Como as novas tecnologias estão moldando o futuro dos carros conectados e elétricos

O que nasce nas pistas pode transformar o seu carro amanhã. E se você ainda não me conhece, o “Japa” aqui vive no meio de carros, motos, trilhas, pistas de todos os tipos. Sou um cara apaixonado por esse mundo. E pra entender melhor o nosso futuro, fui trocar ideia com quem vive de perto o universo da velocidade, das concessionárias e da indústria automotiva, pra descobrir o que vem por aí.

O ambiente de competição é um verdadeiro laboratório. É lá que surgem tecnologias que, em poucos anos, podem aparecer no carro que você dirige todos os dias. Tô falando de freios regenerativos, controle de tração inteligente, telemetria em tempo real, materiais mais leves e resistentes… tudo isso começa no circuito e, com o tempo, encontra o caminho da sua garagem.

Mas o que realmente vale a pena migrar das pistas para o asfalto da cidade? Como o mercado e a indústria estão se preparando pra isso? Eu, que vivo cercado por carros, dos antigos aos mais novos, sempre me pego pensando: qual vai ser o próximo grande passo?

Para ajudar a responder essas perguntas, troquei ideia com três pessoas que vivem o mercado automobilístico de perto, mas com olhares bem diferentes: um piloto, uma especialista em marketing automotivo e uma empreendedora que respira os bastidores da indústria.

E olha… se você, leitor do TecMundo, curte tecnologia, velocidade e aquele cheirinho de novidade chegando, pode continuar com a leitura. Essa viagem do autódromo até a sua garagem vai te surpreender.

Iago Garcia: da pista pro mundo real.

Piloto e criador de conteúdo, Iago Garcia tem no currículo a vitória na F1600 Brasil Light em 2019 e, mais recentemente, participou do Porsche Cup Brasil Endurance Challenge 2024. Com a vivência prática de quem vive dentro do carro e a cabeça de quem compartilha conhecimento, Iago trouxe insights direto da pista.

Quando você está competindo, qual é a tecnologia que mais te impressiona hoje — aquela que muda completamente a forma de guiar?

“O que mais me impressiona é como os modos de condução e mapas de motor mudam o carro instantaneamente. No GT3 Cup, basta alterar um mapa para o acelerador responder de outro jeito, o controle de tração atuar com mais liberdade e o carro ganhar ou perder agressividade.

Essa mudança é imediata e o mesmo carro pode se comportar como um animal completamente diferente na mesma volta. É quase como ter vários carros em um só, e isso redefine o papel do piloto, para saber em qual momento da prova e da volta extrair mais de cada ponto forte do carro e da adaptabilidade dos sistemas eletrônicos.”

Muita coisa que nasce no ambiente de competição acaba chegando aos carros de rua. Na sua visão, o que está mais perto de fazer essa transição agora?

O brake-by-wire deve começar a aparecer com mais frequência em novos carros. Ele já é usado na Fórmula 1 e em protótipos de endurance, e substitui o sistema hidráulico por controle eletrônico, no qual o carro decide quanto freio mecânico e quanto freio regenerativo aplicar.

Isso aumenta a precisão, consistência e eficiência, algo essencial para elétricos e híbridos. Em um horizonte mais longo, o próximo passo é o steer-by-wire, que elimina a ligação física entre volante e rodas, permitindo respostas ajustáveis e personalização real da experiência de direção.

Se você pudesse escolher uma tecnologia de corrida pra colocar em qualquer carro de rua, qual seria e por quê?

Eu traria a telemetria de forma acessível e responsiva, como um “smartwatch” do carro. Hoje esses dispositivos nos dizem quando levantar, beber água, relaxar e até se exercitar.

Na pista, cada volta gera dados que ajudam a entender onde dá para ser mais rápido, mais constante e mais eficiente. Se isso chegasse à rua, o motorista poderia acompanhar como dirigir e usar essas informações para extrair mais do carro, economizar combustível e reduzir desgaste.

Seria uma forma de unir aprendizado, eficiência e prazer de guiar. No fim, a tecnologia serve para criar uma relação mais consciente entre pessoa e máquina.

E aí, leitor… você também acha que o carro devia te ajudar a dirigir melhor em vez de só tocar musiquinha no Bluetooth?

Priscilla Freitas Monteiro: a revolução que começa na linha de produção.

À frente da LUZA Academy, Priscila acompanha o desenvolvimento de novas tecnologias nas fábricas e na formação de profissionais que vão tocar o futuro da indústria automotiva. E ela trouxe um panorama direto da fonte.

A Luza acompanha o desenvolvimento da indústria de dentro. Quais são as tecnologias que estão ganhando espaço nas linhas de produção e que o público ainda nem ouviu falar?

“A tecnologia embarcada nos automóveis tem impulsionado um avanço constante em inovação. A transição da carburação para a injeção eletrônica foi um divisor de águas: carros ficaram mais econômicos, limpos e inteligentes. Hoje, o salto é ainda maior.

Atualmente, as atualizações e funcionalidades via software (OTA — Over The Air) permitem que os proprietários realizem diagnósticos, correções e até a aquisição de novas funções simplesmente conectando o veículo a uma rede de dados (internet), sem necessidade de intervenção física em uma oficina.

Um dos grandes desafios dessa nova era é a segurança na troca de informações. A cibersegurança chegou definitivamente aos automóveis, trazendo consigo normatizações específicas e a necessidade contínua de aprimoramento para garantir a integridade dos sistemas e a proteção dos usuários.

Essa tecnologia também possibilita que os veículos sejam customizados ainda na linha de produção, de acordo com as configurações e preferências pré-estabelecidas pela marca, tornando o processo de fabricação mais flexível e orientado à experiência do usuário.”

A eletrificação e a digitalização estão mudando o perfil dos profissionais da indústria. Como vocês estão preparando essa nova geração?

“Estamos preparando essa nova geração por meio de uma formação multidisciplinar através de nossos programas de formação da Luza Academy, que une bases sólidas de eletrônica, programação e automação com vivências práticas e contextualizadas, próximas da realidade das indústrias 4.0 e automotiva.

Além disso, incentivamos a mentalidade investigativa e empreendedora, pois acreditamos que o profissional do futuro precisará aprender continuamente, resolver problemas complexos e adaptar-se rapidamente às novas tecnologias.

Em resumo, nosso foco não é apenas ensinar ferramentas, mas formar pessoas capazes de construir soluções conectando a teoria à prática e a tecnologia à inovação.”

Se você tivesse que apostar em uma grande virada tecnológica para os próximos anos na indústria automotiva, qual seria?

“Se eu tivesse que apostar hoje numa virada tecnológica grande na indústria automotiva, diria que vai estar em veículos cada vez mais definidos por software, com autonomia dinâmica, funcionalidades sob demanda, segurança reforçada e personalização constante.

Por exemplo: em setembro de 2017, quando o furacão Irma se aproximava da Flórida, a Tesla enviou uma atualização remota (OTA) que havia veículos dos modelos Model S e Model X com bateria de 75 kWh, mas limitadas via software para versões com capacidade de 60 kWh. A Tesla temporariamente desbloqueou essa capacidade extra para donos nos caminhos de evacuação do furacão, permitindo percorrer de 48 a 64 quilômetros a mais com uma carga, só com uma mudança de software, nada de trocar hardware.

Também durante o furacão Michael, em outubro de 2018, algo semelhante: Tesla estendeu remotamente a autonomia de carros para ajudar os proprietários a saírem da zona afetada, aproveitando que os carros já tinham baterias fisicamente maiores que a capacidade ativa em software.

Esse tipo de ação mostra bem a virada que eu imagino: O veículo como plataforma flexível, você pode mudar capacidade, funcionalidades, alcance, tudo via software, conforme condições externas ou necessidades do usuário.

Alta importância de resposta em situações de emergência, regulatórias e climáticas. 
E claro, tudo isso reforça a necessidade de tecnologia embarcada bem desenhada, segurança digital (cibersegurança), confiabilidade e transparência para o usuário.

Já imaginou o carro ganhando superpoderes no meio da viagem, sem nem encostar em uma oficina? Pois é…”

Desirée Castro: o que o consumidor quer ver.

Desirée é gerente de marketing da Automob (o maior grupo de concessionárias do Brasil), marca do grupo SIMPAR, e especialista no setor automotivo. Com 8 anos de experiência na área e atuação em mais de 20 marcas do setor, ela acompanha de perto as transformações no comportamento de quem compra carro e como as montadoras estão se conectando, cada vez mais, com tecnologia, inovação e desejo.

Nos últimos anos, muita coisa mudou no jeito como as pessoas escolhem um carro. Quais tecnologias estão realmente mexendo com o desejo do público hoje?

“Mudou muito! Antes, o consumidor olhava apenas para motor, consumo e design. Hoje, quer saber se o carro “conversa” com ele. A tecnologia virou protagonista, e a conectividade é inegociável, indo além de parear o celular. Falo de sistemas como Android Auto sem fio, Apple CarPlay, Wi-Fi embarcado e até assistentes de voz integrados, como o ChatGPT na linha DS Automobiles, já em testes na Europa.

Outro ponto que mexe com o coração (e o bolso) do consumidor é a eletrificação. Carros elétricos e híbridos, que oferecem economia, conforto e bom desempenho, já são realidade e estão cada vez mais acessíveis.

E não podemos esquecer da segurança. Tecnologias como frenagem automática, assistente de permanência em faixa, piloto automático adaptativo e sensor de sonolência, antes restritas a modelos premium, agora estão presentes em SUVs compactos, mudando a percepção de valor.”

De todas as inovações que chegam às concessionárias, quais você sente que viram argumentos de venda real — e quais ainda estão no campo da curiosidade?

“Ótima pergunta! O que vira argumento de venda é aquilo que o cliente entende e percebe valor imediato, refletindo na usabilidade ou conforto. Exemplo: Wallbox grátis na compra de um elétrico é um grande diferencial, ainda mais quando é portátil. É tangível, resolve uma dor e mostra que a marca pensou na jornada completa do cliente.

Já no campo da curiosidade, entram recursos como realidade aumentada no showroom ou test-drive virtual. São interessantes, geram buzz, mas não decidem a compra. O cliente quer tocar, sentir, dirigir. A tecnologia precisa ser útil, não apenas “bonita” ou “divertida”. Essas novidades reforçam posicionamento de marca, mas não são determinantes.”

Pensando em futuro, o que você acredita que ainda vai transformar o relacionamento entre marca, tecnologia e cliente dentro das lojas?

“Definitivamente serão as experiências personalizadas e integradas. Imagine entrar na concessionária e o vendedor já conhecer seu histórico de busca, interesses e estilo de vida, tudo com privacidade garantida. A inteligência artificial vai viabilizar isso!

Além disso, as lojas estão se tornando espaços de convivência: locais para reuniões, atividades físicas ou lazer, como jogos, boliche. Volvo, BMW e Toyota já oferecem essas estruturas. Comprar o carro é básico; o diferencial está na experiência.

Outro ponto é o phygital, a integração entre físico e digital. Lojas conceito como BYD House e GWM Experience Store permitem interação com telas, simulação de configurações e análise do impacto ambiental do carro, tudo de forma imersiva.

E não podemos esquecer do pós-venda inteligente: aplicativos que avisam sobre manutenção, agendam serviços e oferecem benefícios personalizados. Isso fideliza. O cliente quer praticidade, não burocracia.

No fim, o carro virou extensão do estilo de vida. Marcas que entenderem isso vão criar fãs, não apenas clientes. Contatos funcionais, úteis e objetivos já são critérios determinantes para a compra.”

Dá pra concluir que o carro vai conviver com você de forma cada vez mais orgânica, quase como se o seu Tesla tivesse assistido Black Mirror e começado a pensar sozinho.

Já reparou como nos filmes cyberpunk, tipo Upgrade ou Blade Runner 2049, o carro é quase um personagem? Ele está se tornando uma plataforma viva, conectada, inteligente e moldável. Um organismo em constante atualização.

Cada componente, cada linha de código, cada decisão tomada na fábrica ou nas pistas está sendo somada às escolhas que o sistema interpreta no seu dia a dia, em tempo real. Tudo isso está empurrando a tecnologia automotiva para um novo patamar, onde cada ajuste pode ser feito via software, sem que você precise configurar nada ou levantar o capô. E isso muda tudo.

Hoje, o consumidor quer um carro que faça parte da rotina: que fale com o celular, avise sobre o trânsito, marque revisão sozinho e converse com os seus outros gadgets. E mais, que tenha um pós-venda que realmente conheça o histórico do seu carro. E não tô falando daquela empresinha que automatiza WhatsApp pra te empurrar oferta com base no modelo. Tô falando de um pós-venda que consome dados reais, entende o seu jeito de dirigir, o uso do carro, e te sugere melhorias para melhorar a sua rotina.

Não necessariamente em compras, mas em configurações e otimizações de verdade. Se antes o carro era símbolo de status, agora ele é extensão do seu estilo de vida, tipo aquele amigo nerd que tem sempre formas mais inteligentes de usar as coisas, isso é muito bacana. A marca que entender isso vai parar de vender carro… e começar a vender capítulos novos na vida do cliente. E isso, meu amigo, vale ouro.

A forma como dirigimos, compramos e até nos relacionamos com os veículos está passando por uma transformação silenciosa, mas profunda. Os automóveis, sejam modelos híbridos, carros elétricos ou até versões mais tradicionais, estão evoluindo o tempo todo.

Num mundo onde tudo é digital, o veículo vira um serviço, uma peça estratégica no ecossistema dos seus gadgets conectados. A pergunta agora não é mais “como será o carro do futuro?” A pergunta é: “o que mais ele vai ser capaz de fazer amanhã?” E essa resposta, a gente vai descobrir… no próximo update. 
 

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