O mais recente Relatório sobre a Lacuna de Emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) confirma que os compromissos climáticos atuais são insuficientes para evitar graves impactos climáticos. Segundo o documento, a trajetória atual de emissões levará a um aumento de 2,3°C a 2,5°C na temperatura global até o final do século – uma redução modesta em relação à projeção anterior de 2,6°C a 2,8°C, mas ainda assim distante da meta de limitar o aquecimento a 1,5°C.
A melhoria registrada deve-se mais a ajustes metodológicos (0,1°C) e à iminente saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris (que reduzirá outros 0,1°C) do que a avanços reais nas políticas climáticas. Apenas 60 países – responsáveis por 63% das emissões globais – apresentaram novas metas de redução para 2035.
O Brasil tem como objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 53% até 2030 e zerar as emissões líquidas até 2050.
Ultrapassagem de 1,5°C é Inevitável
O relatório afirma que a temperatura média global ultrapassará temporariamente 1,5°C na próxima década, independentemente dos cortes de emissões realizados agora. No entanto, a dimensão e a duração desse excesso ainda podem ser controladas.
“Um aumento temporário acima de 1,5°C é agora inevitável – começando, no mais tardar, no início da década de 2030”, declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres. “Mas isso não é motivo para desistir. É motivo para intensificar e acelerar nossos esforços.”
As emissões globais continuam a crescer, atingindo 57,7 gigatoneladas de CO₂ equivalente em 2024 – um aumento de 2,3% em relação ao ano anterior. Para se alinhar ao limite de 1,5°C, seria necessário reduzir as emissões em 40% até 2030, em comparação com os níveis de 2019. No entanto, a implementação total das metas atuais resultaria em uma redução de apenas 15% até 2035.
“As nações tiveram três tentativas para cumprir as promessas feitas no âmbito do Acordo de Paris, e elas erraram o alvo”, afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA.
Ainda existe esperança?
O relatório explora um caminho alternativo, com medidas rigorosas a partir de 2025, que limitaria a ultrapassagem a 0,3°C e permitiria retornar a 1,5°C até 2100. Esse cenário exigiria cortes de 26% nas emissões até 2030 e 46% até 2035, com base nos níveis de 2019.
O documento ressalta que as tecnologias necessárias – como energias solar e eólica – já estão disponíveis, mas sua implementação em larga escala depende de vontade política e de maior apoio financeiro aos países em desenvolvimento.
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Os países do G20, responsáveis por 77% das emissões globais, terão papel decisivo. Apenas sete membros do grupo apresentaram novas metas para 2035, e as emissões do bloco aumentaram 0,7% em 2024.
O relatório conclui que, embora o desafio seja considerável, a janela para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas ainda está aberta – mas está se fechando rapidamente.
O relatório chega a poucos dias do começo da COP30, que ocorrerá em Belém do Pará de 10 a 21 de novembro, com expectativa de definir os próximos passos cruciais para implementação do Acordo de Paris.
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