China pode trazer rocha com sinais de vida descoberta pela NASA em Marte?

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, uma descoberta potencialmente revolucionária foi anunciada pela NASA em 10 de setembro. O rover Perseverance detectou possíveis bioassinaturas em fragmentos de uma rocha na Cratera Jezero, em Marte. 

No entanto, a excitação vem acompanhada de uma ressalva crucial: para determinar se esses minerais intrigantes foram, de fato, produzidos por vida microbiana ou por processos abióticos, as amostras cuidadosamente coletadas pelo rover na rocha “Cheyava Falls” precisam ser trazidas à Terra para análises aprofundadas.

Essa etapa, no momento, está suspensa, pois a campanha Mars Sample Return (MSR), da NASA em parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA), responsável por trazer esses tesouros marcianos, enfrenta severos atrasos, estouros de orçamento e o risco de ser cancelada – abrindo um vácuo que a China parece pronta para preencher com sua própria missão de retorno de amostras.

25ª amostra coletada pelo rover Perseverance em Marte, em julho de 2024, batizada de Cânion Safira. Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASU

Em resumo:

  • O rover Perseverance, da NASA, encontrou indícios de possíveis bioassinaturas em amostras de Marte;
  • A missão Mars Sample Return (MSR) da NASA, essencial para trazer essas amostras para serem analisadas na Terra, está em risco de cancelamento devido a problemas orçamentários;
  • A China se posiciona para liderar a corrida, planejando lançar sua missão Tianwen 3 no fim desta década com o objetivo de trazer amostras marcianas à Terra em 2031;
  • Apesar da ambição chinesa, a Tianwen 3 enfrenta restrições técnicas de pouso que podem impedir o acesso às mesmas regiões ricas em descobertas do Perseverance;
  • O futuro da exploração marciana e a confirmação de vida antiga dependem da superação de desafios tecnológicos e de decisões políticas sobre financiamento internacional.

A batalha pelos segredos de Marte: obstáculos e oportunidades

A empolgante descoberta do rover Perseverance está na amostra “Cânion Safira”, retirada de “Cheyava Falls” – um afloramento rochoso localizado em um vale onde a água fluiu há bilhões de anos, um ambiente ideal para o desenvolvimento e preservação de vida microbiana. 

Durante uma coletiva de imprensa de apresentação da descoberta, os membros da equipe do Perseverance enfatizaram a necessidade de trazer essa e outras amostras à Terra. Segundo eles, somente aqui, com o poder de laboratórios equipados com instrumentos avançadíssimos, será possível desvendar a verdadeira natureza desses sinais. Seriam as primeiras evidências de vida extraterrestre ou apenas de formações geológicas complexas que se parecem com ela?

Rocha intrigante analisada pelo rover Perseverance em Marte pode conter indícios de vida antiga. Crédito: NASA/JPL-Caltech/ASU/MSSS

No entanto, a missão que deveria ser a ponte para essas respostas encontra-se em um impasse. Enfrentando atrasos significativos e um aumento colossal nos custos, a iniciativa corre o sério risco de ser desmantelada. O cenário é ainda mais incerto com a proposta de orçamento federal de 2026 do presidente Donald Trump, que prevê cortes substanciais nos gastos da NASA, colocando em xeque o futuro do MSR e, consequentemente, a capacidade dos EUA de serem os primeiros a desvendar os segredos contidos nas rochas marcianas.

Em meio a tantas incertezas, a China se posiciona como protagonista ao preparar a missão Tianwen 3, prevista para ser lançada no fim de 2028. O objetivo é trazer amostras de Marte à Terra em 2031. De acordo com um artigo publicado na revista Nature, a sonda deve reunir cerca de 500 gramas de material marciano usando uma furadeira e uma pá, com o apoio de um pequeno drone.

Resta saber se a China conseguirá mirar nos mesmos afloramentos rochosos onde o Perseverance fez as recentes descobertas promissoras.

A seleção do local de pouso para a Tianwen 3 é ditada por uma série de rigorosas restrições de engenharia. Geograficamente, a cratera Jezero se enquadra no critério chinês de descer entre 17 a 30 graus de latitude norte. No entanto, é a altitude que se torna um obstáculo intransponível. Jezero está cerca de 2.600 metros abaixo do “nível do mar” marciano, mas a Tianwen 3 exige um local de pouso mais baixo – pelo menos 3.000 metros abaixo do nível teórico do mar. Essa necessidade, conforme explicado por cientistas envolvidos na missão, deve-se à maior atmosfera nessas altitudes mais baixas, crucial para auxiliar na desaceleração da sonda e garantir um pouso seguro.

Representação artística da missão Tianwen-3, da China, que tem por objetivo coletar amostras em Marte. Crédito: CNSA

Ao longo de décadas, a NASA desenvolveu tecnologias de precisão para pouso em Marte que lhe permitiram visar locais mais elevados, e consequentemente mais perigosos, mas cientificamente muito mais ricos, como Jezero. Por sua vez, a China, embora tenha realizado um pouso bem-sucedido em sua primeira tentativa com o rover Zhurong em 2021, na Utopia Planitia, ainda opera com uma “elipse de pouso” (a área potencial de aterrissagem) consideravelmente maior.

Enquanto a agência dos EUA trabalhou com elipses de aproximadamente 7 por 6 quilômetros para os rovers Curiosity e o Perseverance, a Tianwen 3 prevê uma elipse de 50 por 20 quilômetros. Essa diferença de precisão significa que será exponencialmente mais difícil para a missão chinesa atingir pontos pequenos e de alto valor científico, como a área exata em Jezero onde o Perseverance coletou a amostra “Cânion Safira”.

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Descoberta da NASA pode “guiar” missão da China

Embora a Tianwen 3 possa não conseguir pousar nos mesmos pontos que a NASA, as recentes descobertas do rover Perseverance podem, sem dúvida, informar a seleção do local de pouso da China. A missão chinesa poderia, por exemplo, buscar áreas ricas em argila e possíveis leitos de rios antigos semelhantes àqueles onde a amostra “Cânion Safira” foi encontrada, expandindo assim o conhecimento sobre a habitabilidade passada de Marte.

Enquanto isso, a NASA poderia considerar abordagens alternativas para recuperar o que foi coletado pelo Perseverance caso haja a vontade política e o financiamento adequado para reanimar a crucial missão de retorno de amostras.

A busca por respostas sobre a atividade biológica em Marte transcende fronteiras e rivalidades; ela representa um passo fundamental para o bem-estar do conhecimento humano e nossa compreensão sobre nosso lugar no vasto Universo, oferecendo uma perspectiva transformadora sobre a possibilidade de vida além da Terra.

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