Um cometa descoberto no início deste ano está chegando mais perto da Terra enquanto voa em direção ao Sol. Espera-se que, conforme esse encontro vá se aproximando, o objeto fique mais brilhante, tornando-se relativamente fácil de ser visto com pequenos telescópios ou binóculos de qualidade.
Por enquanto, ele é visível apenas com telescópios médios e grandes, mas há esperança de que sua luminosidade aumente o suficiente para que possa ser visto a olho nu – para quem tiver a sorte de ter acesso a céus escuros e sem poluição luminosa.
Trata-se do cometa C/2025 A6 (Lemmon), identificado pelo astrônomo David Fuls, diretor do Catalina Sky Survey (CSS), em 3 de janeiro, usando um telescópio do Observatório Mount Lemmon, localizado a nordeste de Tucson, nos EUA. O CSS é um projeto da Universidade do Arizona, dedicado à busca de objetos próximos da Terra (NEOs, na sigla em inglês).

Por que o cometa tem esse nome
O cometa foi catalogado como C/2025 A6 (Lemmon). A designação oficial dos cometas segue regras definidas pela União Astronômica Internacional (IAU). Cada parte do nome traz informações específicas:
- C/: indica que este é um cometa não periódico (período maior que 200 anos ou sem órbita bem definida);
- 2025: ano da descoberta do cometa;
- A: quinzena da descoberta (sendo A = primeira quinzena de janeiro, B = segunda quinzena de janeiro, C = primeira quinzena de fevereiro e assim por diante);
- 6: número sequencial do cometa descoberto naquela quinzena – neste caso, foi o 6º registrado na primeira quinzena de janeiro);
- (Lemmon): nome do observatório, telescópio ou pessoa/grupo responsável pela descoberta.
O Mount Lemmon Survey (MLS), parte do CSS, varre continuamente o céu em busca de NEOs (asteroides e cometas), cujas órbitas podem aproximá-los do Sol e da Terra. Embora a maioria das descobertas seja de asteroides (mais de 50 mil até o momento), ocasionalmente o MLS identifica cometas, como ocorreu com o Lemmon.
Objeto se aproxima da Terra no mês que vem
Inicialmente, esse objeto foi confundido com um asteroide, aparecendo como um ponto de luz extremamente fraco, com magnitude +21,5, um milhão de vezes mais tênue que a estrela mais fraca visível a olho nu. Imagens posteriores, no entanto, revelaram que se tratava de um cometa.
Syuichi Nakano, do Escritório Central de Telegramas Astronômicos (CBAT), calculou a órbita do Lemmon com base em 117 observações realizadas entre 12 de novembro de 2024 e 14 de agosto de 2025.
Segundo esses cálculos, o cometa atingirá o periélio, o ponto mais próximo do Sol, em 8 de novembro, a 79,25 milhões de km. Antes, ele passará pelo ponto mais próximo da Terra, chamado perigeu, em 20 de outubro, a 89,16 milhões de km do planeta.
Quando está no extremo oposto de sua órbita, o afélio, o cometa Lemmon fica a 36,3 bilhões de quilômetros do Sol. Dessa forma, seu período orbital é estimado em cerca de 1.350 anos. Uma passagem próxima a Júpiter feita em 16 de abril de 2025, no entanto, reduziu parte de sua energia orbital, encurtando o período em aproximadamente 200 anos.

Lemmon é um cometa brilhante em meio aos comuns
Os cometas são formados principalmente por gases congelados e poeira. Quando se aproximam do Sol, esses gases aquecem e começam a brilhar, formando a chamada coma. Conforme o aquecimento continua, partículas de poeira do núcleo são liberadas e arrastadas pelo vento solar, criando a cauda. Observadores na antiguidade, ao verem essa combinação de núcleo brilhante e longa cauda, comparavam o fenômeno a uma cabeça com cabelos, chamando-os de “estrelas peludas”.
Cometas podem ser classificados em dois tipos: brilhantes, que são visíveis a olho nu e aparecem algumas vezes por década, e comuns, detectáveis apenas com binóculos ou telescópios. O Lemmon atualmente se enquadra na categoria comum, mas pode se tornar temporariamente brilhante.
Várias previsões foram feitas sobre o brilho desse cometa. Especialistas como Seiichi Yoshida, do Japão, e Gideon Van Buitenen, da Holanda, estimam que ele possa atingir magnitude entre +4 e +5 no início de outubro, tornando-se visível a olho nu em locais de céu escuro, sem poluição luminosa. Estimativas mais conservadoras, como as de Daniel W. E. Green, do CBAT, apontam magnitude +7, o que exigiria bons binóculos.

Brasil não terá uma visão tão satisfatória
Atualmente, o C/2025 A6 (Lemmon) é um objeto matutino, localizado próximo à constelação de Lince. De acordo com Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital, a visibilidade desse corpo celeste será muito complicada aqui no Brasil.
“A órbita do cometa desfavorece todo o Hemisfério Sul, onde ele aparece muito baixo no horizonte durante quase toda sua aproximação”, explica Zurita. “O melhor momento para vê-lo por aqui será na primeira quinzena de novembro, quando ele deve aparecer baixo no horizonte no início da noite. Entretanto, como ele não deve atingir uma luminosidade muito elevada, sua visibilidade deve ser complicada em meio ao crepúsculo durante sua fase mais brilhante”.
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Capturas recentes mostram que o cometa apresenta uma coloração esverdeada, provavelmente causada por uma molécula chamada dicarbonato, formada por dois átomos de carbono. Esse efeito químico ocorre principalmente na coma, e não na cauda. Os cometas podem formar dois tipos de cauda: uma de gás e outra de poeira. As caudas de poeira refletem melhor a luz solar e, por isso, aparecem mais brilhantes e impressionantes, enquanto as de gás são mais tênues e discretas.
É preciso ressaltar que cometas são imprevisíveis e podem surpreender, aumentando ou diminuindo de brilho de forma inesperada. Cada passagem é uma oportunidade rara de acompanhar corpos que viajam há séculos pelo Sistema Solar, fornecendo pistas sobre sua formação e composição.
Embora para o Hemisfério Sul, o cometa Lemmon seja mais difícil de observar, outubro e novembro oferecem uma excelente janela de visibilidade para o Hemisfério Norte, quando ele se aproxima da Terra e do periélio.
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