Um futuro preocupante é projetado para o Nordeste brasileiro. De acordo com um estudo do Centro Estratégico de Excelência em Políticas de Águas e Secas (CEPAS), em parceria com a Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará, até o final do século quase toda a região pode estar em condições áridas ou semiáridas.
O levantamento, divulgado durante a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), alerta que a desertificação tende a crescer, principalmente no interior do Ceará, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem altas.
Em resumo:
- Estudo alerta que o Nordeste ficará quase totalmente árido até 2100;
- Desertificação avança rapidamente se emissões de gases permanecerem altas;
- Mesmo medidas moderadas aumentam áreas áridas e semiáridas significativamente;
- Sertões do Ceará se tornarão semiáridos antes de outras áreas;
- Gestão hídrica adaptativa e políticas integradas são essenciais e urgentes.
Futuro do Nordeste está nas mãos humanas
O estudo analisou 19 modelos climáticos globais e classificou as áreas do Nordeste segundo o equilíbrio entre temperatura e umidade, usando o método de Thornthwaite. Foram avaliados dois cenários: um de emissões intermediárias e outro de altas emissões. A pesquisa mostra que, mesmo com medidas moderadas, a área árida pode aumentar de 3% para 26% e o semiárido de 43% para quase 60% até 2100.
No pior cenário, de altas emissões, a situação é alarmante. O território árido chegaria a 56,7% e o semiárido a 42,4%, somando 99% da região. O relatório destaca que decisões humanas podem mudar esse destino, reduzindo o estresse hídrico se houver políticas e ações efetivas de adaptação e mitigação.
Segundo o estudo, o Ceará deve sentir os efeitos antes do restante do Nordeste. Áreas hoje subúmidas, como os sertões dos Inhamuns, Cariri e médio Jaguaribe, podem se tornar semiáridas nas próximas duas décadas. Refúgios litorâneos e de altitude resistem mais, mas diminuem e se fragmentam ao longo do tempo. A escassez de água afetará a recarga de rios e reservatórios e reduzirá a produtividade agrícola, além de ameaçar a biodiversidade e aumentar a vulnerabilidade das comunidades rurais.
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Situação exige gestão inteligente e estratégica da água
Ao site AgroEmCampo, Alexandre Araújo Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará, alerta que é essencial identificar limites e possibilidades de adaptação dos sistemas humanos e naturais no semiárido. O engenheiro José Kerlly Soares de Araújo, da Universidade Federal do Ceará, ressalta que “o avanço da aridez, mesmo sob cenários moderados, evidencia a necessidade de fortalecer políticas públicas antecipatórias e inovar em tecnologias de uso eficiente da água”.
Segundo o diretor do CEPAS, Francisco de Assis de Souza Filho, o Nordeste representa “a fronteira climática do Brasil”. Para ele, a gestão da água deve se tornar flexível e adaptável, combinando conhecimento científico, políticas públicas e a participação das comunidades locais.
Diante desses resultados, não restam dúvidas que, sem ações imediatas, o Nordeste enfrentará um século marcado por seca intensa, com impactos graves na agricultura, na disponibilidade de água e na vida das comunidades. A adaptação rápida e integrada é essencial para reduzir riscos e preservar tanto os ecossistemas quanto a economia da região.
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