Como o cérebro reage a idiomas que não conhecemos?

Quando ouvimos alguém falando outra língua, tudo pode soar confuso e sem sentido. Agora, pesquisadores da UCSF descobriram por que isso acontece.

Dois novos estudos revelam como o cérebro aprende a identificar onde uma palavra termina e a próxima começa — e porque esse processo só funciona bem em idiomas que já dominamos, explica o MedicalXpress.

Estudos revelam como o cérebro separa palavras na língua nativa, mas falha ao ouvir idiomas desconhecidos. Reprodução/@Drobotdean/Freepik

O que acontece no cérebro quando ouvimos outra língua

Mesmo que pareça natural separar mentalmente as palavras de um idioma conhecido, essa percepção não tem relação com pausas na fala — que quase não existem. O que realmente divide as “palavras” na nossa mente é um aprendizado longo, consolidado ao longo de anos.

Durante muito tempo, acreditou-se que essa habilidade vinha de regiões do cérebro associadas à interpretação do significado. Mas os novos estudos apontam para outro protagonista: o giro temporal superior (GTS), uma área famosa por processar sons básicos, como vogais e consoantes.

A novidade é que essa região faz ainda mais.

Segundo os pesquisadores, o GTS abriga neurônios capazes de aprender padrões sonoros ao longo da vida. Isso permite ao cérebro reconhecer automaticamente o início e o fim das palavras na língua nativa — algo que simplesmente não acontece quando ouvimos um idioma desconhecido.

Esse achado mostra que o STG não apenas detecta sons, mas também usa a experiência acumulada para identificar palavras enquanto elas estão sendo pronunciadas.

Edward Chang, chefe de Neurologia e líder dos estudos, em comunicado.

A pesquisa revela como a experiência e o aprendizado sonoro ajudam o cérebro a decodificar palavras enquanto são pronunciadas. Ilustração: Melissa / Shutterstock

Como o cérebro reage a idiomas que conhecemos ou não

Em um dos estudos, publicado na Nature, voluntários em monitoramento para epilepsia ouviram frases em inglês, espanhol e mandarim — algumas em línguas que conheciam, outras não.

A resposta cerebral foi nítida:

  • em idiomas conhecidosneurônios especializados se ativavam imediatamente;
  • em idiomas desconhecidos → praticamente nenhuma ativação significativa ocorria.

Para entender esse padrão, os cientistas recorreram a modelos de aprendizado de máquina e identificaram uma relação direta entre familiaridade linguística e atividade neuronal.

“Isso explica um pouco da mágica que nos permite entender o que alguém está dizendo”, explica Ilina Bhaya-Grosmman, primeira autora do estudo.

A “reinicialização” que o cérebro faz palavra por palavra

O segundo estudo, publicado na Neuron, investigou como esses neurônios especializados conseguem acompanhar o ritmo rápido da fala — afinal, falantes fluentes articulam várias palavras por segundo.

A resposta surpreendeu os pesquisadores: o cérebro se reorganiza quase instantaneamente a cada nova palavra, retomando a “leitura” do zero.

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É como se, ao reconhecer uma palavra, ele fizesse uma pequena reinicialização e se preparasse para a próxima.

Matthew Leonard, professor associado de neurocirurgia e coautor principal do estudo, em comunicado.

Essa descoberta ajuda a explicar por que lesões em determinadas regiões podem comprometer a compreensão da fala, mesmo quando a audição está intacta. Como observou Chang, compreender de fato exige que esse circuito especializado funcione plenamente.

Entender idiomas estrangeiros exige familiaridade auditiva; a percepção sonora se constrói com prática e exposição. Imagem: Shutterstock/Vitalii Vodolazskyi

Por que isso importa para quem aprende idiomas?

Os estudos mostram que entender uma língua estrangeira não depende apenas de vocabulário ou gramática. O cérebro precisa, antes de tudo, adquirir familiaridade com seus padrões sonoros — algo que leva tempo.

Aqui estão alguns pontos importantes para quem estuda outro idioma:

  • o cérebro só separa palavras quando reconhece padrões sonoros;
  • a ativação neuronal não ocorre em línguas desconhecidas;
  • a “reinicialização” a cada palavra facilita a compreensão rápida;
  • a percepção auditiva melhora com exposição contínua;
  • o aprendizado envolve anos de experiência, não apenas memorização.

No fim, esses achados ajudam a explicar por que, no começo, ouvir outra língua parece um grande borrão: o cérebro ainda não sabe onde uma palavra termina e outra começa.

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