A justiça chinesa condenou à morte 11 pessoas acusadas de chefiar uma poderosa quadrilha responsável por operar “fábricas” de golpes online em Mianmar, fazendo vítimas em todo o mundo e faturando bilhões de dólares ao longo de vários anos. A decisão foi divulgada na segunda-feira (29).
Todos os condenados fazem parte da família Ming, que atuava em Kokang, região autônoma na fronteira entre Mianmar e China onde funcionava um dos complexos de fraudes online. Outras cinco pessoas receberam a mesma sentença, mas tiveram a pena suspensa por dois anos, e mais 12 réus foram condenados a até 24 anos de prisão.
Golpes sofisticados, tráfico humano e assassinatos
De acordo com as informações do processo, o grupo condenado à morte na China é uma das “quatro famílias” que administram as centrais de golpes pela internet e jogos de azar ilegais em Mianmar. No auge, a família Ming chegou a ter 10 mil pessoas trabalhando em seus negócios.
- Esses funcionários eram, em sua maioria, vítimas de tráfico humano obrigadas a trabalhar em condições insalubres, aplicando golpes em redes sociais;
- As fraudes sofisticadas envolviam práticas como o golpe do amor, com a criação de perfis falsos no Instagram e apps de namoro, e ofertas de trabalho remoto nas quais a vítima pagava “recargas” para receber a suposta comissão;
- Conforme o tribunal chinês, a quadrilha matou ao menos 10 pessoas que desobedeceram às ordens ou tentaram fugir do complexo;
- Devido à grande influência na região, com integrantes participando do governo local ou se alinhando às milícias, investigar o grupo era uma tarefa complicada.
Mas depois de diversas denúncias e reportagens da imprensa internacional, a China emitiu mandados de prisão para membros da família Ming em novembro de 2023, com acusações de fraude, assassinato e tráfico de pessoas. O líder do grupo, Ming Xuechang, tirou a própria vida na prisão.
Um dos detido é o filho dele, Ming Guoping, que chefiava a Força de Guarda de Fronteira de Kokang. A filha, Ming Julan, e a neta, Ming Zhenzhen, também fazem parte do grupo que agia em Mianmar desde 2015 e se proliferou para outros países do sudeste asiático.
Brasileiros entre as vítimas da quadrilha
Entre os jovens de diferentes nacionalidades forçados a trabalhar nas fábricas de golpes cibernéticos de Mianmar havia pelo menos dois brasileiros. Os casos vieram à tona no final de 2024 e, em ambos, as vítimas foram atraídas por falsas ofertas de emprego com salários que chegavam a US$ 2 mil, ou mais de R$ 10 mil pela cotação atual.
Os dois passaram meses presos no local, enfrentando ameaças de morte, e raramente se comunicavam com suas famílias. Em fevereiro, a dupla conseguiu escapar com o auxílio de uma ONG, junto com mais de 300 pessoas, passando pela Tailândia antes de retornar ao Brasil.
Trabalhar 16 horas por dia, em média, podendo enfrentar longas sessões de agachamento, espancamento e choque elétrico, se não cumprisse as metas, eram algumas das condições às quais as vítimas de tráfico humano eram expostas nos complexos de fraudes online de Mianmar, segundo os brasileiros.
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