O plástico é um dos materiais mais versáteis e está presente em todas as esferas da vida humana, compõe itens de higiene, está na cozinha, no escritório e em veículos de transporte. Tido como uma revolução no início, agora ele se torna motivo de preocupação e está espalhado em toda parte – até dentro do corpo humano.
O plástico sintético foi criado em 1862 pelo químico inglês Alexander Parkes. De lá pra cá, surgiram outras formulações que aprimoraram esse material, tornando-o totalmente sintético.
Para se ter uma ideia da popularização do plástico nas últimas décadas, em 1950 o mundo produzia apenas 2 milhões de toneladas, agora a produção de plástico gira em torno de 450 milhões de toneladas.
Outro dado alarmante é que apenas 9% de todo plástico produzido no mundo é reciclado atualmente. Sendo assim, criar estratégias para decomposição mais rápida desse material virou uma emergência global.
Leia mais:
- As 10 bactérias mais resistentes do mundo – e por que são tão perigosas
- Cientistas criam plástico que se dissolve na água
- ‘Plástico vivo’ 100% biodegradável é feito de bactérias
Como micróbios podem ajudar a diminuir o plástico no planeta?
Uma vez que os sistemas tradicionais de gestão de resíduos estão deixando a desejar, vários cientistas estão de olho na natureza em busca de soluções mais eficazes para lidar com a questão do lixo plástico.
Um caminho estudado há anos é a degradação microbiana. Ou seja, utilizar as habilidades intrínsecas de certas bactérias e fungos para decompor plásticos de formas que as tecnologias atuais não têm conseguido com sucesso.
Isto é possível porque alguns micróbios usam o plástico como fonte de alimento. Neste processo, eles produzem enzimas específicas capazes de quebrar longas cadeias de moléculas ricas em carbono que compõem a estrutura de muitos materiais plásticos.
Ao longo do tempo, cientistas se concentraram em ambientes extremamente poluídos – como aterros sanitários e solos contaminados – para encontrar os micróbios degradadores. Foi assim que descobriram numa instalação de reciclagem de garrafas plásticas no Japão a Ideonella sakaiensis.
Ao utilizar os resíduos como alimento, esse micróbio é capaz de degradar completamente o polietileno tereftalato (PET), o plástico mais recrutado na composição de garrafas e em embalagens de diversos produtos.
Mas, ao contrário do que se pensa, os micróbios que degradam os plásticos não desenvolveram essa habilidade em resposta à poluição. Cientistas estão descobrindo que o potencial de alguns micróbios em se alimentar de plástico é muito anterior à criação do próprio plástico.
Muitos micróbios já têm o hábito de decompor polímeros naturais como a celulose, que é composta de fibras vegetais, a quitina, encontrada em insetos e fungos, e a cutina, presente na superfície das folhas. Essas substâncias naturais possuem semelhanças químicas com os plásticos sintéticos.
Essa ideia foi o ponto de partida de um estudo publicado na revista Polymer Degradation and Stability. Os autores do estudo descobriram duas bactérias – a Gordonia e Arthrobacter – em ambientes não poluídos ricos em polímeros naturais.
Elas foram capazes de degradar o polipropileno e o poliestireno em quase 23% e 19,5%, respectivamente, em 28 dias. Não houve nenhum pré-tratamento dessas substâncias por parte dos cientistas – o que em muitos estudos geralmente é necessário para tornar os plásticos mais atrativos ao ataque microbiano.
Embora os números possam parecer pequenos, eles estão entre as taxas de biodegradação mais altas já registradas para esses plásticos. Outro ponto importante é que esses micróbios degradadores não estão apenas em locais poluídos, mas podem ser encontrados em qualquer lugar.
Esse estudo vai ao encontro com outra pesquisa que analisou a Galleria mellonella, também conhecida como os vermes de cera que podem se alimentar de sacolas plásticas.
Historicamente, eles costumam viver em colmeias e se alimentam de favos de mel. E justamente pelo fato de os favos de mel serem semelhantes ao polietileno, é que os vermes de cera tornam-se potenciais candidatos a degradar a matéria plástica.
O post Como micróbios podem ajudar a diminuir o plástico no planeta? apareceu primeiro em Olhar Digital.