Após a tentativa de Callisto Protocol em reinventar a fórmula de Dead Space, os jogadores começaram a desconfiar de outras promessas similares. E foi justamente neste contexto em que Chronos The New Dawn, novíssimo terror da Bloober Team, foi revelado. Apostando em uma pegada retro-futurista, um design sinistro e ambientação soviética, o título foi divulgado com uma atmosfera densa e sombria.
Na trama, acompanhamos a Viajante, membro de uma misteriosa organização que deve retornar ao passado e, assim, salvar o futuro. A contextualização de The New Dawn é toda baseada na Polônia dos anos 1980, em específico, o distrito de Nowa Huta, cidade natal de ‘muitos dos desenvolvedores’ no time. É claro, para acompanhar, há referências temáticas a clássicos do terror da época na mistura do novo jogo da Bloober Team – notoriamente Aliens e O Enigma de Outro Mundo.
Para os fãs de terror, todo o pacote descrito já é muito atraente, e se torna ainda mais promissor ao considerar o último lançamento da Bloober Team – o inconfundível Silent Hill 2 Remake. Contudo, será que Chronos The New Dawn funciona tanto quanto o esperado? Para falar disso, jogamos o título no PlayStation 5 e te contamos tudo sobre ele.
O que cria um clássico de terror?
Antes de comentar sobre The New Dawn, é importante falar de suas referências, ao menos as percebidas, para ficarmos nas mesmas páginas. Pensando em cinema, para quem é fã dos terrores dos anos 1980, é difícil não associar as interfaces retrô com os sistemas impiedosos da Nostromo, nave de Alien: O Oitavo Passageiro. Os botões grandes, letras anguladas e sons um tanto satisfatórios: uma combinação que serve para limitar o poder do imaginário quanto o avanço da tecnologia – além de, claro, ter um charme muito autêntico.
Já tratando da ameaça, os órfãos de The New Dawn, é impossível não lembrar de “O Enigma de Outro Mundo”. No longa de John Carpenter, um grupo de cientistas se depara com um extraterrestre, capaz de mutar e até se fundir com formas de vida da Terra. O resultado é grotesco e impossível de esquecer, muito por conta dos efeitos práticos de excelência.
Por outro lado, enquanto sejam características marcantes nas obras, esses elementos funcionam mais para compor um universo, do que necessariamente para justificá-lo. Por exemplo, os computadores da Nostromo são uma representação fria da missão, sob os olhos da empregadora, focada no lucro. Em “O Enigma de Outro Mundo”, a criatura se disfarça de membros da equipe para, justamente, questionar o que faz alguém ser realmente humano.
Em ambos os casos, porém, o que realmente cativa o espectador não são os temas, efeitos ou detalhes apresentados. Embora esses elementos cumpram seus papeis muito bem, a condução da narrativa é o que realmente prende os olhos nas telonas e telinhas. E, muito disso se dá por conta do suspense, na cadência da apresentação, que revela somente o suficiente para assustar – e o restante fica por conta da imaginação. Durante a revelação, é a reação dos personagens que frequentemente guia o público diante do desconhecido, o aproximando do horror desconhecido encarado pela trama.
No mundo dos jogos, claro, há diferenças ludonarrativas que devem ser consideradas – por exemplo, o jogador sempre sabe que há alguma chance de combate. Dessa maneira, as abordagens para causar tensão tendem a ser diferentes, algo que Dead Space soube utilizar a seu favor. Nele, a trama explora um desenrolar mais lento, e utiliza um protagonista mais silencioso para imergir o público no silêncio do espaço.
Contudo, é na brutalidade do combate que o público é sempre relembrado da ameaça que enfrenta. Os necromorphos não apenas são muito inteligentes e adaptáveis, mas são impiedosos, e vão causar uma tremenda agonia caso falhe em derrotá-los – pois, justamente, não podem ser mortos.
Chronos The New Dawn e a importância da primeira impressão
Com essa bagagem e admiração pelos clássicos em mente, comecei meus primeiros minutos em Chronos The New Dawn muito empolgado. A abertura tem uma pequena cena de perguntas e respostas abstratas que lembra Bladerunner 2049, e situa o jogador em uma espécie de nave temporal. Ao fim do questionário, a Viajante recebe uma arma e o tutorial começa.
O jogador recebe as primeiras noções de movimento, explora um pequeno e destruído bairro, e logo entra em um prédio. Nele, é possível ler muitas notas espalhadas, sobre a rotina e contexto de quem morava lá, algo que ajuda a compor a trama. Adiante, a forma de economia do jogo é apresentada, as ‘fontes de energia’, já sugerindo a presença de uma loja de melhorias.
Pouco após a exploração começar, um Órfão ataca o jogador sem nenhuma cerimônia – como se fosse algo recorrente e comum – e começa o tutorial de combate. Os tiros podem ser carregados para causar mais dano, em troca de precisão e posicionamento, mas o impacto causado não parece refletir isso. De todo modo, há um nível considerável de dificuldade, já que poucos golpes da criatura são suficientes para encerrar o jogo.
A indiferença nesta apresentação inicial, ainda que eu tenha tentado me dizer o contrário, não causou uma boa impressão. Foi só o primeiro encontro de combate, mas o suficiente para dizer que The New Dawn não esperava surpresas dos jogadores. E isso levanta uma série de perguntas, em especial, o motivo disso.
Jogabilidade sem surpresas
Narrativamente, cheguei a pensar que poderia ser algo ligado aos temas de viagem no tempo. A Viajante já viu tudo isso, várias vezes, e portanto, não se surpreende – sentimento que se estende ao jogador. Essa ideia é reforçada pela narração robotizada de todos os personagens do jogo, que sugere uma imensa impessoalidade diante da missão. Contudo, me questiono se é uma abordagem eficaz, ou empolgante, de apresentar um novo universo.
Pensando na jogabilidade, e inevitavelmente comparada à Dead Space, há outra decepção. Os inimigos não são reativos, ou parecem estar sofrendo de qualquer maneira pela mutação, e não possuem uma inteligência artificial tão robusta. É um monstro comum, com uma barra de vida invisível. Em The New Dawn, não há mecânicas de desmembramento: é apenas possível queimar os corpos para que eles não se “juntem”.
Considerando o pacote, a suposta premissa de que tudo já foi visto pela protagonista, outras tantas e repetidas vezes, começou a soar metanarrativo. Eu já havia visto uma trama parecida, jogado um título similar e me assustado com uma ameaça. Esse sentimento, somado à monótona narração impessoal, que quase parece caricata em alguns momentos, me fez pensar repetidas vezes ‘não sei porque continuo jogando’. Devo lembrá-lo leitor, que a expectativa é a inimiga da felicidade – contudo, eu estava empolgado justamente pela premissa que me foi prometida.
Chronos The New Dawn vale a pena?
Apesar dos meus apontamentos, há uma última consideração há ser feita. Além de todas essas decisões estranhas de apresentação e jogabilidade, Chronos The New Dawn tem seu mérito. É um título bonito e bem ambientado, que traz uma jogabilidade simples, mas funcional, e conta uma história que instiga.
Contudo, é inegável que os fatores positivos disputam um espaço considerável com os problemas citados acima, e desviam muita atenção do que poderia ser uma história gostosa de acompanhar. No fim das contas, Chronos The New Dawn soa como uma mistura que instiga, mas que não quer surpreender e por isso pouco empolga.
Nota – 85
Pontos positivos
- Gráficos bonitos;
- Jogabilidade funcional, mas simples;
- História cativante;
- Atmosfera rica.
Pontos Negativos
- Apresentação massante e repetitiva;
- Combate com pouco impacto visceral, dado os temas;
- Personagens com pouco carisma ou reação;
- Jogo é pesado no PS5 Slim, e tem quedas de quadro mesmo no modo desempenho.