Carne de laboratório vira caso de justiça (e de política) nos EUA

Eu já experimentei várias “plant-based meat” e não gostei de nenhuma. Acho que o sabor não lembra em nada carne de verdade – e a textura também me incomoda um pouco. Agora, apesar dessa minha predileção, eu sou completamente a favor da criação desses produtos – até porque existe um público expressivo para eles. Da minha parte, só não comprarei. Mas tem gente que vai e está tudo bem.

O estado da Flórida, nos Estados Unidos, porém, pensa diferente. O governador Ron DeSantis sancionou em maio uma lei que proíbe a venda de carnes cultivadas em laboratório.

A medida ganhou o apoio de alguns produtores rurais, além de integrantes do Partido Republicano. Por outro lado, gerou revolta de ambientalistas, opositores e da comunidade vegetariana.

O tema continuou rendendo nos últimos meses e acaba de virar assunto de Justiça. A empresa Upside Foods, de carne cultivada, e o escritório de advocacia Institute of Justice entraram, na última segunda-feira (12), com um processo contra a Flórida em um tribunal federal.

Eles alegam que a legislação vigente no estado é inconstitucional.

Olhando assim, essa carne parece de verdade ou foi cultivada em laboratório? – Imagem: New Africa/Shutterstock

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Os argumentos das duas partes

A Upside Foods afirma que o dispositivo viola as cláusulas de “Supremacia” e “Comércio” da Constituição americana.

Além disso, também fere duas leis federais que regulam a inspeção e distribuição de produtos de carne e aves.

“Nossa Constituição dá ao Congresso o poder de criar e impor um mercado comum nacional para que as pessoas possam tomar decisões por si mesmas sobre quais produtos querem comprar. Os estados simplesmente não têm o poder de se isolar de produtos que foram aprovados pela FDA”, disse o advogado Paul Sherman.

Ele acrescenta que a decisão não tem base científica, é puramente política e visa favorecer a indústria pecuária do estado.

O lado político da coisa ficou demonstrado de fato em uma declaração do próprio governador Ron DeSantis.

Ao defender a lei, ele a descreveu como uma forma de “lutar contra o plano da elite global de forçar o mundo a comer carne cultivada em placa de Petri ou insetos para atingir seus objetivos autoritários”.

O comissário de Agricultura da Flórida, Wilton Simpson, trouxe outro argumento e disse que as “plant-based meat” não seriam comprovadamente seguras para o consumo das pessoas.

Para ele, isso é uma questão de segurança alimentar:

“A segurança alimentar é uma questão de segurança nacional, e nossos fazendeiros são a primeira linha de defesa. Os estados são o laboratório da democracia, e a Flórida tem o direito de não ser uma cobaia corporativa”, declarou o comissário.

Alguns especialistas acreditam que mais da metade da população mundial vai deixar de comer carne de origem animal nas próximas décadas – Imagem: Natalliaskn/Shutterstock

Assunto de Justiça

Um caso de segurança alimentar ou de protecionismo comercial? A palavra final será da Justiça. O veredito, no entanto, deve demorar bastante, já que não existe um prazo para o julgamento.

Enquanto isso, o assunto divide opiniões no país, numa espécie de ‘esquenta’ antes das eleições presidenciais de novembro.

Apoiadores do ex-presidente Donald Trump são contra as carnes de laboratório. Já os defensores da atual vice Kamala Harris abraçaram a causa mais ecológica.

O tema da carne cultivada ganhou ainda mais relevância em ano de eleição presidencial nos EUA – Imagem: vesperstock/Shutterstock

O clima de acirramento político que conhecemos aqui no Brasil se repete nos Estados Unidos. Às vezes de uma forma até pior, quando um simples produto gera reações de amor e ódio…

As informações são do The Verge.

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