Este sábado (20) entrou para a história da exploração espacial. O foguete New Shepard, da Blue Origin, levou mais uma tripulação de seis turistas para um “bate-volta” até a fronteira final – entre os passageiros, a primeira pessoa que usa cadeira de rodas a ir ao espaço. Originalmente programado para quinta-feira (18), o 16º voo suborbital turístico da empresa aconteceu às 11h17 (pelo horário de Brasília) deste sábado (20), marcando o feito inédito.
A protagonista foi Michaela Benthaus, da Alemanha, engenheira aeroespacial e mecatrônica da Agência Espacial Europeia (ESA). Em 2018, ela sofreu uma lesão na medula espinhal após um acidente de mountain bike e perdeu os movimentos das pernas. Mesmo assim, manteve-se ativa na área espacial, participando, em 2022, de um voo parabólico com gravidade zero e, dois anos depois, de uma missão análoga de 15 dias na Polônia, que simulou rotinas de astronautas em ambiente controlado.

Conhecida como “Michi”, Benthaus integrou a tripulação de seis passageiros da missão NS-37. O lançamento foi acompanhado por transmissão ao vivo no site da Blue Origin, no YouTube e na conta oficial da empresa no X, iniciada cerca de 20 minutos antes da decolagem.
Na quinta, a missão havia sido adiada devido a ventos em alta altitude e, posteriormente, suspensa após a equipe de lançamento identificar um problema durante as verificações integradas pré-voo.

Conheça os outros integrantes da missão
Joey Hyde
Físico e ex-investidor quantitativo, Joey Hyde aposentou-se recentemente após atuar em um grande fundo de hedge. Morando na Flórida com a esposa e cinco filhos, o norte-americano mantém desde a infância uma forte ligação com o espaço. Essa fascinação começou em 1988, quando viu o lançamento do ônibus espacial Atlantis, experiência que o levou a seguir carreira acadêmica até o doutorado em Astrofísica. Para Hyde, voar com a Blue Origin representa dar continuidade ao compromisso de apoiar a ciência e inspirar novos exploradores.
Hans Koenigsmann
De nacionalidade germano-americana, Hans Koenigsmann é um engenheiro aeroespacial conhecido por seu papel essencial no desenvolvimento de foguetes reutilizáveis. Como um dos primeiros funcionários da SpaceX, passou duas décadas ajudando a transformar o setor. Hoje, atua como consultor e integra conselhos de empresas ligadas ao espaço. Piloto licenciado, construiu seu próprio avião e pratica esqui. Pai de duas filhas, Koenigsmann vê sua participação no voo da Blue Origin como uma forma de estimular jovens a seguir carreiras científicas. Ele patrocinou o assento de Benthaus.
Neal Milch
Executivo e empreendedor nos EUA, Neal Milch iniciou sua carreira na empresa familiar LaundryLux, onde modernizou operações e ampliou a atuação global. Atualmente, preside o Conselho de Curadores do Jackson Laboratory, dedicado a pesquisas genéticas voltadas à saúde humana. Crescido durante as eras Gemini e Apollo, adotou o lema latino In Omnia Paratus – “Pronto para tudo”. Milch encara o voo como parte de sua busca por conhecimento e apoio à ciência.
Adônis Pouroulis
Nascido no Chipre, Adônis Pouroulis é um empreendedor e engenheiro de mineração que atua há mais de 30 anos em projetos de minerais críticos, metais e energia sustentável. Fundador da Pella Resources e líder de empresas como a mineradora Rainbow Rare Earths e a desenvolvedora de energia sustentável Chariot Limited, Pouroulis tem forte atuação na transição energética global. Para ele, subir a bordo da New Shepard é a realização de um sonho de vida: ver o mundo a partir do espaço.
Jason Stansell
Natural do oeste do Texas, nos EUA, e entusiasta do espaço, Jason Stansell formou-se em ciência da computação e mantém hobbies ligados à ciência e aventura, como mergulho, aviação e estudo de foguetes. Ele dedica seu voo ao irmão Kevin, que morreu em 2016 após enfrentar um câncer cerebral. Jason espera incentivar o pensamento crítico e a educação científica por meio de sua experiência.

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Voo foi adaptado para Michi Benthaus
De acordo com a agência de notícias APNews, foram necessários apenas pequenos ajustes para acomodar Michi no voo, já que a espaçonave foi projetada com acessibilidade em mente. Segundo Jake Mills, engenheiro da Blue Origin, isso amplia o acesso ao turismo espacial, que já incluiu passageiros anteriores com outras deficiências, como auditiva, e idosos.

Desta vez, uma prancha de transferência foi incluída para permitir que a passageira se movesse entre a escotilha e o assento. Após o pouso, um tapete facilitou o acesso imediato à cadeira de rodas, deixada para trás na decolagem. Michi treinou previamente, com Koenigsmann auxiliando nos testes. Um elevador já instalado na plataforma permitia subir os sete andares até a cápsula no topo do foguete.

Como são os voos turísticos da Blue Origin
Composto por dois estágios (o propulsor e a cápsula de passageiros), o foguete New Shepard realiza voos turísticos suborbitais (que não atingem velocidade suficiente para entrar na órbita da Terra), com aproximadamente 11 minutos de duração.
Poucos minutos depois da decolagem, ocorre a separação dos estágios, com o booster retornando na sequência em um pouso vertical perto do local de lançamento para poder ser reaproveitado. A cápsula, por sua vez, segue subindo até cruzar a Linha de Kármán, considerada o limite do espaço, a 100 km de altitude. Em seguida, retorna em queda livre e pousa com o auxílio de paraquedas no deserto.

Durante cerca de quatro minutos, os passageiros experimentam a sensação de ausência de peso e avistam a Terra do alto. Muitos descrevem essa vivência como transformadora, proporcionando uma nova perspectiva sobre o planeta e sua fragilidade no Universo.
Como o próprio nome sugere, a missão NS-37 foi o 37º voo do New Shepard. Até agora, mais de 90 pessoas já voaram no foguete reutilizável, com algumas tendo repetido a experiência.
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