A corrida global por infraestrutura para inteligência artificial está levando grandes empresas de tecnologia a buscarem soluções cada vez mais ambiciosas para expandir a capacidade de data centers.
Diante do alto consumo de energia, da ocupação de grandes áreas e do impacto ambiental desses centros em solo, bilionários do setor passaram a defender uma alternativa até pouco tempo vista como futurista: levar os data centers para o espaço. As informações são do The Verge.
Somente em 2025, foram anunciadas seis propostas de grandes centros de dados voltados à IA que exigem múltiplos gigawatts de energia, um patamar que até 2024 era tratado apenas como rumor. Ao mesmo tempo, cresce a percepção pública de que data centers terrestres consomem grandes volumes de água, geram poucos empregos, aumentam custos de eletricidade e contribuem para a poluição. Nesse cenário, o espaço surge como uma nova fronteira comercial para o setor.
Data centers em órbita ganham apoio de gigantes da tecnologia
A ideia central é instalar data centers em órbita da Terra, na forma de satélites equipados com painéis solares. Em tese, a luz solar contínua poderia fornecer energia abundante para processar grandes volumes de dados, especialmente os relacionados à IA. Nomes como Elon Musk, Jeff Bezos, Sundar Pichai e Eric Schmidt ampliaram recentemente o foco de suas empresas aeroespaciais para incluir projetos desse tipo.
Além das big techs, startups especializadas também entraram na disputa. A Aetherflux, nos Estados Unidos, já apresentou planos de implantação. Outras iniciativas contam com parcerias estratégicas, como a colaboração entre a Planet e o Google, além do apoio da Nvidia à Starcloud, que lançou em novembro um satélite equipado com GPUs H100.
A China, por sua vez, colocou em órbita um conjunto de satélites de supercomputação capazes de processar dados no espaço, enquanto a Europa vê os data centers espaciais como uma oportunidade emergente.
Um dos projetos mais detalhados até agora é o Project Suncatcher, do Google. A proposta prevê o lançamento inicial de dois satélites protótipos em 2027, com a possibilidade de chegar a 81 unidades operando juntas em órbita baixa e sincronizada com o Sol. Cada satélite carregaria chips TPU, interligados por lasers, formando uma estrutura inédita em comparação com constelações tradicionais.
Desafios técnicos e ambientais preocupam especialistas
Apesar do entusiasmo empresarial, astrônomos e cientistas ambientais demonstram ceticismo. O custo de lançar equipamentos no espaço continua elevado, e o aumento no número de satélites intensifica o risco de colisões com detritos orbitais. Atualmente, mais de 14 mil satélites ativos estão em órbita, sendo cerca de dois terços da constelação Starlink.
Especialistas apontam que constelações densas de satélites enfrentariam um verdadeiro “campo minado” de fragmentos espaciais, exigindo manobras frequentes para evitar impactos. Isso implica maior consumo de combustível, aumento do tamanho das espaçonaves e, potencialmente, mais lixo espacial.
Entre os principais desafios associados aos data centers espaciais, estão:
- alto custo de lançamento e manutenção;
- risco elevado de colisões com detritos orbitais;
- dificuldade de dissipar calor no vácuo;
- impactos potenciais na observação astronômica;
- ausência de manutenção humana direta em órbita.
Outro ponto sensível é a dissipação de calor. No vácuo, isso depende de grandes painéis de radiação infravermelha, que podem interferir em telescópios e pesquisas astronômicas. Grupos ambientais alertam ainda para a falta de transparência das empresas, que muitas vezes tratam detalhes técnicos como segredo comercial, dificultando avaliações independentes.
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Mesmo com essas preocupações, a tendência é que o interesse por data centers espaciais continue. Google e Aetherflux planejam lançamentos em 2027, enquanto a Starcloud prevê expandir suas operações entre 2027 e 2028. Para cientistas, o desafio central será equilibrar inovação tecnológica e sustentabilidade, garantindo que a órbita baixa da Terra permaneça utilizável no longo prazo.
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