores.

Investimentos e talentos em alta
A mudança de mentalidade se reflete no aumento do interesse por trabalhar no setor. O número de contatos recebidos por líderes de inovação, como Sven Weizenegger, do Cyber Innovation Hub da Bundeswehr, cresceu significativamente desde 2020. “A Alemanha desenvolveu uma nova abertura para a questão da segurança”, afirma.
O cenário também favorece o investimento. O capital de risco destinado a startups militares na Europa saltou de US$ 373 milhões em 2022 para US$ 1 bilhão em 2024. Só na Alemanha, essas empresas captaram US$ 1,4 bilhão nos últimos cinco anos.
Empresas como a ARX Robotics, que fabrica robôs autônomos, e a Quantum Systems, especializada em drones, já alcançaram valorações bilionárias. A combinação entre talento técnico e infraestrutura industrial ociosa — especialmente no setor automotivo — criou um ambiente propício para escalar soluções inovadoras.
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Desafios e ambições
- Apesar do crescimento, a fragmentação do mercado europeu e os processos de aquisição voltados a fornecedores tradicionais ainda são barreiras para startups.
- Diferentemente dos Estados Unidos, onde empresas como Palantir, Shield AI e Anduril receberam apoio institucional desde 2015, a Europa ainda está ajustando seus mecanismos de apoio à inovação em defesa.
- Mas os sinais de mudança são claros. “A sociedade reconheceu que precisamos defender nossas democracias”, disse Christian Saller, sócio da HV Capital, investidora da ARX e da Quantum.
- O governo alemão, por sua vez, reforça que dinheiro não é mais o problema, como afirmou recentemente o ministro da Defesa, Boris Pistorius.
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