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China intensifica aplicação da IA para rivalizar com os EUA em meio a restrições tecnológicas

by Fesouza
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Enquanto os Estados Unidos mantêm o foco no desenvolvimento de modelos de inteligência artificial (IA) de ponta, a China aposta na aplicação prática da tecnologia em diversos setores, como saúde, educação, segurança e administração pública. Essa estratégia visa reduzir a dependência de tecnologias ocidentais e ampliar a autossuficiência do ecossistema doméstico de IA.

Impedida de acessar os chips mais avançados devido às restrições impostas por Washington, Pequim tem promovido abordagem alternativa: impulsionar a adoção massiva de IA por empresas e órgãos governamentais.

“Na China, há, definitivamente, um apoio governamental mais forte para aplicações e um mandato claro do governo central para difundir a tecnologia pela sociedade”, afirmou Scott Singer, da Carnegie Endowment for International Peace, ao The Washington Post.

Bandeira da China ao fundo com os dizeres "AI" à frente
Enquanto os EUA foca na criação, a China estimula o uso prático da tecnologia (Imagem: Pixels Hunter/Shutterstock)

O que a China vem fazendo com a IA para vencer os EUA

  • Na World Artificial Intelligence Conference, realizada em Xangai (China), a China reforçou seu posicionamento como líder global responsável na área de IA;
  • Durante o evento, o premiê Li Qiang declarou que o país “atribui grande importância à governança global da IA” e “está disposto a compartilhar sua experiência de desenvolvimento de IA e produtos tecnológicos para ajudar os países ao redor do mundo — especialmente aqueles do Sul Global”;
  • Um dos destaques do evento foi a empresa DeepSeek, cuja tecnologia vem sendo aplicada amplamente pelo governo chinês;
  • Documentos de licitação vistos pelo Post mostram hospitais militares utilizando a ferramenta para consultas online e gestão de prontuários. Governos locais relatam o uso da IA para triagem de chamadas, otimização de operações policiais e investigações anticorrupção;
  • Segundo uma prefeitura na região da Mongólia Interior, o DeepSeek ajuda a “descobrir, rapidamente, pistas de casos e prever tendências criminosas”, o que “melhora muito a precisão e a pontualidade no combate ao crime”.

Desafios

Apesar do entusiasmo, há desafios. Shen Yang, professor da Universidade Tsinghua (China), pondera que “alucinações de IA ainda existem” e que o uso em investigações sensíveis é limitado devido a processos burocráticos. “Se estiver errado, quem assume a responsabilidade?“, questiona.

A aposta chinesa em IA vai além da adoção: há um empenho nacional em se tornar independente tecnologicamente.

Segundo Michael Frank, fundador do think tank Seldon Strategies, em entrevista ao The Wall Street Journal, “a China está obviamente progredindo no fortalecimento de seu ecossistema de IA e computação”. A Huawei lidera iniciativas, como o “Projeto Pneu Sobressalente“, que visa atingir 70% de autossuficiência em semicondutores até 2028, com o apoio de mais de duas mil empresas.

Mesmo com chips menos avançados, companhias chinesas estão melhorando desempenho ao agrupar várias unidades. Em alguns casos, sistemas com chips Ascend, da Huawei, superaram soluções da Nvidia. A Morgan Stanley estima que, em 2027, 82% dos chips de IA utilizados na China serão de origem nacional, contra 34% em 2024.

Ao fundo, bandeira da China; à frente, logo da DeepSeek em um smartphone
DeepSeek é a “galinha dos ovos de ouro” chinesa (Imagem: Rokas Tenys/Shutterstock)

O governo chinês tem incentivado investimentos massivos em setores estratégicos. Apenas em Shenzhen, foram mobilizados US$ 700 milhões (R$ 3,91 bilhões, na conversão direta) para fortalecer a cadeia de suprimentos de semicondutores.

Além disso, Pequim está expandindo a geração de energia e investindo em formação de mão de obra qualificada: desde 2019, o número de universidades com cursos de IA saltou de 35 para mais de 600. A partir de setembro, escolas primárias e secundárias da capital chinesa começarão a oferecer aulas obrigatórias de IA.

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E os EUA?

Na contramão, os Estados Unidos enfrentam desafios regulatórios e de infraestrutura. Recentemente, o presidente Donald Trump anunciou um plano para reduzir a burocracia e estimular a construção de data centers. Um projeto de US$ 500 bilhões (R$ 2,79 trilhões) entre OpenAI e SoftBank, lançado no início do ano, sofreu atrasos. Em abril, o republicano assinou uma ordem executiva que obriga escolas estadunidenses a oferecer formação em IA.

Ao mesmo tempo, os EUA tentam conter o avanço chinês com restrições à exportação de chips e controle de talentos. Mas o próprio governo estadunidense reviu algumas medidas: após proibir o envio de chips da Nvidia para a China, a Casa Branca liberou, recentemente, a venda dos modelos H20, em gesto visto como estratégico nas negociações comerciais.

Apesar das limitações, a China tem se destacado pelo avanço de modelos open-source. Segundo o provedor Artificial Analysis, o melhor modelo de código aberto disponível atualmente é chinês.

A proliferação desses modelos tem acelerado a adoção global da IA chinesa. “Enquanto o melhor modelo de linguagem do mundo ainda é estadunidense, o melhor que qualquer pessoa pode usar gratuitamente agora é chinês”, apontou a empresa.

Bandeira dos EUA no fundo, com o desenho de um cérebro humano e os dizeres "AI"
Estadunidenses estariam perdendo a guerra das IAs para a China? (Imagem: Pixels Hunter/Shutterstock)

No epicentro da disputa, empresas, como DeepSeek e Alibaba, vêm sendo utilizadas por bancos estatais, órgãos públicos e companhias nacionais, muitas vezes, antes mesmo de terem uma aplicação definida.

“As pessoas falam muito sobre as diferenças entre os Estados Unidos e a China”, disse Carter Hou, da empresa de óculos inteligentes Halliday, ao Post. “Mas tento ficar fora disso o máximo possível, porque tudo o que queremos é construir bons produtos para nossos clientes.”

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