Um artigo publicado recentemente no periódico científico The Astrophysical Journal Letters revela a existência de cavernas cársticas gigantes em Marte, áreas formadas quando água levemente ácida dissolveu determinadas rochas do planeta.
Essas formações são apontadas como locais ideais para buscar sinais de vida antiga preservados no subsolo marciano.
Em resumo:
- Cientistas descobriram cavernas cársticas gigantes em Marte;
- Elas surgiram quando a água dissolveu rochas carbonáticas e sulfatadas;
- As formações estão localizadas entre vulcões em Hebrus Valles;
- Claraboias no teto indicam colapsos e cavidades subterrâneas profundas;
- As cavernas podem preservar bioassinaturas e proteger vida antiga;
- Exploração futura exigirá robôs, drones e soluções de comunicação.

As cavernas estão localizadas em Hebrus Valles, entre o vulcão extinto Elysium Mons e Utopia Planitia, nas latitudes médias do norte de Marte. Elas são sinalizadas por oito claraboias, buracos no teto que aparecem na superfície como crateras com diâmetros de dezenas a mais de 100 metros. Diferem das crateras comuns porque não têm paredes elevadas nem vestígios de material expelido ao redor. Essas claraboias provavelmente se formaram quando parte da superfície desabou sobre o espaço vazio da caverna abaixo.
“Com os avanços tecnológicos previstos nas próximas décadas, se missões forem planejadas para esses alvos, explorar cavernas cársticas em Marte é uma meta atingível”, disse Chunyu Ding, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Shenzhen, na China, ao site Space.com.
Cavernas cársticas de Marte se formaram de um jeito diferente
Diferentemente das cavernas marcianas conhecidas, que se formaram em tubos de lava em regiões vulcânicas, Hebrus Valles apresenta antigos leitos de rios e sedimentos de água líquida, indicando um passado mais úmido. Minerais hidratados reforçam a ideia de que água abundante moldou a região há bilhões de anos.
Coliderada por Ravi Sharma, pós-doutorando na mesma instituição de Ding, a equipe analisou dados de várias missões da NASA, como o Espectrômetro de Emissão Térmica da Mars Global Surveyor, o Espectrômetro de Raios Gama da Mars Odyssey e imagens da câmera HiRISE, do Mars Reconnaissance Orbiter (MRO). Esses dados permitiram mapear a composição mineralógica e estrutural da região.
Os resultados mostram que as claraboias e seus arredores correspondem a cavernas cársticas, formadas pela dissolução de rochas carbonáticas e sulfatadas. Embora comuns na Terra, este é o primeiro registro desse tipo de formação em Marte. A região de Hebrus Valles é rica em calcário e gesso, depositados por lagos e mares há mais de 3,5 bilhões de anos.

Com o resfriamento do planeta, grande parte da água da superfície virou gelo subterrâneo ou salmouras congeladas. Em períodos de aquecimento local, por vulcões distantes, impactos ou mudanças orbitais, essa água derretida teria percorrido rachaduras e dissolvido a rocha, formando cavernas e colapsos que originaram as claraboias.
Nem todas as regiões de Marte possuem as condições necessárias para formar cavernas cársticas. A presença de rochas carbonáticas e sulfatadas, gelo subterrâneo e estabilidade geológica são fatores essenciais. “Essas cavernas provavelmente estão concentradas em regiões específicas e não aparecem por toda parte no planeta”, afirma Ding.
Além das oito cavernas conhecidas, é possível que outras ainda existam em Hebrus Valles, mas sem colapso do teto, permanecendo escondidas. As claraboias conhecidas têm dezenas a mais de 100 metros de diâmetro, e as cavidades subterrâneas podem ter dezenas de metros de profundidade.
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Formações são promissoras para a busca por vida
As cavernas cársticas oferecem microclimas estáveis e aquosos que poderiam ter abrigado colônias microbianas. Hoje, essas áreas estão protegidas das condições extremas da superfície, como variações de temperatura, tempestades de poeira e radiação ultravioleta, tornando-as locais privilegiados para futuras buscas por vida.
A exploração, no entanto, é desafiadora. A rocha circundante dificulta a transmissão de sinais de rádio para órbita, exigindo soluções criativas de engenharia. Ding aponta que nem todas as cavernas são poços verticais: algumas possuem declives formados por detritos, permitindo uma descida gradual e segura.
Futuros exploradores robóticos poderiam formar uma cadeia de comunicação dentro das cavernas, utilizando veículos com rodas, robôs escaladores e drones de rotor que entram e saem pelas claraboias. Essa abordagem tornaria viável a exploração detalhada do subsolo marciano.

Além de preservar bioassinaturas, as cavernas oferecem proteção natural contra radiação e tempestades de poeira, potencialmente servindo como abrigo para astronautas e bases futuras. Caso se confirme, o subsolo marciano pode se tornar o novo refúgio da presença humana no planeta vermelho.
A descoberta de cavernas cársticas em Hebrus Valles abre uma nova perspectiva para a exploração de Marte, mostrando que o passado úmido e os segredos do subsolo podem ser fundamentais para entender a história do planeta e preparar o futuro da humanidade além da Terra.
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