Baleias-jubarte de diferentes regiões fazem “troca cultural” de canções, diz estudo

Da mesma forma que um cidadão nordestino acabará “pegando” algumas gírias dos paulistas se ambos conviverem por tempo suficiente (e vice-versa), baleias-jubarte também podem fazer uma “troca cultural”, aprendendo chamados – ou “canções” – de suas contrapartes de outras áreas do planeta.

A conclusão vem de um estudo da Universidade de Queensland, na Austrália, que analisou padrões de canções de exemplares machos das espécies entre 2009 e 2015, percebendo que as baleias da Nova Caledônia, no sul do Oceano Pacífico, estavam entoando chamados de suas primas na costa leste da Austrália – sem nem mesmo errar uma nota.

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Baleias-jubarte realizam o que cientistas chamam de “troca cultural”, ou seja, espécimes de uma região “aprendem” as canções e chamados de “primos” de outra área (Imagem: Tomas Kotouc/Shutterstock)

“Isso indica um nível de transmissão de hábitos que vai além do observado em qualquer espécie não humana”, disse a doutora Jenny Allen, cuja tese de doutorado pela universidade deu início ao estudo.

Segundo a especialista, a conclusão veio após ampla análise tanto da quantidade de sons produzidos pelas baleias-jubarte, como também suas respectivas durações.

“Ao ouvir as jubartes australianas, nós fomos capazes de avaliar se as canções mudavam em qualquer maneira quando entoadas pelas baleias da Nova Caledônia”, disse a Dra. Allen. “Descobrimos que elas haviam aprendido os sons exatos, sem nenhuma simplificação e sem esquecer de nenhum tom. E a cada ano em que as observamos, elas entoavam um chamado diferente, o que indica que as baleias-jubarte podem aprender canções inteiras de outras populações muito rapidamente, mesmo que [a canção] seja complexa ou difícil”.

Segundo o estudo, é provável que essas baleias-jubarte estejam realizando essa troca cultural quando interagem em locais conjuntos de alimentação: ambas as espécies compartilham rotas de migração pela Nova Zelândia e costumam se alimentar juntas na Antártida.

Vale lembrar que as jubartes foram recentemente retiradas da lista de animais ameaçados de extinção, mas a Dra. Allen afirma que isso é só o começo, e esforços de conservação devem ser ampliados se vamos preservar – e facilitar – a reprodução da espécie. Este estudo, segundo ela, é uma forma de nos colocar neste caminho:

“Ter uma compreensão aprofundada de uma espécie é comprovadamente um ótimo meio de melhorar a eficácia da conservação e gerenciamento dela”, ela comentou. “Agora, nós temos um panorama mais holístico dos comportamentos, movimentos e interações entre as baleias-jubarte, incluindo essa troca cultural. Isso quer dizer que estamos melhor equipados para protegê-las contra as várias ameaças que enfrentam, à medida que nosso clima e nosso planeta continuam a mudar”.

A pesquisa completa foi publicada no jornal Scientific Reports.

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