Um misterioso brilho avermelhado foi registrado no céu da Nova Zelândia no último sábado (11), resultado de um “vazamento na corrente do anel” da Terra. Embora o fenômeno se pareça com uma aurora, sua origem é completamente diferente e está ligada a uma estrutura de energia que envolve nosso planeta.
Pense na Terra como um gigantesco circuito elétrico, composto por partículas carregadas, que flui a milhares de quilômetros de altitude, integrado ao campo magnético que nos protege.
Quando tempestades solares atingem o planeta, essa corrente de anel pode ser sobrecarregada com energia. Parte dessa energia térmica escapa e é transferida para as camadas mais altas da atmosfera, a altitudes entre 300 e 500 km.
Entendendo o vazamento na corrente do anel em detalhes
- O que é a Corrente de Anel?
A Terra não possui anéis sólidos como os de Saturno, mas é circundada por um “anel” invisível de corrente elétrica. Essa estrutura, chamada de Corrente de Anel, é uma região em forma de anel (toroide) localizada entre 10 mil e 60 mil km de altitude, segundo a NASA. Ela é composta por íons e elétrons energéticos que se movem em alta velocidade, presos pelo campo magnético do planeta;
- Como ocorre o “vazamento”?
O termo “vazamento” é uma analogia para a transferência de energia. Durante eventos de alta atividade solar, como as tempestades geomagnéticas, o Sol ejeta uma grande quantidade de partículas carregadas no espaço. Ao atingirem o campo magnético da Terra, elas energizam e intensificam a Corrente de Anel. Quando essa corrente fica sobrecarregada, parte de sua energia térmica é transferida para as camadas mais altas da atmosfera, em um processo de dissipação.
- A origem dos Arcos Vermelhos (arcos SAR)
A energia “vazada” da Corrente de Anel aquece os gases rarefeitos da alta atmosfera, principalmente o oxigênio atômico, a altitudes entre 300 e 500 km. Esse aquecimento não vem da colisão de partículas (como nas auroras), mas sim da transferência de calor. O oxigênio aquecido fica excitado e, ao retornar ao seu estado normal, emite uma luz difusa e monocromática de cor vermelha. Esse brilho é o que se conhece como Arco Vermelho Auroral Estável (arcos SAR).
- Diferença Crucial em Relação às Auroras
Auroras são causadas pela colisão direta de partículas solares com gases na atmosfera. Arcos SAR são causados pelo aquecimento da atmosfera pela energia que vaza da Corrente de Anel. Enquanto as auroras ocorrem em altitudes mais baixas (geralmente de 100 a 300 km), os arcos SAR se formam em altitudes muito mais elevadas (acima de 300 km). Além disso, auroras são dinâmicas, com múltiplas cores (verde, rosa, violeta). Já os arcos SAR são mais difusos e quase exclusivamente vermelhos.
Descobertos nos anos 1950, esses arcos foram inicialmente – e de forma equivocada – chamados de “Arcos Vermelhos Aurorais Estáveis” (SARs). De acordo com a plataforma de meteorologia e climatologia espacial Spaceweather.com, hoje, entende-se que eles não são auroras, mas sim a prova visível de uma complexa interação energética entre o Sol e o nosso planeta.
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Terra ganha dois novos cinturões de radiação
Um artigo publicado em fevereiro no periódico científico Journal of Geophysical Research: Space Physics relata que uma intensa tempestade solar ocorrida em maio de 2024 gerou dois novos cinturões de radiação ao redor da Terra. O mais surpreendente é que um deles continha prótons energéticos, algo nunca antes observado nesse contexto.
Resultado de uma série de erupções no Sol, a tempestade solar lançou uma enorme quantidade de partículas carregadas em direção à Terra. Quando essas partículas atingem o campo magnético do planeta, elas normalmente geram auroras ao interagir com a atmosfera.
No entanto, os efeitos daquele evento em especial foram além do esperado. Cientistas descobriram que, nos meses seguintes, o planeta ficou envolto por dois cinturões adicionais de partículas de alta energia. Saiba mais detalhes aqui.
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