A corrida pelos robôs humanoides ganhou novo fôlego: enquanto Elon Musk tenta colocar o Optimus, da Tesla, no mercado, grandes empresas chinesas se preparam para fabricar esses equipamentos em grande escala já a partir de 2026.
Com apoio direto de políticas públicas, uma cadeia de suprimentos profunda e metas de industrialização, a China sinaliza que pode liderar a primeira fase de comercialização dessa tecnologia. Esse estágio é visto como estratégico para enfrentar desafios demográficos, impulsionar a economia e disputar protagonismo com os Estados Unidos na próxima fronteira da inteligência artificial. As informações são do CNBC.
Planos da China para garantir a liderança no setor
- China avança mais rápido na fase inicial de comercialização de robôs humanoides.
- Planos industriais e cadeias locais robustas reduzem custos e aceleram a produção.
- Empresas como Unitree, UBTech, AgiBot e Xpeng miram escala a partir de 2026.
- Há gargalos: chips avançados, limitações de IA e desafios mecânicos finos.
- Autoridades chinesas alertam para risco de bolha em meio ao excesso de ofertas.
China em vantagem na estreia dos robôs humanoides
Nos últimos anos, Pequim elevou a robótica ao topo de sua agenda tecnológica. Propostas para o próximo plano quinquenal mencionam a chamada “inteligência artificial incorporada” — quando algoritmos de IA ganham corpo em máquinas como robôs e veículos autônomos. O objetivo é claro: criar cadeias de suprimentos completas, estabelecer produção em massa e usar os humanoides para aliviar pressões no mercado de trabalho em uma população que envelhece e encolhe.
“A China lidera atualmente os Estados Unidos na comercialização inicial de robôs humanoides”, afirma Andreas Brauchle, sócio da consultoria Horváth. “Embora ambos devam construir mercados semelhantes ao longo do tempo, a China escala mais rapidamente nesta fase.” Essa leitura ecoa o movimento de fábrica: dezenas de cidades oferecem incentivos, empresas multiplicam linhas piloto e fornecedores locais se organizam para baratear componentes críticos.
A motivação é tanto econômica quanto estratégica. “O avanço chinês combina o enfrentamento de pressões demográficas, a busca pela próxima fronteira de crescimento e o fortalecimento de sua posição na competição global”, diz Karel Eloot, sócio sênior da McKinsey & Company. Para um país que já provou eficiência na produção em massa de eletrônicos e veículos elétricos, robôs humanoides parecem o próximo passo natural.
Do lado empresarial, nomes como Unitree — que se prepara para uma abertura de capital multibilionária —, UBTech, AgiBot e a montadora Xpeng puxam a fila. A UBTech, por exemplo, já opera com robôs voltados a aplicações industriais e comerciais e projeta ampliar fortemente a capacidade em 2026 e 2027.
A AgiBot anunciou a unidade de número 5.000 saindo da linha, enquanto a Xpeng revelou a segunda geração de seu humanoide e mira produção em série a partir do próximo ano. Analistas estimam que o mercado global de humanoides pode atingir a casa dos trilhões de dólares até meados do século, com a China respondendo pela maior fatia.
Nos Estados Unidos, o ecossistema avança em outra direção: empresas apostam em maior integração vertical — da mecânica fina aos atuadores e ao software de IA — para entregar desempenho e segurança superiores, além de proteger propriedade intelectual. Reguladores e membros do governo discutem medidas para acelerar o setor, inclusive com potenciais ordens executivas. O pano de fundo é uma disputa tecnológica que deve ganhar corpo ao longo de toda a década.
Custos, gargalos tecnológicos e risco de bolha
O “motor” da vantagem chinesa está nos custos. “A profundidade da cadeia de suprimentos na China permite desenvolver e fabricar robôs com vantagem de custo significativa em comparação a outras regiões”, aponta Ethan Qi, diretor associado da Counterpoint Research. Empresas projetam quedas de 20% a 30% por ano no custo de produção à medida que ganham escala e padronizam peças.
Mas os obstáculos são reais. Há dependência de chips avançados, sobretudo para tarefas de percepção e tomada de decisão. “Há uma dependência muito alta de chips dos Estados Unidos, por exemplo, os da Nvidia”, observa Jacqueline Du, líder de pesquisa em tecnologia industrial na China no Goldman Sachs. A isso se somam limitações da IA em ambientes imprevisíveis, barreiras regulatórias e desafios mecânicos delicados — como mãos com graus de liberdade suficientes para manipular objetos variados.
O apetite do mercado, por sua vez, pede cautela
“Em conjunto, esses desafios desaceleram a comercialização nos próximos dois anos e exigem inovação coordenada, segurança e marcos regulatórios bem definidos”, avalia Charlie Dai, analista principal da Forrester. Mesmo quando a tecnologia está pronta, os números precisam fechar: segundo especialistas, protótipos de ponta custam de centenas de milhares de dólares por unidade e teriam de cair para uma faixa muito inferior para competir com o trabalho humano em larga escala.
A principal agência de planejamento econômico da China já alertou para risco de superaquecimento, com mais de 150 empresas disputando espaço e muitos produtos parecidos. “Muitos supõem que os robôs humanoides superarão em breve a versatilidade, a velocidade e a autonomia humanas”, diz Brauchle. “A distância entre a percepção e a realidade eleva o risco de uma bolha de investimentos.” De acordo com o Olhar Digital, esse alerta ecoa ciclos anteriores em setores priorizados pelo governo, como o de carros elétricos, que viveram ondas de euforia seguidas de consolidação.
Impactos práticos para saúde, ergonomia e bem-estar
Se resolverem a equação de custo, segurança e confiabilidade, humanoides podem assumir tarefas repetitivas, perigosas ou fisicamente pesadas em fábricas, depósitos e serviços, reduzindo lesões por esforço e melhorando a ergonomia do trabalho. Em um país que envelhece rapidamente, como a China, eles também podem apoiar cuidados domiciliares e hospitalares básicos — transporte de pacientes, entrega de insumos, monitoramento em rotinas simples — liberando profissionais para atividades mais complexas e humanas.
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Mesmo sem substituir pessoas, a colaboração homem-máquina pode elevar a produtividade, reduzir riscos e ampliar a autonomia de idosos e pessoas com mobilidade reduzida. O caminho ainda inclui regulações claras, certificações de segurança, proteção de dados e programas de requalificação profissional. Mas, se as promessas saírem do laboratório para a linha de produção, o benefício cotidiano — do chão de fábrica às casas e hospitais — tende a ser significativo.
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