A civilização Inca mantinha registros cuidadosos de sua história em um formato de cordas com nós, chamados de quipus. Até agora, pesquisadores acreditavam que apenas pessoas de elite sabiam fazer esses registros, limitando a origem dos quipus à alta sociedade.
Mas não. Uma equipe de estudiosos descobriu evidências de que plebeus incas também sabiam fazer os registros, revelando que o domínio deste tipo de técnica não estava limitado à elite.
Civilização Inca registrava histórias em quipus
As descobertas do estudo foram relatadas pela professora de antropologia Sabine Hyland, líder do grupo, em artigo no site The Conversation. Segundo ela, a civilização Inca usava cordas com nós, os chamados quipus, para registrar informações sobre sua história, geografia, economia e religião. O Olhar Digital já deu detalhes sobre essa técnica aqui.
No entanto, como são poucas evidências diretas desses quipus, a maioria das pesquisas se baseou em relatos e descrições de cronistas espanhóis que colonizaram os incas. Com base nesses relatos, acreditava-se que os registros eram feitos apenas por pessoas de alto escalão, que tinham acesso ao melhor da comida e bebida da época.
Mas não é bem assim. No artigo, Hyland revelou que ela e sua equipe encontraram evidências de que os plebeus também faziam quipus. O segredo por trás dessa descoberta são mechas de cabelos.
Cabelos ajudaram a desvendar mistério
A civilização Inca dava importância ao cabelo, considerando que ele carregava a essência de uma pessoa e preservava sua identidade. O primeiro corte de cabelo de uma criança é como um rito de passagem para os incas. E, depois da morte, as mechas eram guardadas como uma forma de adoração.
A pesquisa descobriu que os quipus eram amarrados com cabelos humanos, que serviam como uma espécie de assinatura da pessoa que o fez. Quando ele era dividido em seções, representadas pelos nós, cada trecho poderia ter uma mecha, indicando que uma pessoa diferente ‘escreveu’ cada parte. Ou, ainda, várias mechas em uma única seção, indicando um registro colaborativo.
Para chegar nessa conclusão, a equipe analisou mais de 90 quipus ancestrais da aldeia de Jucul, nas terras altas do Peru. Um deles, conhecido como KH0631, foi estudado a nível químico para ainda mais detalhes.
Plebeus incas também faziam quipus
O KH0631 é composto inteiramente por uma única mecha de cabelo, que media 104 centímetros de comprimento. A equipe determinou que, considerando 1 centímetro de comprimento por mês, a mecha tinha mais de oito anos de crescimento.
Os pesquisadores quiseram obter mais informações sobre a origem do indivíduo que realizou o quipu KH0631. Para isso, fizeram medições simultâneas de isótopos de carbono, nitrogênio e enxofre em uma amostra na extremidade do cordão.
A presença de isótopo C4 (em vez de C3) indica o consumo de milho nas dietas andinas. Já os níveis relativos de isótopos estáveis de nitrogênio permitem determinar o consumo de carne. Por último, os níveis de isótopos estáveis de enxofre permitem determinar a quantidade de fontes de alimentos marinhos.
Isso é importante porque os pesquisadores já sabiam que pessoas de elite da civilização inca tinham uma dieta muito diferente dos plebeus. Os nobres consumiam mais carne e pratos à base de milho, enquanto os plebeus comiam mais tubérculos, como batatas e verduras.
A análise química da mecha de cabelo foi surpreendente:
- A pessoa responsável pela mecha tinha uma dieta que correspondia aos plebeus, com muitos vegetais, verduras e tubérculos, e pouca carne e milho;
- Também foi possível descobrir que o indivíduo comia poucos alimentos de origem marinha, indicando que ele provavelmente viveu nas terras altas, não no litoral;
- É possível que a pessoa tenha vivido no sul do Peru ou no norte do Chile.
De acordo com Hyland, a descoberta mostra que a alfabetização em quipus era mais comum do que se pensava.
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