Às 10h43 (ET) de 11 de julho de 2025, um “flash” na tela da Nasdaq cravou o que parecia inalcançável: a NVIDIA ultrapassou US$ 4 TRILHÕES em valor de mercado — façanha inédita para uma companhia de capital aberto. Em minutos o papel recuou, mas o estrago psicológico (eufórico ou apavorante, depende do lado do balcão) já estava feito: a fabricante de GPUs vale, sozinha, mais que todo o mercado acionário do Reino Unido e quase o dobro do PIB brasileiro.
Isso não é apenas número de manchete; é o reflexo de um monopólio de fato sobre o cérebro da Revolução da IA. Estima-se que 9 em cada 10 data centers de alto desempenho rodem nos chips da companhia — e, pior para quem depende deles, a fila de espera para o próximo lote Blackwell Ultra só cresce. É como se, no auge da Era do Petróleo, existisse um único poço abastecendo o planeta inteiro.
A dependência é tamanha que até as Big Tech — repletas de engenheiros e caixa — se comportam como clientes cativos. Microsoft, Google e Meta correm para desenhar silício próprio (Azure Maia, TPU v6, MTIA) enquanto colocam pedidos bilionários na NVIDIA, numa contraditória mistura de “quero independência, mas não solto sua mão agora”. AMD acelera com a linha MI300; Intel tenta ressuscitar relevância via Gaudi-3; e startups como Cerebras, Graphcore e Tenstorrent atacam nichos ultraparalelos. Todos esbarram no mesmo gargalo: ecossistema. Nada hoje replica o combo hardware + CUDA + bibliotecas que a NVIDIA cultivou por 15 anos.
Mas a história ensina que monopólios tecnológicos raramente duram indefinidamente. Quando a IBM parecia imbatível, vieram Microsoft e Intel; quando o Windows dominava, chegaram iOS e Android. O alvo de US$ 5 tri ficou mais próximo, porém a aritmética fica cada vez mais dura: se a curva de adoção de IA desacelerar — ou se novos modelos rodarem bem em chips alternativos — o múltiplo de 30-e-tantas vezes lucro pode virar calo em Wall Street tão rápido quanto ele inchou.
Meu palpite? A NVIDIA ainda nada de braçada em 2025–26, mas a fissura já está aberta: hyperscalers vão priorizar ASICs proprietários e, no médio prazo, a vantagem de 90% de market share começa a erodir. Para quem investe (ou constrói produto em cima), diversificar dependência de GPU deixou de ser prudência e virou questão existencial.