Usando DNA retirado de células da pele, cientistas conseguiram produzir, pela primeira vez, óvulos fecundáveis em estágio inicial, técnica que pode se tornar uma alternativa para as mulheres com dificuldade de engravidar. Detalhes do experimento foram divulgados na revista Nature, na última terça-feira (30).
Adaptação de uma tecnologia testada com sucesso em camundongos, o método permite superar a infertilidade causada por idade mais avançada ou doença, produzindo embriões a partir de células de qualquer parte do corpo. Além disso, possibilitará que casais do mesmo sexo tenham filhos com características genéticas de ambas as pessoas parceiras.

Transformando células da pele em embriões
Desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Ciências e Saúde do Oregon, nos Estados Unidos, a técnica inovadora começa com a remoção do núcleo de uma célula da pele, onde se encontra o código genético do corpo humano. Em seguida, esse material é transferido para um óvulo doador com o núcleo previamente retirado.
- O próximo passo é a redução da quantidade de cromossomos dos óvulos pela metade, de 46 para 23, o que foi possível graças à “mitomeiose”, processo que imita as formas de divisão celular;
- Após o rearranjo exigido para a fertilização, a equipe conseguiu produzir 82 óvulos funcionais durante o estudo;
- Na sequência, ocorreu a fertilização com espermatozoides por meio da fecundação in vitro, com alguns desses óvulos progredindo para os estágios iniciais do desenvolvimento de embriões;
- Em seis dias, aproximadamente 9% dos embriões se desenvolveram até o ponto em que, possivelmente, poderiam ser transferidos para o útero, embora isso não tenha acontecido.
A abordagem, que usa algumas etapas do processo empregado na criação da ovelha Dolly, primeiro mamífero clonado da história, é parte de um campo conhecido como gametogênese in vitro. Essa tecnologia tem apresentado grandes avanços, como a recente criação de camundongos com dois pais biológicos.
No entanto, ainda está em seus primeiros estágios e precisa passar por aperfeiçoamentos para ser utilizada clinicamente. Os autores do estudo afirmam que novos experimentos são necessários para melhorar a segurança e garantir a eficácia do método.

Quando estará disponível?
Mesmo com o sucesso obtido no estudo e a importância dos resultados, algumas anomalias nos embriões foram registradas durante o experimento. Isso demonstra que o método depende de uma série de melhorias para que possa começar a ser ofertado para as pessoas interessadas em ter filhos.
“O resultado final é que estamos meio que na metade do caminho, mas ainda não exatamente onde precisamos estar”, ressaltou o líder do projeto, Shoukhrat Mitalipov, em entrevista ao site da universidade. Ele acredita que a abordagem estará disponível em clínicas de fertilidade em até 10 anos, dependendo dos próximos passos.
Há mais cientistas de diferentes instituições, em vários países, trabalhando no desenvolvimento da gametogênese in vitro. Porém, eles seguem caminhos diferentes para a criação dos óvulos e ainda não se sabe quais dessas técnicas obterão sucesso primeiro.
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