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Caso inédito: brasileira ‘quimera’ carrega dois DNAs ao mesmo tempo

by Fesouza
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Um caso inédito surpreendeu médicos: uma brasileira com células sanguíneas idênticas ao do irmão gêmeo homem. Na medicina, a condição é conhecida como “quimera”, quando uma pessoa tem dois DNAs diferentes ao mesmo tempo.

Apesar do caso de “quimera” não ser único, o que chamou atenção foi que, na brasileira, o processo foi complementa espontâneo. Além disso, ela tem os órgãos sexuais desenvolvidos por completo e conseguiu até carregar uma gestação, mesmo com os genes masculinos.

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Brasileira tem cromossomos XX (femininos) e XY (masculinos) ao mesmo tempo (Imagem: Nathan Devery / Shutterstock.com)

Brasileira têm dois DNAs

A brasileira é Ana Paula Martins. Em 2022, ela sofreu um aborto espontâneo e procurou ajuda médica. Durante a investigação, ela realizou um exame de detecção de alterações genéticas (chamado cariótipo), que constatou que ela carregava cromossomos XX (de características sexuais femininas) e, especificamente nas células do sangue, carregava cromossomos XY (de características masculinas).

Ana Paula, que também é profissional da saúde, contou à BBC Brasil que, quando o laboratório entrou em contato, ela logo estranhou os resultados.

Casos em que uma pessoa tem mais de um tipo de DNA já foram registrados anteriormente. São as chamadas “quimeras”. Isso acontece, por exemplo, no caso de tratamentos de leucemia, em que há inserção de células da medula óssea de outro paciente. No entanto, uma quimera espontânea é “muito rara”, segundos os médicos.

Além disso, essa condição poderia causar doenças raras e prejudicar o desenvolvimento dos órgãos sexuais (como útero e ovário), podendo impedir a produção de óvulos e resultar em infertilidade, o que impediria uma gestação.

Mas não foi o que aconteceu com Ana Paula. Segundo Gustavo Maciel, médico ginecologista da Universidade de São Paulo (USP), e Caio Robledo, médico geneticista, a paciente tinha os órgãos sexuais desenvolvidos e conseguiu engravidar.

A situação chamou atenção de ambos, que resolveram iniciar um estudo sobre o caso. A pesquisa foi conduzida no Fleury, no Hospital Israelita Albert Einstein e no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicna da USP.

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Casos de quimera espontâneas são extremamente raros (Imagem: CIPhotos / iStock)

Paciente têm células sanguíneas idênticas às do irmão gêmeo

Ana Paula contou aos médicos que tinha um irmão gêmeo, peça fundamental para começar a estudar o caso. Os pesquisadores identificaram casos anteriores de gestações de gêmeos em outros mamíferos em que a troca de sangue entre irmãos de gêneros diferentes era comum.

A equipe realizou exames em Ana Paula e no irmão, e constatou que os dois tinham células sanguíneas idênticas.

Na pele, no DNA da boca, no DNA da pele, ela é uma pessoa. O sangue dela, os glóbulos brancos dela, ela é o irmão, exatamente igual ao irmão.

Gustavo Maciel, médico ginecologista da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à BBC News Brasil

A suspeita é de que, durante a gestação, a placenta de Ana Paula e do irmão tiveram algum tipo de contato, formando uma conexão entre os vasos sanguíneos que levou o sangue do menino para ela. Nesse caso, as células masculinas se sobressaíram sobre as femininas no sangue, mas o restante do corpo dela continuou produzindo os cromossomos XX.

Maciel destacou que o mais impressionante desse caso é que o material masculino permaneceu em Ana Paulo durante a vida inteira, não apenas no momento da transfusão na placenta. E ela viveu bem, sem condições adversas.

Mulher grávida com as mãos em sua barriga
Mesmo com DNA ‘duplo’, Ana Paulo conseguiu engravidar e teve um menino saudável (Reprodução: mojo cp/Shutterstock)

Leia mais:

Condição é inédita e pode trazer avanços para a medicina

  • Para deixar tudo ainda mais curioso, a brasileira engravidou novamente durante o estudo e pariu um menino saudável;
  • A análise genética do filho revelou que ele têm cromossomos vindos da mãe e do pai, mas não do tio. O sangue de Ana Paula (idêntico ao do irmão gêmeo) não interferiu;
  • O caso de Ana Paula é inédito e pode ajudar a entender mais sobre genética e reprodução humana.

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