A série Boots, lançada pela Netflix neste mês, não é apenas uma ficção sobre jovens fuzileiros nos anos 1990. Ela nasce de uma história verdadeira.
Inspirada no livro The Pink Marine, de Greg Cope White, a produção reconta, de forma livre, a experiência real de um jovem gay que se alistou no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos durante a era Reagan, quando a homossexualidade ainda era um tabu absoluto dentro das forças armadas.
Abaixo, saiba tudo sobre a história real que inspirou Boots, da Netflix!
Boots traz a história de um soldado que ousou ser diferente
Greg Cope White tinha apenas 18 anos quando decidiu se alistar. Frágil e inseguro, ele entrou para os Marines por impulso, acompanhando o melhor amigo.
Seu primeiro desafio foi, literalmente, o peso mínimo exigido: o recrutador improvisou um truque e colou um pedaço de chumbo à sua cintura para que atingisse o número certo na balança. Horas depois, White estava em Parris Island, iniciando um treinamento brutal que moldaria toda a sua vida.
O que começou como uma tentativa de se encaixar num modelo tradicional de masculinidade acabou se tornando uma jornada de autodescoberta. Por seis anos, White viveu em silêncio, ocultando sua sexualidade e adaptando cada frase para esconder quem realmente era.
Ainda assim, foi no ambiente mais repressivo possível que ele encontrou força para aceitar a própria identidade. “Ironia das ironias”, disse ele em entrevista, “os Marines me deram confiança para ser quem eu sou”.

Do livro às telas: como nasceu a série Boots
Décadas depois, essa trajetória se transformou em The Pink Marine, um livro de memórias publicado em 2016. Como de costume, o sucesso acabou levando a história para uma adaptação televisiva.
A obra chamou a atenção do roteirista Andy Parker, criador de Boots e também responsável pela adaptação de Tales of the City para a Netflix. Parker, que cresceu num ambiente religioso e conservador, viu na história de White um espelho de sua própria juventude: um jovem em conflito com a masculinidade e a fé.
Mas Boots não é uma simples biografia. Parker optou por criar um protagonista fictício, Cameron Cope (vivido por Miles Heizer), inspirado em White, mas com espaço para novas histórias e personagens.
O objetivo era ampliar a perspectiva: mostrar que o alistamento militar pode significar muitas coisas, como fuga, busca de pertencimento, disciplina ou até esperança de um recomeço.
A série também homenageia a amizade entre White e seu melhor amigo heterossexual, recriada em tela na relação entre Cameron e Ray McAffey (Liam Oh). Essa conexão emocional, marcada por lealdade e respeito, é o coração da narrativa. Uma representação rara de laços profundos entre homens em um ambiente rigidamente masculino.

Ao situar a trama em 1990, três anos antes da política “Don’t Ask, Don’t Tell”, Boots mergulha em um momento delicado da história americana. Era um tempo em que soldados LGBTQ+ precisavam escolher entre servir ao país e viver sua verdade.
Ser descoberto significava expulsão e vergonha pública. Ainda assim, muitos, como Greg Cope White, permaneceram, encontrando dentro do sistema as ferramentas para se fortalecer.
A produção, supervisionada por veteranos do Corpo de Fuzileiros e pelo próprio White como co-produtor, busca equilíbrio entre autenticidade e emoção. O resultado é uma série que não se limita ao drama militar, mas que explora temas universais: identidade, amizade e coragem para parar de fingir.
Mais do que uma história sobre o exército, portanto, Boots é sobre o poder de se reinventar, mesmo quando o mundo parece não ter lugar para quem você é.