Big techs pedem mais tempo para evitar caos fiscal na reforma tributária

Coalizão de gigantes digitais e de streaming – como Amazon, iFood, Shein, Uber, Google, Meta e Netflix – pediu mais prazo para se adaptar às novas regras da reforma tributária. O grupo argumenta que não há condições de implementar todas as exigências até 1º de janeiro de 2026, quando o novo sistema fiscal passa a valer.

Hoje, essas empresas usam regimes especiais que permitem emitir uma única nota fiscal para diversas operações. Com a reforma, será preciso gerar um documento individual por transação, incluindo dados como CPF e CEP do cliente. 

Segundo o setor, a mudança pode elevar a emissão para mais de 20 bilhões de notas por ano. Atualmente, o número fica na casa das centenas de milhares.

Big techs e reforma tributária: o que está em jogo com as novas regras

A reforma tributária muda não só a forma de arrecadar impostos, mas também o dia a dia das empresas na emissão de notas fiscais. A exigência de registrar cada transação de forma individual traz impacto direto para plataformas digitais e serviços de streaming, que lidam com milhões de operações diárias. 

Reforma tributária muda a forma de arrecadar impostos e o dia a dia das empresas (Imagem: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Essa é a principal preocupação da coalizão, segundo o jornal Folha de S. Paulo. Três entidades integram o grupo: Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), Strima e Camara-e.net. Juntas, elas representam grandes empresas de tecnologia.

Principais pedidos do setor

As empresas defendem que seja criado um prazo de adaptação específico para as chamadas obrigações acessórias, como a emissão dos novos documentos fiscais. O objetivo é evitar penalidades enquanto os sistemas são ajustados. 

Além disso, pedem que os documentos atualmente utilizados continuem sendo aceitos durante a transição. A ideia é reduzir o risco de paralisação das operações.

Outro ponto levantado pela coalizão é a necessidade de suspender temporariamente as multas para quem não conseguir cumprir todas as regras já em 2026. Para o setor, a combinação dessas medidas permitiria uma transição mais segura, sem comprometer o cronograma geral da reforma.

Risco de judicialização e limites dos sistemas

O diretor-executivo da Amobitec, André Porto, afirma que o setor apoia a reforma, mas alerta para o risco de uma “chuva de judicialização” caso não haja uma solução até dezembro, segundo a Folha. Porto disse que nenhuma empresa quer correr o risco de multas por descumprir regras que ainda não estão totalmente claras.

Um ponto de preocupação de big techs é a capacidade dos sistemas governamentais de absorver o salto no volume de notas fiscais por conta da reforma tributária (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Outro ponto de preocupação é a capacidade dos sistemas governamentais de absorver o salto no volume de notas fiscais. A estimativa das empresas é que o número de documentos salte para mais de 26 bilhões por ano. A dúvida é se a infraestrutura pública terá fôlego para processar tantos dados sem falhas.

Os municípios, por exemplo, precisam estar preparados para o aumento no número de notas de prestadores de serviços, já que a emissão continuará sendo feita na sede da empresa. Quase metade das cidades brasileiras ainda não aderiu ao portal nacional da NFS-e, o que reforça a dúvida sobre a capacidade dos sistemas locais acompanharem a transição no prazo.

Avanços no Congresso

A pressão do setor já trouxe resultados no Legislativo. O relatório do Projeto de Lei Complementar (PLP) 108/2024, segundo projeto de regulamentação da reforma, incluiu a possibilidade de emissão de documentos fiscais consolidados. É uma forma de simplificação para empresas que lidam com grande volume de transações.

Demandas adicionais da coalizão de big techs devem ser analisadas pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado nesta semana (Imagem: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

A expectativa agora é ampliar essas concessões. As demandas adicionais da coalizão devem ser analisadas pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que pode votar o texto já na próxima quarta-feira (17). O setor vê nesse espaço uma chance de ajustar pontos que considera inviáveis de serem cumpridos no prazo estabelecido.

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O que vem pela frente

A contagem regressiva para a reforma tributária pressiona empresas e governos. Enquanto o setor cobra mais tempo e segurança jurídica para adaptar seus sistemas, o Congresso discute ajustes que podem aliviar parte das obrigações. 

Ainda assim, a incerteza sobre a capacidade técnica das administrações públicas e o risco de disputas judiciais mostram que a transição para o novo modelo fiscal deve ser um dos maiores desafios até 2026.

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