Todas as sextas-feiras, ao vivo, a partir das 21h (pelo horário de Brasília), vai ao ar o Programa Olhar Espacial, no canal do Olhar Digital no YouTube. O episódio da última sexta-feira (17) (que você confere aqui) apresentou como brasileiros descobriram um sistema de anéis em formação ao redor de um asteroide, feito inédito noticiado na última semana.
O líder do estudo Chrystian Luciano Pereira explicou como observatórios ao redor do globo ajudaram a desvendar esse sistema. Pereira é pesquisador de pós-doutorado no Observatório Nacional (MCTI/ON) e afiliado ao Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA).

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Objeto intrigou astrônomos por décadas
Os pesquisadores observaram pela primeira vez a evolução dos três anéis ao redor de Chiron: um centauro com órbita entre Saturno e Urano. Esse tipo de objeto estelar combina características de asteroides e cometas, tendo seu nome em referência aos centauros da mitologia grega, seres metade humanos e metade cavalos.
Descoberto em 1977, Chiron levou décadas para ser desvendado. Observações dos anos 1990 propuseram a existência de jatos confinados ao seu redor. Em 2011, pesquisadores interpretaram esses sinais como anéis e cascas de poeira.

Agora, com os novos dados coletados em 2023 pela equipe liderada por Pereira, os astrônomos confirmaram a existência de três anéis. O grupo juntou dados de 2011, 2019 e 2022 para afirmar que essas estruturas são anelares e densas. Os resultados foram publicados na prestigiada revista científica The Astrophysical Journal Letters, em 14 de outubro.
As inéditas observações também revelaram novidades. “Além dos anéis, observamos um disco de material que não estava presente nos dados anteriores. Isso indica que esse disco surgiu em algum momento, provavelmente de 2020 para cá, e está se assentando no mesmo nível dos anéis”, relatou o pesquisador.
A sombra de Chiron revelou suas propriedades
Para estudar a estrutura de Chiron, os pesquisadores utilizaram a técnica da ocultação estelar. Esse método consiste em medir a variação do brilho de uma estrela que está atrás do objeto. Quando o corpo passa em frente a sua luz, astrônomos detectam essa mudança e podem calcular o tamanho e as propriedades do astro estudado.
“A sombra do objeto reflete na Terra seu exato tamanho e forma. Com observadores sob essa sombra, podemos ver a passagem dela sobre nosso planeta”, explicou Pereira.

Durante a passagem, os astrônomos fazem fotos rápidas e medem o brilho da estrela. Isso gera um gráfico em que cada ponto é um nível de luminosidade. Quando o objeto bloqueia os raios luminosos, uma “barriga” se forma no plano cartesiano: a chamada curva de luz.
Ao se observar diversos desses sinais, é possível discernir o objeto e as estruturas ao seu redor. No gráfico de Chiron, aparecem curvas menores que indicam a passagem dos anéis na frente da luz.
Essa captação revelou ainda mais informações sobre o centauro: “o anel mais interno de Chiron está numa região caótica. Ainda não sabemos se o segundo anel é separado ou um só, dois próximos ou sobrepostos. E o mais externo está muito distante do corpo”, descreveu o pesquisador.

Astrônomos amadores foram essenciais para o estudo
Para observar as ocultações estelares é necessário colaborações globais. Os observatórios ao redor do mundo que estão sob a faixa sombreada podem captar dados do objeto. Ao se unirem, os pesquisadores dessas instituições chegam a um resultado mais nítido das características do astro observado.
A nova pesquisa contou com 31 telescópios distribuídos pela América do Sul, sendo 16 deles só no Brasil. O Observatório do Pico dos Dias, localizado em Brazópolis, Minas Gerais, se destacou ao captar dados de alta qualidade. Ele detém o maior telescópio brasileiro: o Perkin-Elmer, com um espelho de 1,6 metros de diâmetro.

Além dos grandes instrumentos, a participação de cientistas cidadãos contribuiu para a pesquisa. “Contar com os observadores amadores para fazer ciência é fundamental. Sem eles, não teríamos resultados tão rapidamente. Talvez levasse alguns anos de observações para concluir o trabalho”, disse Pereira.
Para o futuro, os astrônomos pretendem compreender melhor os anéis do centauro. “Agora temos um gostinho a mais do que está acontecendo ao redor do Chiron. O próximo passo é entender como esses anéis se formam e ficam confinados, algo precisa segurar essas formações onde elas estão. Vamos seguir observando para explicar melhor o que ocorre por lá”, concluiu o líder do estudo.
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