Burnout virou a brecha mais perigosa da cibersegurança

Outubro marcou o Mês da Conscientização em Cibersegurança, um período que costuma
concentrar debates sobre tecnologia, proteção de dados e novos vetores de ataque.
Entretanto, há um tema que, embora menos visível, é igualmente urgente: o impacto
humano na defesa digital. Por trás das plataformas, dos alertas e das respostas a
incidentes, há profissionais que vivem sob pressão constante e o esgotamento desses
especialistas já se tornou um risco para os negócios.

De acordo com o Relatório sobre o Custo Humano da Vigilância 2025 da Sophos – empresa
que lidero no Brasil –, 76% dos profissionais de segurança cibernética afirmaram ter sofrido
burnout no último ano e um em cada cinco descreveu o problema como recorrente. O dado
mais alarmante é a tendência de agravamento: 69% relataram que a situação piorou entre
2023 e 2024. Além disso, o impacto não se limita ao bem-estar individual: 39% dos
entrevistados mencionaram uma queda na produtividade, 29% tiveram que se afastar do
trabalho e 22% consideraram pedir demissão.

O burnout entre agentes de tecnologia e segurança da informação é um fenômeno
crescente. Um levantamento da International Stress Management Association no Brasil
(ISMA-BR) revelou em 2024 que 32% dos brasileiros sofrem da síndrome e 72% se sentem
estressados no trabalho – com destaque para áreas de alta demanda mental, como TI e
cibersegurança –, ressaltando o aumento expressivo de diagnósticos da doença e
evidenciando o esgotamento físico e emocional de colaboradores expostos a longas
jornadas e responsabilidades críticas.

No campo da cibersegurança, esse desgaste tem consequências diretas. Com equipes
reduzidas, sobrecarga de alertas e pressão por respostas rápidas, profissionais lidam com
um nível de estresse que mina a atenção e a eficiência – justamente os elementos que
deveriam sustentar a defesa digital. Além disso, segundo estudo da ISC2, o mundo enfrenta
hoje um déficit superior a 4 milhões de especialistas em segurança cibernética. Essa
escassez, combinada ao esgotamento emocional, cria um ciclo perigoso: quanto mais
reduzidos e pressionados os times, maiores as chances de erro humano – que ainda é o elo
mais fraco da cadeia de proteção.

Os dados mostram que o burnout na área de cibersegurança não é apenas uma questão de
saúde mental, ele deixa as empresas mais expostas. Quando as equipes estão exaustas,
erros acontecem, o tempo de resposta diminui e a probabilidade de uma violação aumenta.
Ignorar esse problema é como deixar a porta destrancada para os atacantes: ameaça
diretamente a resiliência, a reputação e os resultados financeiros das organizações.

Diante deste cenário, torna-se fundamental repensar o equilíbrio entre tecnologia e
pessoas. Soluções como Detecção e Resposta Gerenciada (MDR), já amplamente
adotadas por companhias parceiras da Sophos, ajudam a aliviar a sobrecarga das equipes
internas, permitindo que os profissionais foquem em tarefas estratégicas e sustentáveis.

Mas, vale lembrar que a tecnologia, sozinha, não basta: é preciso promover uma cultura
organizacional que reconheça a importância do descanso, do apoio psicológico e da
capacitação contínua. Por isso, o debate sobre burnout na cibersegurança é também uma
discussão sobre soberania digital. Nenhum país, empresa ou instituição pode ser verdadeiramente protegido se seus especialistas estão exaustos e desmotivados.

O futuro da segurança digital não depende apenas de firewalls e algoritmos, mas da
capacidade de manter quem os opera saudável, engajado e preparado. Ignorar isso é correr
o risco de ver não apenas redes comprometidas, mas também talentos – e milhões em
produtividade – drenados por uma crise silenciosa, porém devastadora.

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