Um problema nos servidores da Cloudflare deixou partes da internet fora do ar na manhã desta terça-feira. Serviços como X (antigo Twitter), ChatGPT, Canva, Discord e até o site do Olhar Digital apresentaram falhas de carregamento, lentidão e erros de conexão.
A empresa não é a primeira este ano a registrar um problema que derrubou a internet a nível global. No final de outubro, uma falha na Amazon Web Services (AWS), divisão de computação em nuvem da Amazon, também provocou instabilidades em centenas de plataformas e serviços.
Na época, especialistas chamaram atenção para como os usuários de internet estão à mercê de poucos provedores e de como isso pode facilitar os apagões. Raphael Farinazzo, COO da PM3, referência em Produtos Digitais no Brasil, conversou com o Olhar Digital sobre ambos os casos, como funcionam os serviços da Cloudflare e qual o aprendizado nessas situações.

O que aconteceu com a Cloudflare?
Um problema técnico na Cloudflare deixou partes da internet fora do ar na manhã desta terça-feira (18). O problema começou por volta das 8h (horário de Brasília). Às 9h, o Downdetector, site que monitora o funcionamento de plataformas e apps, já havia registrado mais de 3.500 reclamações.
Com o erro, usuários de plataformas que usam a infraestrutura da Cloudflare – como X, ChatGPT, Canva, Letterboxd e até o Olhar Digital – experienciaram uma mensagem de erro na tela (como mostra a imagem acima), que impedia o acesso. Confira todos os serviços afetados pela falha neste link.
Em uma página de status, por onde atualiza o funcionamento de seus servidores, a empresa admitiu que se trata de um erro generalizado que afetou vários clientes e que estava investigando o caso.
Às 10h09, a Cloudflare afirmou que o problema foi identificado e uma correção estava sendo implementada. Já às 10h13, escreveu que fez mudanças que permitiram que seus sistemas se recuperassem e que as taxas de erro voltaram aos números anteriores ao incidente. A empresa continuou atualizando a página dizendo que estava investigando o caso e trabalhando para que os serviços voltassem à normalidade.

O que é a Cloudflare?
A Cloudflare é uma empresa americana que oferece serviços para proteger e otimizar o desempenho de sites e aplicativos na internet.
Farinazzo deu mais detalhes. Ele explicou que a Cloudflare é um serviço com duas funções: ele protege sites e aplicações contra ataques hackers, e também acelera o tempo de carregamento dessas páginas. Segundo ele, é “uma espécie de posto de controle, um intermediário entre o usuário e o site”.
Na prática, funciona assim:
A empresa mantém, em vários servidores espalhados pelo mundo, elementos necessários para que um site ou aplicativo funcione, como imagens, arquivos de estilo (CSS) e outros componentes importantes para o carregamento. Quando o usuário acessa esse site ou app, a Cloudflare entrega esses elementos a partir do servidor mais próximo dele, o que torna tudo mais rápido. Alguns conteúdos que mudam muito rapidamente, como dados dinâmicos do próprio site, não são armazenados. Mesmo assim, esse tráfego continua passando pela proteção da Cloudflare, que impede ataques hackers e outros tipos de ameaça.
Raphael Farinazzo, COO da PM3 e especialista em Produtos Digitais
O executivo revela que a proteção realmente funciona e que os serviços melhoram o desempenho de sites ao redor do mundo. No entanto, como a Cloudflare atua como intermediária, qualquer problema nos servidores da empresa faz com que todos os sites e aplicativos que dependem dela fiquem indisponíveis.
Foi justamente isso que aconteceu nesta terça-feira.

Origem do problema não foi revelada – e nem deve ser
Ao Olhar Digital, a Cloudflare afirmou que observou um “pico de tráfego incomum” em seus serviços por volta das 8h20 (horário de Brasília), o que fez com que parte do tráfego que passava por sua sede (na Califórnia, nos Estados Unidos) apresentasse erros.
A empresa admitiu que ainda não sabe a causa do aumento repentino do tráfego e que, por ora, o foco é garantir que os serviços afetados sejam reestabelecidos. Só depois é que vai investigar a origem do problema.
De acordo com Farinazzo, essa falta de especificidade, dizendo que houve apenas um “pico de tráfego”, não é por falta de transparência, mas sim algo positivo.
Quando você revela detalhes técnicos demais, acaba expondo o funcionamento do seu serviço – e, no caso deles, isso significa expor justamente o que mantém os clientes protegidos. Quanto menos informações públicas sobre como o sistema opera e como poderia ser derrubado, mais seguro ele permanece. Então, essa falta de detalhes é uma medida de proteção.
Raphael Farinazzo, COO da PM3 e especialista em Produtos Digitais
Ele ainda chamou atenção para como a Cloudflare existe justamente para suportar grandes volumes de acesso em sites. Ou seja, parece que houve algum tipo de sobrecarga incomum que a empresa não conseguiu segurar – mas que ele defende que deve permanecer sem uma explicação detalhada.

AWS, CrowdStrike: Cloudflare não foi a primeira
O problema na Cloudflare não foi o primeiro a deixar a internet instável globalmente este ano.
No dia 20 de outubro, uma falha global na Amazon Web Services provocou instabilidades em centenas de serviços (como Zoom, Canva, Duolingo, Signal e Slack). No Brasil, iFood, Mercado Livre, Mercado Pago e plataformas da própria Amazon (como o Prime Video e assistente Alexa) foram alguns dos serviços que oscilaram.
O problema durou o dia inteiro. Alguns dias depois, a AWS revelou que o motivo da falha foi um bug no DynamoDB, seu sistema de banco de dados. Confira os detalhes aqui.
E tem mais:
- No ano passado, uma falha no software da CrowdStrike derrubou grandes partes da internet;
- Na ocasião, o problema travou computadores no mundo todo, o que provocou interrupção de serviços essenciais, como hospitais, e provocou o cancelamento de voos;
- O prejuízo foi de US$ 5 bilhões. Relembre o caso aqui;
- Também no ano passado, a empresa de telecomunicações AT&T passou por um colapso de 11 horas que cortou a conexão dos clientes.

Internet está à mercê de poucos provedores
Na ocasião da falha da AWS, especialistas consultados pela CNN alertaram que apagões de internet podem acontecer por vários motivos. No entanto, a frequência desses eventos tem se tornado preocupante e demonstra que serviços online estão recorrendo a poucos provedores de tecnologia para garantir suas operações. E quando esses provedores caem… tudo cai, como aconteceu no caso da Cloudflare e pode voltar a acontecer no futuro.
Leia mais:
- Entrevista: o apagão global da AWS que deixou a internet fora do ar
- O que é Cloudflare, que derrubou parte da internet nesta terça?
- Pane na AWS: quais são as consequências?
Raphael Farinazzo falou sobre os aprendizados que se pode tirar com esses apagões:
O aprendizado é que o plano de recuperação de desastres precisa ser cada vez melhor. Tem uma coisa difícil para quem trabalhar com tecnologia que é como a gente se antecipa para esses riscos do ponto de vista de custos.
Os riscos sempre vão existir, mas as empresas têm que trabalhar em duas frentes. Primeiro em reduzir o risco. Segundo, reduzir o impacto, caso aconteça. E geralmente, para trabalhar nisso, existe custo. Você pode ter uma aplicação igual em outros servidores esperando para ser utilizada ou distribuída no caso de falha, mas você vai pagar o dobro por isso. Seriam dois servidores.
Em alguns casos, a empresa pensa: se a falha acontecer, eu vou perder uma certa quantia de dinheiro… mas eu vou gastar o triplo ou dez vezes mais para evitar. Às vezes, as empresas acabam tomando decisões difíceis a respeito de como equilibrar o custo para não parar a operação e não comprometê-la com custos elevados.
Eu acho que o aprendizado é esse balanceamento. O que vale a pena ter no ar para evitar que isso aconteça.
Raphael Farinazzo, COO da PM3 e especialista em Produtos Digitais
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